Vamos conversar sobre controle migratório em SC

Friday, 29 August 2025
Mais do que uma matéria, esse é o mais longo artigo que já escrevi pro site... um manifesto que não pode ser resumido pela necessidade de contextualizar uma opinião tão pragmática.
No final do mês passado, o vereador joinvilense Mateus Batista (União) – ligado ao MBL – iniciou uma corajosa cruzada pessoal contra a migração desenfreada para Santa Catarina.
Ele defendeu um projeto de lei que pretende restringir a migração de pessoas vindas do Norte e do Nordeste para Joinville. Sua justificativa é que, caso o fluxo migratório não seja controlado, o estado com a melhor qualidade de vida do Brasil pode se tornar um ‘favelão’.
De acordo com a sua proposta, novos moradores teriam que comprovar residência em até 14 dias após a mudança, sob pena de não poderem permanecer legalmente no município. Sua crítica se embasa, parcialmente, no fato de que Pacto Federativo faz o Sul pagar duas vezes pela incompetência administrativa que aflige o povo do Nordeste: vendo seus impostos serem usados para melhorar a região e tendo que lidar com os migrantes vitimados pela má gestão.
Em entrevista a um podcast, o parlamentar afirmou que sua preocupação abrange migrantes e imigrantes, afirmando que a entrada dessas pessoas sobrecarregaria os serviços públicos e aumentaria a população de rua.
Sua proposta – baseada no controle migratório alemão – conta com o apoio do deputado federal Kim Kataguiri (União), também membro do MBL e um dos parlamentares mais produtivos do Brasil. De acordo com Batista: “Belém tem 57% da sua população favelizada. Estou falando da forma como o Estado é governado. Esse fluxo migratório está sendo pressionado novamente por causa de Estados mal geridos no Norte e Nordeste”.
Em sua conta no Instagram, o vereador postou um vídeo mostrando comentários que colheu pela internet dizendo coisas criminosas como: “Odeio sulistas, se eu pudesse ia exterminar todos”, “oração coletiva pela morte de todas as crianças ‘sudestinas’”, “sulista bom é sulista morto”, “malditos brancos sulistas, raça do c@r@lh#”, “roubar paulista é belo e moral” ou “criar meu filho pra engravidar patricinha do Sul e sumir”. E isso não é crime de ódio e xenofobia?
Um vídeo de um mentecapto paraense se gabando por achar que intimida catarinenses e sugerindo que as pessoas devam migrar para cá só para explorar as oportunidades e depois ir embora circulou pelas redes. O sujeito que mal sabe pronunciar a palavra ‘dinheiro’ corretamente se porta como um gafanhoto procurando uma nuvem para disseminar a sua praga e afirma que “Santa Catarina não tem dono” envergonha todos os milhões de paraenses decentess, honestos e trabalhadores que nada tem a ver como esse discurso burro e vulgar.
A verdade é que milhares de pessoas do Norte e do Nordeste – um povo corajoso e com uma cultura marcante – apóiam o projeto de Batista porque pessoas como as supracitadas são justamente as que fomentam a intolerância e dificultam a vida do migrante sério.
O comportamento predatório – de quem vem apenas para tirar o máximo proveito possível e disseminar seus piores costumes antes de arrasar toda a terra que o acolhe – contrasta absolutamente com aquele que deseja criar raízes na terra nova, respeitando sua cultura e se adaptando às suas tradições sem jamais negar sua própria individualidade étnica.
Mas, antes de tudo, devemos entender a diferença entre migração, imigração e emigração.
- Migração: é um termo amplo que se refere ao ato de se deslocar de um lugar para outro, seja dentro do mesmo país ou entre países sem especificar se parte ou chega;
- Imigração: é o ato de vir viver em outro país;
- Emigração: é o ato de sair de país para ir morar em outro.
Hoje, Santa Catarina conta com cerca de 120 mil migrantes que vêm do Nordeste e do Pará contra 230,9 mil migrantes que vêm do Rio Grande do Sul e do Paraná segundo dados do Censo 2022 do IBGE. A diferença é que, enquanto os migrantes sulistas ocupam 70% das vagas de emprego formais sendo que 50% tendo deles têm o Ensino Médio completo e até 25% concluiu o ensino superior ou técnico, apenas 20% dos migrantes do nordeste têm o Ensino Médio completo e menos de 10% contam com ensino superior ou técnico, estando 60% em empregos informais ou sazonais.
