Matias critica nova Câmara e Ito responde

Matias critica nova Câmara e Ito responde
Foto: Divulgação

Wednesday, 26 February 2025

Vereador tucano perdeu uma excelente oportunidade de guardar sua opinião para si e evitar constrangimentos.

Na sessão de ontem (25), na Câmara de Vereadores de Blumenau, o vereador Alexandre Matias (PSDB) usou seu espaço na tribuna para defender sua posição sobre manter o imóvel do antigo SOS Vestiba para o uso exclusivo da Secretaria de Educação.

Em sua fala, ele frisou que o prédio foi adquirido pela Educação. Também usou o exemplo da Casa do Autista de Balneário Camboriú como uma boa prática que gostaria de aplicar aqui, justamente naquele prédio.

Pedindo aparte, o presidente do Legislativo, Ito de Souza (PL), questionou a efetividade da gestão de Matias como secretário de Educação e perguntou por quê o tucano usou verba pública para comprar o antigo SOS ao invés de consertar as escolas, no que Matias respondeu que a compra foi anterior à sua gestão.

Fato

Alexandre Matias é filho de Valdair Matias, ex-presidente do Samae e uma pessoa conhecida no meio político da cidade. Ele se elegeu vereador em 2016 pelo mesmo partido do então prefeito Napoleão Bernardes. Formou-se em Administração pela Furb, tem deixado marcas pouco memoráveis como legislador, mas é estabelecido como bom articulador político.

Foi secretário Municipal de Desenvolvimento Social (Semudes) e, posteriormente, secretário de Educação. Nos bastidores, diz-se que era alguém da mais alta estima do ex-prefeito Mário Hildebrandt (PL). Já atuou no Governo do Estado como gerente de Tecnologia da Informação, gerente Administrativo e diretor-geral na SDR Blumenau. Foi nomeado para o cargo titular da Secretaria de Educação (Semed) em 2022.

No mês passado, o prefeito Egídio Ferrari (PL) trocou-o por Simone Probst.

Foi a primeira baixa do PSDB na majoritária municipal e, inicialmente, pensou-se ser apenas outro indício do claro enfraquecimento tucano na gestão Ferrari. Mas eis que eclodiu a crise das merendas e da Risotolândia gerando novas teorias sobre o afastamento de Matias.

Quando Jean Volpato e Adriano Pereira – ambos do PT – propuseram a abertura de uma CPI cuja qualidade técnica era baixíssima e o alvo era apenas o atual prefeito (praticamente eximindo o prefeito anterior), Matias assinou, concordando com sua abertura. O que serviu mais para causar desconfiança sobre a CPI do que provar sua inocência.

Sua atual situação é delicada e pouco previsível.

Opinião

Matias não é um bom vereador. Também não é um mau vereador. É, no máximo, pouco relevante como parlamentar. No entanto, suas duas passagens pelo Executivo foram satisfatórias. Ele foi um bom gestor e apresentou bons números. Porém... no Executivo.

Ontem, ao direcionar seu discurso para defender que o prédio do SOS Vestiba seja usado para a Educação, ele colocou a si próprio em um fogo cruzado desnecessário e sem muitos aliados. Com uma oratória fraca, ele conseguiu se perder nos próprios argumentos.

Seu primeiro ponto foi demonstrar que é favorável à Câmara sair do aluguel, mas logo depois emendou dizendo a construção da tal Casa do Professor economizaria R$ 13,7 mil (na locação do imóvel da sede da Secretaria de Municipal de Educação) e R$ 14 mil (do Centro Municipal de Educação Alternativa). Bem, talvez tenha faltado um pouco de Matemática Básica para o edil, pois a Câmara, hoje, paga um aluguel de R$ 87 mil. O ex-secretário de Educação deveria, como qualquer criança no Ensino Fundamental, entender que R$ 27,7 mil é menor do que R$ 87 mil. Então, a ‘economia’ que ele aponta, custaria quase R$ 60 mil mais caro do que a proposta atual de mudar a localização da Câmara. A Aritmética é uma boa amiga... mesmo... não precisa teme-la.

