Lula mente nas redes sociais

Lula mente nas redes sociais
Foto: Divulgação

Monday, 17 February 2025

A alegada intenção do presidente em erradicar discursos mentirosos da internet soa menos verídica do que suicída.

A cruzada de Lula contra a mentira nas redes sociais seria digna de risadas, não fosse a intenção real por trás dessa retórica. A hipocrisia do presidente ao tentar se apresentar como um defensor da verdade escancara um projeto muito maior e mais perigoso do que simplesmente combater desinformação: trata-se de construir um sistema seletivo de repressão, onde a definição do que é mentira dependerá exclusivamente da conveniência política do governo.

Não há surpresa alguma na tentativa de apropriação do conceito de fake news. Lula nunca foi um político preocupado com a veracidade dos fatos. Ele próprio já admitiu, sem o menor constrangimento, que suas narrativas são moldadas conforme a necessidade de mobilização das massas. A mentira, para ele, é apenas um instrumento retórico. Se for necessário exagerar números, omitir informações ou deturpar contextos para justificar medidas populistas ou mesmo falas antissemitas, ele o fará sem hesitação.

O problema real dessa retórica contra a mentira não está apenas na hipocrisia, mas no seu potencial autoritário. Quando um governo decide transformar a inverdade em crime, a questão central deixa de ser o que é dito e passa a ser quem diz. Afinal, todo mundo mente. Crianças mentem. Políticos mentem. O próprio Lula mentiu inúmeras vezes ao longo da sua carreira. Mas quando um líder propõe criminalizar a mentira, ele está criando um mecanismo para punir seletivamente opositores. A questão, portanto, não é mais o conteúdo da fala, mas quem está falando. É assim que regimes autoritários começam a controlar o debate público.

O desvio semântico operado por Lula e sua base aliada é estratégico. Primeiro, eles se apropriam do conceito de fake news, um fenômeno complexo que envolve distorção da realidade com aparência estética de noticiário. Depois, de forma sutil, reduzem essa definição a algo muito mais amplo e subjetivo: a mentira. E a partir do momento em que a mentira se torna um problema de segurança pública, surge a justificativa para a regulação estatal da liberdade de expressão.

Esse é o verdadeiro objetivo da cruzada contra as fake news de Lula: transformar uma questão moral, a mentira, em uma questão jurídica, criando brechas para selecionar quem pode ou não se expressar livremente. Se a mentira passa a ser punível pelo Estado, então a escolha de quem será punido recairá exclusivamente sobre aqueles que estiverem na mira do governo. Isso ocorre porque é impossível punir todas as mentiras, já que todos mentem.

O Brasil já viu versões anteriores desse tipo de estratégia. O discurso oficial prega que a regulação das redes sociais servirá para combater a desinformação e proteger a democracia, mas a prática mostra que a intenção é bem diferente. Quando Lula diz que é necessário regular a internet para impedir a propagação de mentiras, ele está, na realidade, oficializando algo que já acontece de forma extraoficial: a perseguição de vozes incômodas ao poder.

Danilo Gentili já alertou há anos sobre essa dinâmica. O problema nunca foi o que se diz, mas quem diz. E é exatamente isso que está em jogo na batalha pela regulação das redes sociais. A ideia de um governo que se arvora no direito de definir a verdade não apenas fere os princípios democráticos fundamentais, mas abre um precedente perigoso para a censura política institucionalizada.

O perigo dessa manipulação narrativa não pode ser tratado como uma mera bizarrice folclórica. O risco é real e se materializa no momento em que se aceita que o Estado tem o poder de julgar quais discursos são legítimos e quais devem ser silenciados. Se mentir se torna crime, todos passam a ser criminosos em potencial e cabe ao governo decidir quem será punido e quem será perdoado.

No fim das contas, o que Lula busca não é um ambiente mais transparente ou ético no debate público. Seu verdadeiro objetivo parece ser garantir que o único discurso aceito seja aquele que favorece sua narrativa e seu projeto de poder. Se isso não for combatido desde já, o Brasil corre o risco de se tornar um país onde o simples ato de discordar do governo pode ser tratado como crime.


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Redação

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