Prefeito conta um pouco de suas experiências na China

Prefeito conta um pouco de suas experiências na China
Foto: Divulgação

Tuesday, 15 July 2025

Além de Pequim, Egídio também esteve na cidade chinesa de Harbin e nas cidades japonesas de Tóquio e Aomori.

O prefeito de Blumenau, Egídio Ferrari (PL), embarcou em uma viagem oficial ao Japão e à China entre os dias 13 e 25 de junho de 2025, integrado à comitiva liderada pelo governador Jorginho Mello (PL) e convidados pelo Governo de Santa Catarina.

O objetivo central da missão foi aprofundar relações e atrair parcerias nos setores de tecnologia, agricultura e agronegócio, em especial para fortalecer a presença de empresas catarinenses nestes mercados estratégicos.

Com agendas programadas em Tóquio, Aomori, Pequim e Harbin, o grupo realizou encontros com ministérios, embaixadas, entidades como a JETRO, grandes multinacionais japonesas, e participou dos eventos “SC Day” — momentos internacionais de vitrine dos atrativos de Santa Catarina.

Conforme autorização da Câmara de Vereadores de Blumenau, os custos da viagem foram cobertos por recursos públicos estaduais — incluindo hospedagem, alimentação e demais despesas da comitiva cujos principais financiadores foram o Estado de Santa Catarina.

A prefeitura municipal, por sua vez, teve suas despesas administrativas e protocolares custeadas pelo próprio Executivo catarinense, uma vez que a viagem foi organizada oficialmente pelo Governo do Estado e não diretamente pela municipalidade.

De volta ao Brasil, o prefeito conversou brevemente com o BLUMENEWS e contou um pouco de suas experiências e horizontes expandidos na entrevista abaixo.

Qual foi o principal objetivo da sua viagem? Considera que ele foi plenamente alcançado?

Nosso objetivo nessa viagem para a Ásia, que passou por Japão e China, foi mostrar Blumenau para investidores que somos uma das melhores opções para empreender. Falei sobre os principais diferenciais de Blumenau nas áreas de tecnologia, inovação e indústria, além de reforçar os motivos que colocam o município entre os melhores do país para viver e investir. Mostramos que Blumenau é uma cidade preparada para o futuro, com uma economia diversificada, uma base sólida de inovação e qualidade de vida reconhecida. Nosso objetivo é abrir as portas para o mercado internacional e atrair parcerias que impulsionem ainda mais o nosso desenvolvimento.

Houve acordos comerciais firmados? Quais setores de Blumenau poderão se beneficiar?

Não tivemos ainda nenhuma confirmação oficial de acordo firmado, mas tenho certeza que deixamos uma boa impressão. Entre as visitas que fizemos, destaco as seguintes.

  • Fábrica de aviões: Uma das maiores fábricas de aviões da China, localizada na cidade de Harbin. O objetivo da missão foi ampliar a conectividade regional em Santa Catarina, especialmente por conta dos 23 aeroportos regionais (incluindo o Quero-Quero) e buscar alternativas para garantir vôos regulares que impulsionem o desenvolvimento econômico em todas as regiões.
  • PowerChina: Especialista em infraestrutura, tecnologia e energia, a empresa se destacou pelas possibilidades de colaboração em projetos que integram desenvolvimento sustentável e inovação tecnológica.
  • CRRC Corporation: A maior fabricante mundial de vagões e equipamentos ferroviários recebeu a delegação brasileira para discutir novidades no setor de mobilidade e infraestrutura de transporte.
  • Nidec Global Appliance: Conhecida anteriormente como Embraco, a Nidec foi a primeira empresa brasileira a se instalar na China. A visita solidificou o histórico elo entre as companhias brasileiras e o mercado chinês, com perspectivas de novas parcerias.

O Brasil tem recebido investimentos robustos da China em setores como a indústria automotiva (BYD) e o de serviços (como a Meituan, dona do Keeta). Blumenau despertou interesse de algum investidor? De quais áreas?

Tem uma empresa, que é uma das maiores fornecedoras da BYD no mundo, que está muito interessada em investir em Blumenau. Ela produz cabos elétricos. Tivemos uma boa conversa sobre e acredito que podemos ter boas notícias em breve.

Há a possibilidade, no seu entender, de Blumenau ser uma espécie de "hub" regional para empresas chinesas?