Depois, antevendo críticas por não ter construído a Casa do Professor, ele disse que não teria investido dinheiro público em tal obra monumental quando Centros de Educação Infantil têm tantos problemas estruturais, como Walter Rosemann, Paulo Freire e Alwino Dorow. Bem... com isso, sem querer, ele levantou uma pertinente questão: se já naquela época ele conhecia tais problemas e justamente por isso evitou a construção da nova obra, então por que esses problemas persistem até hoje? Teria sido incompetência? Negligência? Lapso momentâneo? Ou apenas um fato usado como desculpa para algo que carece de defesa plausível?

Quando Ito o confrontou e perguntou a razão de Matias ter ignorado tais problemas e, ainda assim, comprado o prédio do SOS, o psdbista respondeu que a aquisição foi feita antes de sua gestão. E isso é verdade, mas não respondeu a pergunta: porque as crianças ainda lidam com alagamentos, ausência de ginásios e goteiras nas salas de aula? Foram três anos de gestão...

Alias... Matias não foi responsável pela compra do imóvel, mas – enquanto gestor – foi responsável pelo seu abandono e deterioração, afinal o prédio estava sob a responsabilidade da sua administração e, dessa forma, ele deve ser responsabilizado por seu uso.

Esse foi um daqueles grandes exemplos de momentos em que era mais vantajoso ficar calado.

Esperamos sinceramente que Matias possa provar sua inocência em relação ao envolvimento com o imbróglio das merendas e que, quanto antes for possível, volte à uma esfera na qual seu desempenho é muito melhor: o Executivo.

E que fique a lição de como uma oratória ruim com maus argumentos é capaz de prejudicá-lo mesmo em situações nas quais a sua responsabilidade pode ser parcial ou questionável.

Pronunciamento (parcial)

Abaixo, a transcrição de parte do pronunciamento de Alexandre Matias (com as devidas correções de concordância). Leia na velocidade 0.75 e com longas pausas entre sujeito e predicado para ficar mais verossímil.

“Eu vou utilizar o meu tempo na tribuna hoje para falar um pouquinho da visita que nós fizemos ao imóvel que foi apresentado pela Mesa Diretora como uma das possibilidades de instalação da nova sede da Câmara, lembrando que esse imóvel foi adquirido por mais de sete milhões setecentos e onze mil reais com recursos destinados para a Educação do nosso município e que, no meu ponto de vista (respeitando o encaminhamento da Mesa Diretora e a vontade – que eu também tenho – de que nós deixemos de pagar aluguel pra Casa do Povo), mas fica aqui a minha opinião a respeito daquele imóvel. Aquele imóvel deve ser destinado, no meu ponto de vista, ao fim que ele foi adquirido – pra Educação do nosso município – pra nós deixarmos de pagar aluguel também na sede da Secretaria de Municipal de Educação – um aluguel de mais de R$ 13,7 mil – pra nós deixarmos... e melhorarmos a estrutura do CEMEA, ali na Rua Humberto de Campos, onde são investidos mensalmente R$ 14 mil para poder acolher de maneira melhor as nossas crianças que precisam ir ao CEMEA, pra acolher os nossos servidores da Secretaria Municipal de Educação com um auditório, com a possibilidade de acolher os nossos diretores, pra que a Educação do nosso município possa, quem sabe futuramente, ter uma Casa do Autista aqui na cidade, a exemplo do que já tem na cidade de Balneário Camboriú, enfim, para a Educação do nosso município é que foi adquirido aquele imóvel e fica aqui a minha sugestão pra que ele permaneça com a Educação e que sejam feitas as melhorias, as adequações daquele imóvel, pra que seja revertido para a Educação do nosso município. Aí vão perguntar: mas por que aquele imóvel foi adquirido em 2021,vereador Jovino, e até hoje ele está lá sem o investimento do Poder Público? No período em que eu estive como secretário jamais imaginei investir recurso público naquele imóvel enquanto nós ainda possuímos unidades onde chove dentro e as nossas crianças são impactadas, como por exemplo o CEI Walter Rosemann, o CEI Paulo Freira – que na semana passada foi alagado quatro vezes – várias escolas, como, vereador Gilson, a escola Alwino Dorow, que as crianças, num calor como hoje, estão lá fazendo, sim, Educação Física no sol quente, na chuva não têm as aulas, então não tinha a menor condição, enquanto gestor, de nós investirmos recurso público na Casa do Professor, sendo que nós temos essas dificuldades na Rede Pública de Educação ainda. Então, por isso, já justifico o porquê de aquele imóvel estar naquelas condições”.


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Ricardo Latorre

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