Janja usa morte de criança em prol da censura às redes

Janja usa morte de criança em prol da censura às redes
Foto: Divulgação

Tuesday, 22 April 2025

Sarah Raissa faleceu ao participar de um desafio online e a primeira-dama se aproveitou da tragédia para advogar em causa própria... de novo.

Na semana passada, dia 13, a pequena Sarah Raissa Pereira de Castro (8 anos) faleceu no Distrito Federal após participar de uma perigosa atividade que tem circulado nas redes sociais chamada desafio do desodorante.

Essa ação consiste em convencer jovens a inalar o gás propelente de desodorantes aerossóis pelo maior tempo possível, com diversos vídeos ensinando maneiras de fazer isso espalhando-se rapidamente pelas mais diversas plataformas e mirando de crianças a adolescentes.

Sarah, que vivia no Distrito Federal, sofreu uma parada cardiorrespiratória ao inalar por muito tempo os gases de um desodorante, como vira fazerem no TikTok.

A Polícia Civil do Distrito Federal instaurou um inquérito para investigar a morte da garotinha e pretende notificar a plataforma para identificar o criador do desafio, bem como periciar o celular da menina para apurar como ela teve acesso ao vídeo. Os responsáveis pela criação (e disseminação) desse tipo de conteúdo podem responder por homicídio duplamente qualificado, especialmente por envolver uma vítima menor de 14 anos.

Em março deste ano, outra menininha, Brenda Sophia Melo de Santana (11 anos), também havia sido vítima do mesmo desafio. Ela vivia em Pernambuco.

O caso chocou o Brasil e elevou o alerta dos pais sobre as coisas que seus filhos veem na internet. As redes sociais começaram a pensar em maneiras (algumas vezes inócuas) de avisar seus usuários sobre os riscos de certas palavras-chave. A família da menina já demonstrou a intenção de processar o TikTok, e o Kawaii, onde o perfil do criador do desafio estaria hospedado, deve ser notificado pela polícia para fornecer informações sobre o responsável.

A primeira-dama, Janja da Silva, veio imediatamente a público manifestar suas condolências e responsabilizar as redes sociais, voltando a abordar a regulamentação das plataformas.

“Enquanto o Congresso ignora o clamor por regulamentação, crianças como Sarah Raissa perdem suas vidas. A inação é cúmplice dessa tragédia. A internet não pode ser um campo minado para nossos filhos. Exigimos leis que protejam a vida e punam os que a colocam em risco” – afirmou.

Oportunismo barato em meio ao luto

Essa não é a primeira vez que Janja fala em regulamentar redes sociais. Na verdade, esse é um dos seus maiores interesses, e usar a morte de uma criança para buscar argumentação é apenas vil.

Ainda nas eleições de 2022, ela falava sobre impor limites às redes sociais. Havia grande crítica sobre as propostas impossíveis de seu marido, que garantia ser capaz de fazer “o pobre voltar a comer picanha”. Uma afirmação populista e burra. Ele conseguiu se eleger, o tempo passou e provou que aquilo que ele prometia em campanha realmente era mentira.

Pouco depois, em 2023, um adolescente de 17 anos, residente da cidade de Sobradinho (DF), invadiu a conta de Janja no X, publicando uma série de insultos contra ela. Na época, ela vocalizou, vinculando seu problema pessoal a uma agenda regulatória na tentativa de capitalizar um evento pessoal para legitimar um projeto mais amplo (o PL das Fake News).

Sem esquecer, claro, que durante a polêmica taxação das compras online até US$ 50 ela deliberadamente mentiu, afirmando que as novas taxas não seriam repassadas para o público final, sendo massivamente desmentida nas mais diversas redes sociais.

Já no ano passado – durante o G20 – o comportamento infantilizado, demonstrando certa limitação cognitiva da primeira-dama, causou grande constrangimento ao governo, enfureceu os aliados de Lula e foi alvo de pesadas críticas nas redes sociais. Do “fuck you, Elon Musk” ao “bestão que acabou se matando”, Janja apenas se prejudicou.