Para fins de comparação, 40% dos 50 mil haitianos no estado tem o ensino superior ou técnico tendo 85% de taxa de formalização e 50% dos imigrantes venezuelanos se formaram na faculdade ou curso profissionalizante, estando 80% em empregos formais.
O problema não é a migração, mas sim a qualidade do migrante.
Algo que depõe profundamente, inclusive, contra as pessoas que desejam recomeçar suas vidas aqui e por conta de seus maus conterrâneos, invariavelmente sofrerão preconceito.
Estamos vendo na última década SC repetir triste quadro que acometeu – e quase destruiu – São Paulo a quase 100 anos atrás e, lamentavelmente, parece que nada aprendemos com isso.
Mas muito se engana quem pensa que as raízes desse problema são meramente centenárias. Abaixo – no artigo mais longo que já escrevi na minha vida – vou explicar vícios culturais que corrompem o Brasil desde o Século XV. É um contexto que busca a simplificação (uma necessidade jornalística), mas é fundamental para embasar nossa opinião sobre o assunto.
As razões por trás das grandes navegações
No século XV havia um grande monopólio comercial para os europeus que buscavam trazer especiarias como seda, porcelana e condimentos da Ásia. Comerciantes especializados em produtos de luxo indianos constantemente tinham que pagar tributos a mercadores venezianos (e até genoveses), bem como aos árabes no Mar Mediterrâneo.
Com a ascensão do Mercantilismo – que visava acumular materiais preciosos como ouro e prata para o enriquecimento das nações – países como Portugal e Espanha se viram obrigados a buscar rotas alternativas àquelas dominadas pela Itália e pelo Oriente Médio.
Simultâneo a isso, engenheiros portugueses haviam aperfeiçoado uma embarcação mais ágil e adequada à exploração da costa africana. Diferente dos pesados navios mercantes, ela era mais rápida e usava uma vela triangular (latina) que a permitia navegar contra o vento. Seu nome era caravela e unida à bússola, ao astrolábio e ao aprimoramento de mapas cartográficos, permitiu que Portugal desse um salto náutico evolutivo inacreditável.
Monarquias cada vez mais centralizadas enriqueciam e passavam a investir seus recursos na crescente exploração ultramarina como forma de aumentar seu poder e prestígio. Paralelamente, a Igreja Católica, apoiada por bulas papais e pelo Tratado de Tordesilhas, via nas navegações uma oportunidade para converter povos não-cristãos, expandindo sua influência.
Em 1488, Bartolomeu Dias, um experiente cavaleiro e navegador da corte do rei português Dom João II recebeu a autorização para lançar-se ao mar, dobrando o Cabo da Boa Esperança, na ponta sul da África. Embora ele não tenha chegado às Índias, sua viagem provou que era possível contornar a África por mar para alcançar o Oriente, abrindo caminho para a rota marítima para a Índia que seria concluída por Vasco da Gama.
Quatro anos depois, o italiano Cristóvão Colombo convenceu a rainha Isabel I de Castela e o rei Fernando II de Aragão a patrocinarem um plano ousado: chegar às Índias navegando para o oeste, onde prometeu que encontrariam ouro, prata e especiarias. Embora jamais tenha chegado às Índias, ele aportou nas Ilhas do Caribe, onde um novo mundo iniciaria.
Já na Inglaterra, o rei Henrique VII apoiou a viagem de John Cabot (um navegador italiano de nome Giovanni Caboto), que foi o primeiro europeu a explorar na era das Grandes Navegações a costa da América do Norte, reivindicando a terra para a Coroa Inglesa e estabelecendo a base para as futuras expedições e a colonização local.
Um ano depois, portanto em 1498, Vasco da Gama recebeu a bênção do rei Manuel I de Portugal para tentar uma rota alternativa à Índia, circundando a África e realmente chegando lá, criando um forte laço comercial entre Portugal e a Ásia, enriquecendo ainda mais os lusitanos.
