Déficit da prefeitura é o primeiro dilema político de Egídio

Friday, 07 February 2025
Situação demonstra a necessidade de amadurecimento político, lealdade, objetividade, gratidão e cuidado com falsas alianças.
No final de janeiro, o prefeito Egídio Ferrari (PL) assinou um decreto para reduzir gastos e manter o equilíbrio financeiro do município, revelando que os cofres públicos municipais terão um déficit de R$ 372 milhões, sendo R$ 54 milhões da Educação e R$ 107 milhões da Saúde.
A alta cifra chamou a atenção das pessoas nas redes sociais, gerando um debate sobre a responsabilidade do governo do ex-prefeito Mário Hildebrandt (PL) no rompo.
Em resposta, Hildebrandt eximiu-se de qualquer responsabilidade, afirmando que não deixou nenhum déficit.
O ex-prefeito afirma que deixou todas as contas pagas e um salto orçamentário de R$ 30 milhões, usando uma matéria jornalística para se amparar e alegando que a própria equipe da atual gestão pública municipal o exime de responsabilidade sobre o tema.
Marcelo Althoff – secretário de Gestão Governamental de Egídio que trabalhou também na gestão Mário – afirmou que a prefeitura investe mais do que o previsto por Lei em Saúde e Educação para manter as unidades em funcionamento, realmente absolvendo Hildebrandt de qualquer culpa.
A verdade é que Educação e Saúde são serviços básicos essenciais, mas que apenas usam grandes quantias de recursos financeiros sem gerar receitas ou qualquer tipo de dividendos. Não há como, por exemplo, terceirizar a finalidade de suas funções. Sendo assim, todo município saudável precisa de outras formas de arrecadação para sustentar seus serviços básicos.
Fato
Ferrari vai ser obrigado a rever contratos, renegociar aditivos e enxugar os gastos. A cada dia que se passa, o relatório do ex-vereador Tuca (Novo) expondo tal desequilíbrio financeiro faz mais sentido.
Em uma cidade crescente – onde o número de usuários de serviços públicos é cada vez maior – é natural que o gasto para mantê-los em funcionamento adequado também aumente progressivamente. Ao perceber isso e divulgar, Ferrari demonstra estar atento e ser transparente, mas também gera uma incômoda pergunta a Hildebrandt: ele não percebeu que isso aconteceria? Ou não se importou em deixar a bomba para seu sucessor desarmar? Foram seis anos à frente da prefeitura.
Hildebrandt, que teve um excelente começo de governo, postergou muitos problemas para quem o sucedesse, criando diversas parcelas, assumindo espaços onerosos e agindo de maneira perdulária em muitas obras pública que pediram aditivos muitas vezes milionários e pouco justificáveis.
Uma questão de experiência e lealdade
Mário Hildebrandt é um nome há muito conhecido na política e sua maior habilidade é reconhecer os caminhos para alçar os patamares que almeja. Já foi 'tripulante' no 'barco' do ex-prefeito João Paulo Kleinübing, do ex-deputado Jean Kuhlmann, do deputado Napoleão Bernardes e, atualmente, mantém aliança com o governador Jorginho Mello (PL).
Egídio Ferrari é jovem na política. Um delegado que punia criminosos e protegia animais, angariando grande simpatia dos eleitores, fazendo uma excelente votação para a Assembléia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) e sendo absolutamente coerente com todas as pautas que o elegeram pelos dois anos em que ficou lá. Ótimos anos... mas apenas dois...
Ao se eximir de culpa, Mário não demonstra deslealdade, mas mostra que é um jogador individual fazendo um jogo que conhece muito bem. Não há mentiras em suas palavras, mas também há um indigesto tom de omissão de responsabilidade solidária.
A presidência de Hildebrandt na Câmara dos Vereadores foi pouco relevante para a comunidade, mas aumentou ainda mais o valor do seu passe para a política local, alçando-o a vice-prefeito e, posteriormente, prefeito.
Uma vez na prefeitura, ele demonstrou gratidão a seu sucessor, Napoleão Bernardes e, ao evitar críticas necessárias quase impossíveis contra aquele que o ajudou a chegar onde chegou, mostrou uma lealdade formidável. Teve um primeiro mandato onde fez mais do que podia com o pouco que tinha e manteve um trabalho de excelência até a metade do seu segundo mandato. Nomeou pessoas políticas e outras técnicas para cargos estratégicos e, até pouco depois do final da pandemia, acertou mais do que errou.
Político experiente, compreendeu que um prefeito não é capaz de fazer nada sem o apoio do Legislativo, mantendo um relacionamento profundamente saudável com a Câmara dos Vereadores. Escolheu Jovino Cardoso (PL) como seu líder de governo e, por todo aquele tempo, Jovino defendeu Mário com unhas, dentes e uma lealdade admirável, entrando para a História da cidade como um dos mais fiéis e aguerridos líderes de governo que um prefeito já teve.
Já Egídio traz uma ótima experiência do Legislativo, mas demonstra ainda precisar aprender como o Executivo funciona. A prefeitura é um ente extremamente intrincado formado por diversas camadas que, por sua vez, são constituídas pessoas com interesses ainda mais complexos.
A prova disso é o impasse sobre a nomeação de uma liderança de governo. A Câmara está rachada entre si. Se não há coesão nem entre eles, a prefeitura não pode se dar o luxo de aguardar. O próprio partido do prefeito está rachado. Não há como “esperar confortavelmente” quando a posição é de total desconforto.
Esse é o momento em que Egídio deve, como o líder que é, assumir uma postura de conciliação entre todos os representantes da cidade. É necessário que ele abandone os maus conselhos que tem ouvido e comece a agir de acordo com seus bons instintos. Por exemplo, não faz sentido ele escantear Jovino Cardoso – que esteve com ele na campanha, apresentou-o em bairros e colocou sua foto em todo o seu material publicitário, sendo retribuído com ostracismo – enquanto considera o inexperiente Flavinho (PL) e Silmara Miguel (PSD), que apoiou seu concorrente no pleito.
A impressão que fica é que, seja lá quem tem aconselhado o prefeito, o tem feito com interesses muito pessoais que pouco (ou nada) têm a ver com o bem-estar público de Blumenau.
Mas, lembrem-se, antes de tudo, Egídio Ferrari é um bom delegado. Ele sabe reconhecer uma cilada!