Câmara pede retirada de homenagem a Lula... isto está certo?
Foto: O Gambá de BlumenauThursday, 20 July 2017
Remover o momento, mesmo que com o ex-presidente sendo um réu condenado, implica em diversas outras questões que devem ser consideradas antes que a prefeitura de fato tome uma decisão.
Na semana passada o vereador Ricardo Alba (PP) apresentou um projeto, com a co-autoria do presidente da Casa Marcos da Rosa (DEM) e de seu colega de partido Almir Vieira que propõe mandar que a prefeitura retire o monumento erguido em homenagem ao ex-presidente Luís Inácio ‘Lula’ da Silva (PT) da praça em frente à Fundação Cultural.
A origem do projeto seria o fato de Lula ter sido condenado a nove anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro por conta do tríplex que supostamente teria sido usado para pagar dívidas de vantagens indevidas concedidas por ele enquanto ainda na Presidência da República.
Alba tem se destacado por bons projetos e Rosa sempre foi um parlamentar comedido.
O projeto foi aprovado pela Câmara com oito votos favoráveis – dos vereadores Alexandre Caminha (PROS), Alexandre Mathias (PSDB), Almir Vieira (PP), Jens Mantau (PSDB), Oldemar Becker (DEM), Ricardo Alba (PP), Sylvio Zimmermann (PSDB) e Zeca Bombeiro (SD) – quatro votos contrários – de Adriano Pereira (PT),Bruno Cunha (PSB), Ito de Souza (PR) e Marcelo Lanzarin (PSD) – além da abstenção do vereador Jovino Cardoso Neto (PSD).
Para Alba o monumento não se justifica pois deixa de ser uma homenagem a um ex-presidente e se torna a celebração a um réu condenado.
O fato é que a remoção da placa – instalada durante o governo do ex-prefeito Décio Lima (PT) por conta de uma visita de Lula à Oktoberfest – tem gerado muita polêmica em toda a imprensa. Em parte levantada por veículos abertamente alinhados à esquerda, mas em parte por profissionais que fazem questionamentos importantes como é o caso dos colunistas do Jornal de Santa Catarina, Pedro Machado e Francisco Fresard (Pancho), que questionam: devemos apagar registros da história da nossa cidade? Talvez a única pergunta realmente inteligente feita em meio ao proselitismo.
Independente do ponto de vista político essa questão levanta pontos importantíssimos, afinal, condenado ou não, Lula foi presidente e esteve na cidade homenageando nossa maior festa. Se irá preso ou cumprirá pena domiciliar (seja no tríplex que ‘não é dele’ ou no sítio que ‘não tem’), nada mudará o fato de que a História já aconteceu.
Então pensemos por outro prisma: Getúlio Vargas foi presidente do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e Blumenau, como grande pólo de imigração germânica, foi fortemente hostilizada pelo Governo Federal naquela época (não sendo raras as histórias de torturas e outros abusos por parte de soldados contra o povo blumenauense).
Nossas ruas – antes de nomes alemães – foram rebatizadas. Algumas das mais tradicionais instituições da cidade também mudaram de nome, como o Schützengesellschaft Blumenau (Sociedade de Atiradores de Blumenau) que teve o nome alterado para Tabajara.
Desta forma e com o intuito de evitar a hipocrisia, se a placa em homenagem a Lula for tirada não seria lógico também remover qualquer monumento público ou local cujo nome faça homenagem a Getúlio, cuja paranóia de guerra fez ver o bom povo de nossa cidade como um ninho de potenciais espiões e, portanto, destratá-los, destruir sua cultura, banir suas tradições e praticamente criminalizar a religião luterana?
E, aprofundando ainda mais a questão, se um dos crimes de Getúlio contra Blumenau foi banir parte da nossa história para o esquecimento não estaríamos nós mesmos o imitando ao remover a homenagem ao líder petista?
E mais tarde, se provada culpa dos blumenauenses citados na Lava-Jato Jean Kuhlmann (PSD), Ana Paula Lima (PT) e o prefeito Napoleão Bernardes (PSDB) vamos também jogar qualquer coisa que eles nos tenham trazido fora? Porque pela lógica o mesmo tratamento deve ser indistintamente aplicado a qualquer condenado.
O movimento ‘Vem Pra Rua’ se manifestou mostrando fotos dos parlamentares que votaram a favor e contra o projeto. Mas Alba não foi ele mesmo um dos organizadores dos movimentos que pediram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT)? Não criticando a cassação dela, uma vez que nitidamente não demonstrava capacidade para o cargo, mas sim a isenção dos posicionamentos do movimento em questão.
São pontos que devem, no mínimo, serem contemplados pelo Executivo antes de uma decisão.