O cosmógrafo Américo Vespúcio, indo além da nevagação pura e simples, foi o teórico que defendeu a ideia de que as terras descobertas eram um "Novo Mundo" e não as Índias. Foi graças a ele que os europeus conseguiram entender um pouco melhor o que estava havendo e, justamente por isso, o cartógrafo alemão Martin Waldseemüller nomeou o continente América.
No ano de 1500, o nobre e confiável navegador português Pedro Álvares Cabral foi escolhido por sua lealdade e experiência militar para liderar a maior expedição já enviada até então. Ele deveria seguir a rota de Vasco da Gama, estabelecer feitorias (postos comerciais) e fortalecer a presença portuguesa no Oriente, mas também cumprir o Tratado de Tordesilhas. Foi dessa forma que ele chegou ao Brasil e reivindicou a terra para a Coroa Portuguesa, iniciando a história colonial brasileira, com a exploração do pau-brasil e a posterior colonização.
Houve muitos outros, como Fernão de Magalhães (que provou as teorias de Ptolomeu e Erastóstenes sobre a Terra ser esférica, não plana), Hernán Cortés (que conquistou o México) e Francisco Pizarro (que dominou o Peru).
Diferentes formas de colonização
Quando os britânicos chegaram à América encontraram um clima temperado sem metais preciosos e pouco propenso a grandes plantações. Seus colonos – muitos deles dissidentes religiosos como puritanos e quakers – buscavam um lugar onde pudessem praticar sua fé livremente e construir uma nova sociedade de acordo com seus próprios princípios. Eles viam a colônia como um novo lar e isso os incentivou a erguer uma sociedade própria, com instituições quase independentes, planejamento social e suas próprias assembléias legislativas.
A Inglaterra permitia certa autonomia, influenciada pela Revolução Gloriosa (de 1688), que valorizou direitos individuais. As colônias desenvolveram assembleias legislativas, vivendo de agricultura de subsistência, comércio de peles e pesca, o que favoreceu o surgimento de uma classe média. Apesar do controle britânico, o fortalecimento de instituições locais e da identidade colonial pavimentou o caminho para a independência dos Estados Unidos no século XVIII.
Já no Brasil, a coisa foi diametralmente oposta.
A colonização do Brasil foi, em grande parte, um projeto da Coroa Portuguesa. Muitos colonos eram administradores, aventureiros, degredados e missionários. O território tinha um clima tropical favorável para a agricultura de larga escala, posteriormente se mostrando rico em metais como ouro ou diamantes. Muitos de seus colonos viam na nova terra uma forma de enriquecimento rápido, não um lar permanente. O interesse eram os recursos naturais. O objetivo era extrair o máximo de riqueza possível para a metrópole. Surgia o latifúndio e se intensificava a escravidão.
A coroa mantinha um controle rígido sobre a colônia, nomeando governadores e controlando o comércio para garantir que as riquezas chegassem a Portugal. Seu sistema era centralizado e extrativista. A metrópole controlava quase tudo, desde o comércio até a administração. Não havia incentivo para o desenvolvimento de instituições locais ou de uma economia autônoma, pois isso poderia desafiar o poder da coroa. A elite local, formada por grandes proprietários de terras, tinha poder, mas este era subordinado ao poder central, e o sistema dependia da exploração do trabalho escravo, o que impediu a formação de uma classe média e de uma sociedade mais igualitária.
Dessa forma, começavam a se desenhar as profundas diferenças entre Estados Unidos e Brasil.
Enquanto eles foram colonizados por pessoas em busca de um lar dispostas a criar uma sociedade forte baseada em valores e fomentada por uma metrópole que via no enriquecimento da colônia uma forma de enriquecer a si mesma, nós fomos colonizados por aventureiros que pouco apreço tinham pela nossa terra, vivendo dependentes dos valores da Coroa Portuguesa e do abominável escravagismo enquanto a metrópole tirava tudo que podia de nós dando pouco em troca além de oligarquias e dependência.