Dessa forma, fica claro que ela se vale de qualquer oportunidade que pensa encontrar para tentar buscar validação para seu impopular (e perigoso) projeto de censura.

O fenômeno Janja

Aos 58 anos, essa socióloga paranaense filiada ao PT é uma das figuras mais impopulares do país.

Vista como alguém ‘espaçoso’ que tenta constantemente roubar protagonismo para si, já causou diversas polêmicas como a absurda ideia de querer ter um gabinete e receber fundos (com verba pública) pelo seu único mérito de ser casada com o homem que governa o país.

Apesar da formação superior, ela demonstra reiteradas vezes pouca cultura, com diversos erros gramaticais.

Busca sempre estar na mídia, parecendo alheia (ou alienada) sobre seus críticos e, com isso, aumenta ainda mais a crise de aprovação no governo de seu marido. Basta lembrar, por exemplo, do caríssimo fiasco do evento idealizado por ela e apelidado de ‘Janjapalooza’.

Flertando entre o autoritário e o deslumbrado, ela defende pautas fúteis como linguagem neutra, como quem deseja normalizar (e até racionalizar) um mero surto coletivo.

Os apoiadores de Lula acreditam que ela esteja isolando o presidente. Setores do PT, aliados do governo e até o ministro Rui Costa são críticos a ela. Tal qual um marido abusivo faz com a esposa que vitima, Janja parece ter ilhado Lula e, com isso, minado uma de suas maiores virtudes como político: a capacidade de articulação em prol de um objetivo.

Capturando um protagonismo que jamais foi mérito seu, interferindo em decisões estratégicas do partido e causando rivalidades internas na sigla, ela é apontada como um dos maiores problemas que a gestão atual tem e vista como alguém que desonra o cargo que anteriormente pertencera à dona Marisa Letícia (ex-esposa de Lula, falecida em 2017).

Mesmo sua família não parece nutrir afeições por ela. Em julho do ano passado, vazou um áudio atribuído a Luís Cláudio Lula da Silva (filho mais novo de Lula) onde ele, em conversa com sua esposa Natália Schincariol, referia-se a Janja como “puta” e a chamava de “oportunista”.

Razões para além da narrativa

Ela gosta de aparecer. Ela tem uma compulsão quase desesperada para parecer jovem e se sentir relevante. Gosta de viver no luxo, se porta como uma blogueirinha financiada com nossos impostos e já provou (mais de uma vez) que não se importa em mentir.

Janja é a Maria Antonieta do Brasil. E... bem... o povo guilhotinou Maria Antonieta...

Cada vez que ela esbanja, as redes sociais são tomadas por usuários furiosos por serem os patrocinadores involuntários de seu perdularismo fútil. Cada vez que ela mente, as redes sociais são inundadas com postagens desmentindo seus jogos, manipulações, desinformações ou equívocos. Cada vez que ela tenta usar o Brasil ou isolar os direitos de seu povo, como tem sido acusada de fazer com seu marido, as redes sociais a refutam. Por isso ela odeia as redes sociais.

A Esquerda, como um todo, vem defendendo tal pauta por saber que sua presença digital é consideravelmente menor do que a da Direita. Contudo, já perceberam que Janja – em seu afã oportunista e quase nunca inteligente – tem mais atrapalhado do que ajudado.

Conclusão

Uma garotinha de 8 anos morreu por conta de um desafio idiota em uma rede social. Isso é trágico, preocupante e revoltante. Mas a comoção de Janja em nada teve a ver com Sarah.

