Por dentro dos protestos dos últimos dias

Por dentro dos protestos dos últimos dias
Foto: Brenda E. Wachholz

Thursday, 03 November 2022

Entenda motivações, consequências, nomes de destaque e peculiaridades da nossa região.

Desde a vitória do ex-presidente Luís Inácio ‘Lula’ da Silva (PT) no domingo (30/10), milhares de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) foram às ruas em protesto. Alguns não reconhecem os resultados das urnas e outros pedem intervenção militar.

Centenas – talvez milhares – de caminhoneiros fecharam rodovias em todo território nacional, gerando transtorno em vários lugares. Em contrapartida, torcidas organizadas se uniram para ‘furar’ tais bloqueios. Independente de quem vencesse o pleito do final de semana, eram esperados tumultos. O país nunca antes esteve tão dividido.

Os caminhoneiros

Por mais que seu questionamento seja legítimo – e eles não aceitem ser governados por alguém que esteve preso por corrupção – a prática de fechamento de rodovias gera grande transtorno e não pode ser incentivada de forma alguma.

No passado eles já provocaram enormes perdas à sociedade ao lutar por causa própria, como era o caso do preço de pedágios ou fretes. Não é justo que todos paguem pelas benesses de uma categoria.

A verdade é que se não houver uma forma – burocraticamente bem definida e pragmaticamente eficaz – de impedir novos episódios, todos ficaremos reféns de apenas um grupo de pessoas. Na prática será exatamente igual a todos os governos de esquerda tão criticados: todos pagando pelos privilégios de uma ‘classe’ grevista.

O positivo e o negativo dessas manifestações

Grosso modo, o primeiro dano é o desabastecimento, logicamente. Nosso país é dependente do transporte rodoviário porque nenhum governante foi competente o bastante para investir em outras opções logísticas como ferrovias e hidrovias. Faltar alimentos nos mercados, remédios nas farmácias e combustíveis nos postos é sempre o primeiro efeito.

Politicamente, isso relembra ao presidente Lula uma verdade incômoda: ele é o presidente-eleito mais impopular da história do país. Foi pouco mais de 1% de diferença entre os colocados. Uma parcela muito considerável de seu eleitorado não votou nele, mas sim votou contra seu adversário. Isso significa que qualquer deslize que cometa pode colocá-lo em profundos problemas eleitorais.

Piorando a situação, seu vice é uma figura pública oportunista que se notabilizou como seu aniversário no passado. Boa parte da receita para um impeachment já está à mesa aguardando um erro seu.

As manifestações feitas da forma correta

Ninguém gosta de grevistas. As pessoas não serão simpáticas à sua causa se o seu protesto prejudicar suas vidas. Sempre foi assim e sempre vai ser. Fechar estradas é um movimento egoísta, pouco inteligente e desesperado. Só em Santa Catarina são 28 bloqueios até o momento.

Mas os movimentos em praças, igrejas e em frente a quartéis são legítimos. Alguns pedem intervenção militar enquanto outros pedem a separação do país (já separado, na prática) enquanto autoridades condenam tais discursos. Mas, ora, se tantas pessoas desejam – e, se vivemos em uma República (haja visto que  Democracia é apenas um conceito) não deveríamos discutir os anseios de parcela tão grande da população? A quem exatamente não interessa tal discussão? Deliberar sobre não é o cerne de ser uma República?

Ontem o presidente Bolsonaro se pronunciou pedindo para que as rodovias sejam desbloqueadas, porém apoiando as manifestações pacíficas nas ruas. Aos poucos os manifestantes vão mudando suas ações. Espera-se que haja grandes protestos durante o final de semana e que Lula não encontre ruas pacificadas em seu novo mandato.

Na região

Neste feriado de Finados (02/11) centenas de pessoas – talvez milhares – se reuniram em frente ao 23º Batalhão de Infantaria de Blumenau na Rua Amazonas (Garcia) bradando em uníssono contra a eleição do ex-presidente Lula.

Nesses protestos, uma liderança que mereceu grande destaque foi o vereador Almir Vieira (PP). Sargento do Exército veterano de Angola e herói condecorado, ele esteve no carro de som falando com a multidão durante o evento.  Em um momento de desamparo onde enorme massa de eleitores desnorteada carece de um líder, Almir desponta como o mais apto nome para o posto.

E, conhecendo seu histórico de honradez em compromissos e pautas assumidas, ele parece prometer ser o representante que a comunidade tanto tem conclamado.

Daqui para frente

 A transição de governo promete ser tortuosa. Lula, até agora, foi evasivo em relação à sua equipe e muitos dos nomes que revelou são de pessoas cuja imagem pública está comprometida.

Até a passagem da faixa muita coisa ainda deve acontecer e movimentos do sudeste afirmam estar preparando grandes manifestações contrárias ao presidente petista logo em seu começo de governo. Lula é minoria no Congresso e, mesmo tendo setores fisiológicos da mídia e parte do Judiciário ao seu lado, deverá fazer um governo desidratado e com grande resistência popular.

Agora resta esperar para entender quais serão os próximos desdobramentos desse jogo onde ninguém parece ganhar.


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Ricardo Latorre

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