Sim, com certeza, tanto para os chineses quanto para os japoneses. Tive a oportunidade de falar sobre o mercado de tecnologia da informação na nossa cidade e o potencial do Distrito de Inovação, projeto em andamento no município, voltado à consolidação de Blumenau como um pólo de referência tecnológica no Brasil. O Distrito de Inovação será um grande diferencial competitivo. Apresentei essa iniciativa como uma oportunidade concreta de conexão entre empresas asiáticas e o ecossistema inovador blumenauense.

O que podemos aprender com os modelos de desenvolvimento econômico das cidades chinesas?

A China investe muito em infraestrutura, como estradas, trens, portos, energia e, claro, em tecnologia da informação. Lá, cada cidade foca em um tipo de indústria e eles pensam no crescimento já de olho no futuro. Além disso, nos contaram como apóiam a educação e a capacitação para o mercado de trabalho e o governo tem vários incentivos para quem empreende. Temos várias lições para tentar implantar por aqui.

A China é referência mundial em transporte de massa. Blumenau tem um problema histórico e grave com a qualidade do transporte coletivo oferecido. Há algo replicável (mesmo em menor escala)?

Blumenau tem uma peculiaridade nesse ponto que é o nosso relevo. Somos uma cidade cortada por um rio e com muitos morros, o que impossibilita de avançar em alguns pontos da mobilidade urbana e isso se reflete no transporte coletivo. Especialmente quando falamos de transportes de massa, como metrô, BRT e trens urbanos. Nosso foco continua sendo o de melhorar a mobilidade da cidade com foco no ônibus, ampliando as linhas, trazendo veículos novos e com ar condicionado.

 

O governo chinês usa intensamente tecnologia de vigilância. Considerando seu histórico bem sucedido como delegado, certamente algo lhe interessou nessa área. Houve alguma discussão sobre inteligência urbana e segurança pública?

Não tivemos uma discussão especificamente sobre isso, mas já estamos trabalhando nessa questão. No balanço dos 100 dias de governo, apresentamos nossa proposta de criação de um PPP que vai melhorar o sistema de iluminação pública e, de quebra, cria uma muralha digital de segurança nos principais pontos da cidade. Neste momento, está em fase de consulta popular, para finalizarmos o edital ainda neste ano.

Um país milenar pautado pela disciplina, a China tem uma Educação exemplar e uma medicina profundamente respeitada. Há planos de aplicar algo que eles usem em nossas escolas e hospitais?

Não é apenas pela disciplina que a China se destaca na Educação, mas também no ensino técnico. Eles trabalham muito esse conceito, com incentivo ao raciocínio lógico desde cedo. Além disso, tem escolas técnicas de alto nível que formam profissionais capacitados de acordo com a demanda necessária. Tudo isso, usando de tecnologia e inteligência artificial para aprimorar e personalizar o ensino.

Recentemente soubemos que Blumenau terá um festival de lanternas. Como introduzir uma cultura tão bela e diversa sem correr o risco de descaracterizar a identidade germânica de nossa cidade?

A inclusão do festival de lanternas será realizada durante o Natal em Blumenau, em um evento privado que acontecerá dentro de um dos pavilhões da Vila Germânica. Além disso, o festival também marcará presença em um evento cujo principal diferencial não está centrado na cultura germânica. Vale ressaltar que a identidade germânica já está profundamente enraizada em nossa cidade e continuará sendo um de nossos maiores atrativos, especialmente no contexto turístico.

Quais locais visitados foram mais marcantes para você? E por quê?

A visita que fizemos em uma escola me marcou muito. Tivemos a oportunidade de conhecer de perto o método de ensino onde, por exemplo, eles ensinam as crianças a limpar o espaço público e adotar boas maneiras para cuidar da cidade.

Essa missão internacional mudou sua perspectiva sobre algum tema em especial? Qual?

Blumenau é uma cidade maravilhosa. Precisamos levar a nossa mensagem para o mundo inteiro e abrir as portas da nossa economia. Estamos prontos para grandes investimentos e isso só acontece quando estamos dispostos a bater na porta de outros países com potencial de investimento.

Conclusão

A relação comercial entre Brasil e China, embora com raízes diplomáticas estabelecidas em 1974, começou a ganhar fôlego de fato na virada dos anos 2000, quando a China intensificou sua expansão econômica e passou a buscar fornecedores confiáveis de matérias-primas.

 Em 2009, pela primeira vez, a China ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o maior parceiro comercial do Brasil — posição que mantém até hoje.

Desde então, a balança comercial entre os dois países não parou de crescer, com destaque para o agronegócio brasileiro, responsável por boa parte das exportações de soja, carne, celulose e minério de ferro.