De acordo com o Instituto DimiCuida, foram, pelo menos, 56 mortes de crianças e adolescentes no Brasil entre 2014 e 2025, relacionadas a desafios na internet. Desde o Desafio do Apagão até a Baleia Azul, milhares de jovens foram feridos ou mortos nos mais diversos absurdos que se pode encontrar em qualquer rede social. O X tem comunidades sobre bulimia, desafios de anorexia, grupos que incentivam a cleptomania, o estupro, a pedofilia e a automutilação. Comunidades, inclusive, razoavelmente fáceis de achar. À disposição de qualquer um.

A triste verdade é que a pequena Sarah não foi a primeira, e nem será a última vítima.

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman costuma comparar a internet a uma rua por onde passam todos os tipos de pessoas, e as redes sociais a festas com pessoas legais, traficantes de drogas, religiosos, abusadores, professores e criminosos... um local com gente de todo tipo, que não se furta a receber os piores criminosos ou psicopatas. Você deixaria seu filho ir a um lugar assim? E, se fosse, iria desocupado?

Entre escola e família: de quem é a responsabilidade?

Tanto o Meta (que abrange Facebook e Instagram) quanto o X (antigo Twitter), YouTube e TikTok estão alinhados à Lei de Proteção à Privacidade Online das Crianças (COPPA) dos EUA, proibindo que crianças abaixo de 13 anos criem contas. Isso também vale para o WhatsApp.

Saber e monitorar o que uma criança faz é uma responsabilidade total e irrestrita dos pais. Não da rede social, da escola, do vizinho ou dos avós... dos pais. Especificamente.

O Marco Civil da Internet estabelece, em seu artigo 19, que provedores de aplicações de internet (como redes sociais) não são responsáveis por conteúdos gerados por terceiros.

Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu artigo 4º, estabelece o dever de garantir a proteção integral de crianças e adolescentes (incluindo a supervisão do uso da internet). A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) reforça a necessidade de consentimento parental para o tratamento de dados de menores. No caso específico de Sarah — em que o avô tentou socorrê-la — não há indícios de responsabilização legal, mas a falta de supervisão prévia pode (e deve) ser questionada.

Não é incomum ouvir pais desleixados atribuírem, irresponsavelmente, à escola obrigações que são primariamente suas. “A professora não ensinou meu filho a se limpar”... e nem ensinará a andar de bicicleta. Essas são funções primárias, que a vida contemporânea tem feito se mesclar.

Mas quais são as obrigações da escola e quais são as obrigações dos pais?

  • Escola: é responsável pela educação formal, baseada na Base Nacional Comum Curricular; promove a convivência ética em sociedade; garante a integridade (física e mental) do estudante; e colabora para o seu desenvolvimento com mentores adequados.

  • Pais: educam integralmente os filhos, ensinando valores (morais, éticos ou religiosos); protegem o jovem de qualquer risco; promovem cuidados básicos (alimentação, saúde, moradia, higiene e educação); servem como modelo de postura a ser seguido; e agem em sintonia com a escola, trabalhando em conjunto.

Enquanto a escola é coletiva, institucional, tem abordagem estruturada, responsabilidade objetiva, prioriza o conhecimento acadêmico e utiliza infraestrutura corporativa; a família é individual, doméstica, tem abordagem personalíssima, responsabilidade primária, prioriza o ensinamento moral e utiliza exclusivamente recursos pessoais.

Infelizmente, a atribulada vida atual tem praticamente fundido ambos os conceitos, criando escolas sobrecarregadas e pais distantes, que, aos poucos, descobrem sequer conhecer os próprios filhos.

A culpa não se restringe às redes sociais

As plataformas que aproximam pessoas têm responsabilidade? Sim. Certamente. Mas a questão vai além.

Assim como uma pessoa não pode culpar o Tinder por um namoro que simplesmente não deu certo, julgando que escolheu “a forma errada de conhecer alguém”, uma família também não pode colocar toda a responsabilidade pela má criação de um jovem sobre a rede social à qual deliberadamente delegou a função de educar — por estar sem tempo ou disposição.

Ou você nunca viu crianças pequenas brincando com celulares ao lado de pais que mal olham para elas, distraídos com conversas, atividades ou seus próprios celulares?

