Gilson propõe divulgação do currículo de comissionados

Wednesday, 26 February 2025
O projeto aumenta o nível dos servidores em cargos de confiança e pode, inclusive, coibir as famosas 'rachadinhas'.
Vamos fazer um exercício de criatividade?
Imaginemos uma pequena cidade chamada São Luís de Itabiboca. Com cerca de 100 mil habitantes, ela fica no interior de qualquer estado brasileiro e é conhecida como um pólo produtor de luvas sem dedo. Essa cidade tem uma câmara com sete vereadores e, entre eles, nosso protagonista: Zé da Lã, de um partido aleatório (PA).
Zé é o maior representante local do Sindicato dos Tosquiadores de Ovelha e, portanto, é de importância vital para os planos do prefeito, que depende de tais trabalhadores no maior setor econômico do município. O vereador – muito experiente e irmão caçula de um deputado muito influente entre os ovinocultores do estado – dá seu apoio... mas não será gratuito.
Na última campanha, diversas pessoas o apoiaram e, de alguma forma, ele precisa agradecer. Uma delas é seu atual chefe de gabinete, João Povão, cuja meta é ser vereador também. E o acordo é Zé se tornar deputado estadual na próxima eleição e apoiar João para vereador.
Já Carlos Coitado – que foi quem gerenciou sua campanha – precisa de um emprego. Com pouco menos que o Ensino Médio concluído, Coitado foi fundamental para a expressiva votação de Zé que, usando sua influência, lhe consegue um cargo. De agora em diante, Carlos Coitado é diretor municipal da Vigilância Sanitária, mesmo tendo estudado só até o Segundo Ano do Ensino Médio e trazendo como única experiência de trabalho seus anos de camelô.
É praticamente impossível que seu desempenho numa pasta tão importante seja bom...
Contudo, percebendo que a manobra passou incólume a críticas, Zé da Lã teve uma idéia ainda melhor: usou seu poder sobre o prefeito para nomear o peão Tião Berranteiro – um analfabeto funcional que só sabe tocar berrante – para um cargo estratégico cujo salário é R$ 20 mil. O ‘preço’ pela nomeação de Tião, será devolver R$ 15 mil do próprio salário para Zé... o que Tião faz com gratidão, pois sabe que alguém com sua pouca qualificação jamais conseguiria receber R$ 5 mil por mês. Sabe o nome disso? Rachadinha. E assim começa...
Dois anos depois – se valendo da pretensão do prefeito de se reeleger e do fato de que o homem é um refém do seu poder sindical – Zé decide ousar: “se Calígula nomeou seu cavalo Incitatus para o Senado, deve funcionar para mim também”. E assim, Zé indica para nomeação a tia da namorada do seu filho – Ana Maria – para uma autarquia num bairro distante que ninguém costuma visitar. Ela ganharia R$ 10 mil por mês e, por conta de um esquema no relógio de ponto, não precisaria ir trabalhar, mas teria que devolver 90% do deu salário para Zé. Ana, dona de casa que estudou só até o Segundo Ano primário, ficou feliz em ganhar R$ 1 mil por mês sem fazer nada. Ela é apenas uma de muitos na sua condição... naquela cidade.
O que Carlos, Tião e Ana têm em comum – além da ligação com Zé – é que eles são cargos comissionados indicados pelo influente vereador sindicalista. A diferença é bem simples:
- Cargo efetivo: precisa passar por concurso público, é estável e tem pré-requisitos;
- Cargo comissionado: indicado por alguma autoridade sem concurso ou pré-requisitos;
- Cargo temporário: contratação emergencial e específica com validade limitada;
A história acima é uma ficção, mas muitas como ela ocorrem em vários lugares do Brasil. E, mesmo quando não envolvem o desvio salarial do nomeado, é extremamente danoso para a comunidade que pessoas sem qualificação exerçam funções de relevância social.
Justamente por isso, a proposta do vereador Gilson de Souza (União) é tão importante.
Nela, o parlamentar sugere que os indicados que estão em cargos comissionados tenham seus currículos acadêmicos e profissionais publicados de forma acessível e disponível por todo o período em que ocuparem os cargos onde estiverem. Assim, desse modo, a população conheceria a real competência dos secretários municipais, diretores e gerentes.
O projeto ainda precisa passar pelas devidas comissões até chegar ao plenário, mas certamente merece atenção, pois foi uma idéia extremamente acertada de Gilson.