Um país de muitos países
A colonização inicial envolveu fidalgos elevados ao posto de administradores, como o próprio Pedro Álvares Cabral , nomeado pelo rei para comandar a frota. Com ele, chegaram a Porto Seguro (BA) exploradores, navegadores da expedição, dois condenados que foram deixados para trás para estabelecer contato com os nativos e aprender a língua, além de missionários (frades franciscanos e sacerdotes que celebraram a primeira missa no local).
Exploradores liderados por Vespúcio e Gonçalo Coelho mapearam a costa sul. São Francisco do Sul (SC) foi fundada. Diogo Álvares Correia, o Caramuru, chegou à Baía de Todos-os-Santos (BA) em 1510. Cristóvão Jacques, um nobre português, instalou uma feitoria Pernambuco em 1516. No Espírito Santo, Vasco Fernandes Coutinho recebeu uma capitania hereditária, fundando Vila Velha (ES). E Martim Afonso de Sousa, governador nomeado pelo rei para a primeira expedição colonizadora oficial, levou cerca de 400 pessoas entre soldados, exploradores, aventureiros, criminosos e frades para fundar São Vicente (SP) em 1532.
Com o tempo, no entanto, as coisas foram se alterando.
Alguns aventureiros até então interessados apenas em lucro rápido para poder voltar para Portugal ganhavam terras através do sistema de sesmarias, criando laços reais com o solo brasileiro. Contudo, ao contrário dos laços comunitários entre britânicos e o solo americano, seu laço era mais personalista: se tornaram latifundiários e, portanto, sabiam que seu conforto e fortuna dependiam do Brasil, forçando a criação do apego à terra.
Muitos missionários, por sua vez – entre eles, jesuítas – acabavam se lançando à exploração do interior brasileiro visando tanto a catequização dos índios quanto razões materiais.
Os administradores – quase sempre fidalgos indicados pela Coroa – usufruíam (e por vezes até abusavam) de seus privilégios, criando uma profunda cultura de clientelismo nos locais que geriam, fomentando uma grande dependência de Portugal.
Já os degredados, acabaram tendo destinos mais distintos.
Muitos se tornaram aventureiros e exploradores, assassinando índios e se notabilizando como grandes causadores de problemas. Entre os séculos XVI e XVIII, quando expedições privadas começaram a ser fomentadas devido a escassez local de recursos e busca por índios escravizáveis, ouro e pedras preciosas, muitos descendentes de degredados e mamelucos (filhos de índios com portugueses) se tornaram bandeirantes, expandindo o território brasileiro para além do Tratado de Tordesilhas, desbravando o interior e incorporando regiões como Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso à colônia e evitando invasões estrangeiras.
Se por um lado eles foram fundamentais para a colonização do interior brasileiro e abriram rotas como o caminho dos tropeiros unindo a nação, por outro deixaram uma herança controversa de violência extrema que se enraizou nos recôncavos da cultura nacional.
Piorando ainda mais a situação, a Coroa Portuguesa – atrás de mão de obra barata e moralmente execrável – tornou o Brasil o maior mercado escravagista do planeta. Foram cerca de 5 milhões de homens e mulheres arrancados de seus lares na África e trazidos para cá onde trabalhariam em fazendas de cana-de-açúcar tendo brutalidade como recompensa.
Os exploradores que se tornaram latifundiários agora eram senhores de engenho do Nordeste que impunham sua vontade através de força bruta e eram grandes senhores de escravos. Os jesuítas foram expulsos do país em 1759 pelo Marques de Pombal. Os administradores usaram a sua influência para manter seus cargos através de uma perpétua troca de favores. E os degredados se tornavam criminosos profissionais com ou sem a permissão das autoridades.
Quando Dom João VI veio para o Brasil fugido de Napoleão Bonaparte, em 1808, as coisas mudaram. O Brasil deixou de ser apenas colônia explorada e passou a ser o centro do império português. Surgiram reformas como abertura de portos, fim do monopólio comercial português, criação do Banco do Brasil e de um complexo acadêmico tupiniquim. O Rio de Janeiro foi elevado ao posto de sede da monarquia e o clientelismo fidalgo viu seu ápice.