A realidade é que — assim como há uma considerável parcela de culpa das plataformas — também existe um modismo em culpá-las. Lembra quando tentavam atribuir qualquer crime aos jogos de videogame? Lembra do Gilberto Barros demonizando as cartas de Yu-Gi-Oh!?

Quando a Netflix lançou 13 Reasons Why, em 2017, pesquisadores do National Institute of Mental Health (NIMH) identificaram um aumento de 28,9% nas taxas de suicídio entre jovens de 10 a 17 anos no mês seguinte à estreia da série. Isso seria culpa do streaming? Dos roteiristas? Ou das famílias? Há culpas exclusivas? Ou serão compartilhadas entre as partes?

Claro que o maior dos conservadores diria que esse é um problema inerente aos tempos atuais, onde a exposição excessiva à tecnologia induz as pessoas a tais comportamentos.

Bem... Romeu e Julieta — uma tragédia escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare entre 1591 e 1595 — é sua obra mais famosa, mas também traz consigo uma estatística funesta: um alegado aumento na taxa de suicídios entre jovens apaixonados da época.

Pela ausência de dados reais, em função da inexistência de pesquisas estatísticas na época em que Shakespeare viveu, encaramos tal (popular) afirmação como declaração anedótica. Mas... e se isso de fato ocorreu? Seria culpa da tecnologia? Da geração Z? Porque isso ocorreu no século XVI.

Não foram os livros. Não foi o escritor. Não foi o seriado. Não foi o videogame. E tampouco foram os Trading Card Games. A culpa é da alienação, do descaso, do desamparo e da falta de monitoramento.

As redes sociais, infelizmente, são um lugar perigoso. Covardes, escondidos atrás de contas falsas, sentem-se livres para agir de forma sociopata, criminosa e sádica. Pessoas arruínam a vida de outras com mentiras e boatos. Canalhas espalham fotos íntimas de quem diziam amar. Intolerância de todo tipo, vinda de todos os lados, acontece. Sim. A culpa das redes sociais é ESSA: o pseudo-anonimato.

Há uma longa e prolífica discussão sobre o enquadramento das plataformas em termos como “monopólio”, uma vez que, apesar de não serem estatais, exercem um poder capital quase imbatível.

Outro debate — ainda mais extenso — gira em torno do anonimato dos usuários. O rastreamento por IP torna tais ‘proteções’ meramente virtuais. Mas exigir apresentação de documentos ou validação biométrica para criar contas pode inviabilizar a operação dessas empresas no Brasil. Algo que o governo já demonstrou apreciar — pois assim poderia criar sua própria rede estatal e controlar ainda mais as pessoas (como tentou, recentemente, no caso do PIX).

As argumentações são longas e, possivelmente, não levarão a um grande consenso.

O risco está no TikTok, sim. Assim como está no seriado adulto e polêmico da Netflix que seu filho de 14 anos assiste — e você nem sabe. Está na pornografia e nas bets que o Google oferece. Está no apologista do tráfico que seu adolescente ouve no Spotify. Também está no livro de teor perturbador, no joguinho de celular ou na comunidade do X.

Mas não é virtualmente que acontece... Sarah não cheirou o desodorante dentro do computador. A tragédia acontece na vida real — e depende de VOCÊ para impedi-la.

Esse ano, uma adolescente de 13 anos engravidou durante a execrável Roleta-Russa do Sexo, que consiste em diversos garotos sentados com seus pênis eretos enquanto meninas se revezam em relações sexuais com eles e sem preservativos para ver ‘quem aguenta mais’, podendo acarretar em gravidez, DSTs e demais consequencias gravíssimas.

Esse absurdo não ocorre em redes sociais. Ocorre em festas privadas com diversos jovens sem supervisão... e regadas a bebidas (talvez drogas).

Adianta regulamentar redes sociais quando o problema é muito mais complexo?


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Rick

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