Ao longo da década de 2010, enquanto a China aumentava seus investimentos em infraestrutura, energia e logística no Brasil, diversas empresas brasileiras também passaram a enxergar o mercado chinês como essencial.

Hoje, além de ser o maior destino das exportações brasileiras, a China também sedia, em seu território, parte relevante da cadeia de produção de empresas nacionais — dos setores automobilístico e tecnológico à produção de insumos químicos e industriais.

Essa interdependência se estende ao cotidiano do consumidor comum: plataformas de comércio eletrônico como Shein, Shopee e AliExpress, amplamente utilizadas no Brasil, tornaram-se peças centrais da economia digital popular, oferecendo produtos acessíveis que driblam a inflação e suprem demandas do varejo que o mercado interno não consegue atender a preços competitivos.

No entanto, esse intercâmbio — que aproxima o agronegócio do campo aos carrinhos virtuais de compra — tem enfrentado novas barreiras.

Recentemente, o governo brasileiro decidiu taxar as chamadas "comprinhas" internacionais de pequeno valor, sob o argumento de proteger a indústria nacional e equilibrar a concorrência. A medida, porém, tem sido alvo de críticas por afetar desproporcionalmente os consumidores de baixa renda, que vêem nessas plataformas uma alternativa econômica frente ao encarecimento dos produtos nacionais.

A taxação imposta não apenas fragiliza o acesso ao consumo de milhões de brasileiros como também aponta para um paradoxo crescente: enquanto o país se projeta globalmente como exportador e parceiro estratégico da China, restringe o livre acesso do próprio povo aos frutos dessa integração.

Mas a situação se intensificou ainda mais.

Esse mês o quadro se agravou drasticamente quando os Estados Unidos, já sob o segundo mandato de Donald Trump, voltaram a mirar o Brasil com tarifas comerciais severas — desta vez atingindo diretamente setores do agronegócio, como soja, carne e etanol, em uma tentativa de favorecer produtores norte-americanos e pressionar países sul-americanos a alinharem suas agendas comerciais e políticas.

A resposta do governo brasileiro foi patética.

Lula condenou a medida em pronunciamentos que beiravam a demência, mas evitou ações mais firmes ou retaliações — alegando buscar o diálogo (na contramão de suas ações).

Com os Estados Unidos se tornando um parceiro comercial cada vez mais instável e imprevisível, a China desponta — para o bem e para o mal — como a principal alternativa real e sólida para manter o escoamento de commodities brasileiras em larga escala.

A crescente dependência se reflete não apenas nas cifras de exportação, mas também na penetração chinesa em setores logísticos e estruturais: ferrovias que atravessam o Centro-Oeste, portos no Nordeste e até terminais aeroportuários com capital chinês já são realidade ou estão em fase de projeto. Essa infraestrutura financiada pela China pode alavancar o crescimento e reduzir gargalos históricos do transporte brasileiro, mas também impõe dilemas geopolíticos: quem paga a conta? E quem dita os rumos quando um só parceiro controla as chaves dos nossos portões?

Enquanto o povo brasileiro vê suas "comprinhas" internacionais sendo taxadas com dureza pelo próprio governo sob o pretexto de proteger a indústria nacional, o ‘Brasil oficial’ se curva tanto diante dos Estados Unidos quanto da China.

O risco não é apenas econômico. É estratégico. A política externa hesitante — que foi subserviente com Bolsonaro e parece perdida com Lula — pode transformar o país não num aliado, mas num refém das potências que disputam sua terra, seus grãos e seu povo.

O Brasil – outrora um gigante diplomático tal qual uma Suíça tropical – se torna uma pálida república de bananas ‘acadelada’ aos grandes players internacionais, vilipendiada por aqueles de quem aceitou sua submissa dependência, ridicularizada pelos discursos apaixonados e ébrios de um presidente amante de ditaduras e meramente útil (de forma profundamente serviu) aos interesses de países que o vem como menor a um mendigo internacional.

Um país profundamente promissor, mas que não conseguiu passar um único dia sem ser colônia de alguém nos seus 500 anos de história.

Justamente por isso, nossas perguntas se focaram na visita do prefeito à China.

Blumenau é um ponto fora da curva na realidade brasileira. Uma cidade com identidade cultural forte, economia pungente e uma sociedade cuja relação é baseada na confiança mútua. Muito similar à própria China. E, justamente por isso, o destino ideal para uma longa e frutífera parceria que pode ir muito além das lojas de utilidades espalhadas pela XV de Novembro.


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