Mas isso só durou 14 anos. Quando Dom João VI voltou a Portugal, o Brasil voltou a ser rebaixado à condição de colônia criando um avassalador ressentimento entre os grandes proprietários de terra e também os comerciantes (que lucravam muito com a abertura dos portos). Isso forçou a Independência do Brasil em 1822, proclamada por Dom Pedro I.
Sem a interferência da Coroa, o poder de latifundiários e ‘coronéis’ pôde se expandir mais livremente. A cultura de clientelismo e os privilégios coloniais não foram apagados, mas sim transferidos para a então jovem nação brasileira. A elite agrária herdou os instrumentos de dominação que antes pertenciam a Portugal.
Portugal, por sua vez, via sua relevância no cenário global diminuir progressivamente. Com um exército e uma economia frágeis, viu sua triste decadência como potência mundial.
Enquanto isso, os fazendeiros brasileiros – coronéis e latifundiários, quase todos escravagistas – solidificavam seu poder como oligarcas quase absolutos principalmente no Nordeste e no Norte, onde a industrialização foi lamentavelmente tardia.
A escravidão – abolida em 1888 – foi um processo insuficiente e executado da forma menos inteligente possível. 700 mil pessoas foram despejadas das únicas vidas que conheciam sem qualificação profissional alguma, sequer sabendo ler ou escrever e não recebendo qualquer auxílio para retomar a vida. Uma enorme parcela de brasileiros desamparados e sem lar que rumavam para os morros e sobreviviam como podiam.
O Brasil já enfrentava um sério problema de criminalidade urbana causado, em parte, pelos degredados. Ao contrário da Austrália – que foi colônia penal, mas recebeu um programa mais sério de redirecionamento dos criminosos que colonizariam o país – o Brasil deixou essas pessoas sem orientação, permitindo que se tornassem criminosos profissionais ou passionais.
Com a abolição da escravatura, a população negra ficou à mercê dos piores elementos que a sociedade tinha a oferecer, sendo ignorada pelo Estado que chegou até mesmo ao absurdo de associar a pobreza e a negritude à criminalidade no Código Penal de 1890.
Se em centros urbanos como o Rio de Janeiro toda uma população recém-liberta sofria com o preconceito e com a violência que existia no país desde a sua fundação enquanto uma elite de fidalgos garantia a manutenção de seus grandes privilégios concedendo pequenos favores para pessoas incapazes de progredir sozinhas justamente por culpa de quem fingia as favorecer, no Nordeste o banditismo rural tomava uma forma totalmente particular: o cangaço.
Os fazendeiros se negavam a contratar os ex-escravos. Eles se negavam a pagar por quem antes trabalhava gratuitamente. Os libertos, por sua vez, preferiam se dedicar a hortas comunitárias e quilombos ao invés de se submeter aos baixíssimos salários oferecidos.
O Estado decidiu resolver a situação trazendo colonos europeus para as lavouras.
Entre 1870 e 1920 cerca de 1,4 milhões de italianos chegaram principalmente em São Paulo para trabalhar em plantações de café. No mesmo período, mais de 200 mil alemães se estabeleceram em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Depois vieram os poloneses, os russos e ucranianos por conta da Revolução Russa, japoneses com a chegada do navio Kasato Maru, armênios refugiados do genocídio no Império Otomano e sírio-libaneses. Essa foi uma das maiores ondas de imigração do Brasil.
Diferentes formas de criar um lar
Grosso modo, a imigração portuguesa para o Brasil não exigia grande coragem. Eram pessoas que já falavam português e quase sempre tinham uma boa ideia do que as esperava. Fidalgos em busca de um cargo público, aventureiros atrás de fortuna, religiosos visando aumentar o poder da Igreja e degredados procurando redenção (ou novas formas de cometer crimes).
Essas pessoas fundaram cidades como o Rio de Janeiro ou Salvador. Pessoas com interesses pessoais pragmáticos. Personalíssimos. Não raramente, egoístas.
Com seu oportunismo e vassalagem, institucionalizaram um câncer chamado ‘clientelismo brasileiro’. Com sua ambição imoral impregnaram o país com a mais abjeta das instituições: a escravidão. Violência e lascívia. Afinal, 'não existe pecado do lado debaixo do Equador'.
Já com os imigrantes europeus, foi muito diferente.
Homens e mulheres incrivelmente corajosos que se lançaram em uma viagem ao desconhecido. Um país sobre o qual pouco se sabia, com um idioma que não era dominado por eles e sem nenhum tipo de rede social de amparo. Só coragem e boa vontade.
Pessoas que fugiam da guerra, da fome, da miséria, de pestes ou da intolerância. Italianos, alemães, espanhóis e poloneses que não vinham para cá com a finalidade de enriquecer e depois partir. Eles vinham para cá com a intenção de construir suas vidas. Erguer cidades. Criar suas famílias. Sabiam que seria um trabalho duro, mas não eram clientelistas. Não temiam o trabalho.
Acabavam criando laços sólidos de amizades com seus patrícios ainda nos navios. Patrícios que se tornariam seus vizinhos em comunidades muito unidas onde a moral, a civilidade e a religião eram o elemento que uniam todos em uma sociedade baseada na confiança.
Eram pobres, sofriam preconceitos, tentavam sobreviver em um mundo praticamente alienígena para eles e não raramente viram as poucas promessas que o estado lhes fez serem desonradas. Mas não desistiram. Cidades como Blumenau (SC), Caxias do Sul (RS), Pomerode (SC), Bento Gonçalves (RS), Curitiba (PR), Foz do Iguaçu (PR), Maringá (PR) e Londrina (PR) – assim como ricos bairros paulistas como Mooca, Bela Vista, Moema, Jardins, Santo Amaro, Brooklyn, Campo Belo, Bom Retiro, Brás, Vila Mariana, Itaim e Aclimação – não se construíram sozinhos. Foram erguidos pelos Hering, Safra, Bauducco, Nothmann, Klein, Guinle, Matarazzo, Martinelli, Nakaya e Miyasaka. Não por assistencialismo do Estado ou sorte. Por trabalho.
Para os escravos libertos, tudo foi muito mais difícil. Mas não impossível.
Machado de Assis, José do Patrocínio, André Rebouças, Teodoro Sampaio, Luiz Gama, Juliano Moreira, Luíza Mahin, Tobias Barreto, Abdias Nascimento, Alberto Guerreiro Ramos, Henrique Dias, Carolina Maria de Jesus, Chica da Silva e Francisco José do Nascimento foram grandes brasileiros. Todos foram indispensáveis em sua época. Todos orgulhosamente negros.
Em uma realidade cruel onde escravos libertos – agora cidadãos livres – eram cruelmente ignorados pelo Estado que os trouxe contra sua vontade, eles contaram apenas com sua própria resiliência, irmandades religiosas (como a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos), empreendedorismo urbano e especialização profissional (como sapateiros, carpinteiros, barbeiros, ferreiros, costureiras e doceiras) para sobreviver.
Como alemães e italianos, criaram pequenas organizações comunitárias baseadas em confiança. Como libaneses e armênios, viram no comércio uma forma de empreender. E, mesmo sendo imigrantes involuntários, muitos superaram todas as barreiras.
Mesmo excluídos do projeto de nação por políticas racistas e eugenistas, muitas comunidades negras conseguiram escapar da miséria e perseverar por si mesmas.
Entre a República Velha (1889-1930) e o início da Era Vargas (1930-1945) imigrantes europeus chegaram massicamente a São Paulo vivendo em moradias precárias e trabalhando em troca de salários baixíssimos apesar da oportunidade de cultivo próprio. Apesar dos abusos laborais e das grandes dívidas com os fazendeiros, contribuíram para o boom cafeeiro, participaram da industrialização emergente e ascenderam economicamente, formando uma Classe Média.
Nos estados do Sul, os imigrantes focaram em pequenas propriedades agrícolas, criando cooperativas e comunidades autossuficientes. Com menor exploração do que em São Paulo, focaram no assentamento familiar ordenado e puderam encontrar grande prosperidade, inclusive com a industrialização precoce e maior mobilidade social causando um impacto positivo no capital humano e crescimento.
Descendentes de portugueses – no Rio de Janeiro e no Nordeste – já faziam parte da elite ou classe média. No Rio eram comerciantes, burocratas ou funcionários públicos. No Nordeste, eram latifundiários da economia açucareira e algodoeira. Em ambos os lugares, o clientelismo era regra. Mantinha status, privilégios e perpetuava desigualdades históricas, mantendo o controle das terras entre poucas famílias e garantindo o coronelismo na política. Quando a crise do café atingiu os cariocas em 1929, o desemprego assolou sua sociedade. Na Bahia, algo similar ocorria por conta de severas secas.
As populações negras sofriam com a marginalização. Os poucos empregos oferecidos a eles no Sudeste eram precários na construção civil, informalidade e afazeres domésticos. No Nordeste precisavam continuar trabalhando em pequenas plantações decadentes. Houve pouquíssimo avanço na melhoria de renda e na qualificação educacional. Mesmo assim, eles perseveraram.
No Amazonas e Centro-Oeste, indígenas viviam muito abaixo da linha da pobreza. Sem terras ou rendas, viravam peões e sofriam um avassalador declínio demográfico. Políticas como o SPI (Serviço de Proteção aos Índios) de 1910, que visavam integração, resultaram em assimilação forçada e pobreza.
Enquanto o Nordeste definhava ante a concorrência global que os fazendeiros passavam a encarar com secas e oligarquias políticas cada vez mais predatórias onde o clientelismo dominava, a economia carioca estagnava ante uma cidade que crescia desordenadamente com total dependência da administração estatal. Já São Paulo se tornava o coração da economia brasileira e o Sul via sua riqueza crescer simultânea à sua independência governamental.
Nem mesmo a transição para o cacau pôde resolver o problema da Bahia e o declínio econômico no Rio de Janeiro limitava as oportunidades de seu povo.
Uma nova migração
Na parte Nordeste do Brasil nos idos dos anos 30, o coronelismo perpetuava a desigualdade social e a violência rural. O cangaço e secas crônicas aumentavam a miséria. Já em São Paulo, a efervescência cultural modernista promovia a intelectualidade, a imigração européia enriquecia os costumes e festas de rua valorizavam a integração popular. Inovações surgiam da expansão urbana e a prosperidade era fortemente sentida.
Por volta de 1932, uma violenta crise agrária assolou as monoculturas nordestinas enquanto a industrialização paulista ocorria a todo vapor. Inúmeros migrantes desesperados originários do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia ouviam falar das oportunidades paulistas por conhecidos, jornais e até recrutadores. Dessa forma, decidiam tentar a vida em São Paulo, vivendo em cortiços ou em acampamentos improvisados ao redor das grandes obras de infraestrutura e das fábricas.
Havia muito preconceito naquela época. Os migrantes não tinham acesso a um sistema educacional minimamente aceitável e, justamente por isso, eram vistos como ignorantes. A diferença entre os ritmos laborais rurais e urbanos não raramente os fazia serem taxados como preguiçosos. E uma má nutrição somada a um desenvolvimento didático precário afetava muitas pessoas em seu processo fisiológico e até cognitivo.
Aos poucos, a desigualdade social aumentava ainda mais.
Durante a Quarta República, já em meados dos anos 50, o clientelismo se modernizou no Nordeste, criando o coronelismo eleitoral. A pobreza apenas piorava. Enquanto São Paulo destacava-se pela modernidade urbana e a indústria crescia em progressão geométrica.
Fugindo da miséria extrema e de secas que pareciam só piorar, mais e mais nordestinos vinham de Pernambuco, Bahia, Ceará, Paraíba e Alagoas atrás do milagre econômico paulista. Foi a fase mais intensa de migração até então.
Parentes que haviam ido para o Sudeste contavam das oportunidades e incentivavam familiares a virem. Chegavam de trem ou de pau de arara, sendo obrigados a se estabelecer em favelas, loteamentos clandestinos e cortiços. Apesar de serem a principal força de trabalho da cidade, eram marginalizados, recebiam baixos salários e eram desamparados pelo Estado.
Nos anos 60 – já durante a Ditadura Militar – a situação no Nordeste apenas piorava. A violência doméstica era imensa, o conformismo era freqüente e o clientelismo democratizava a miséria. Uma seca histórica havia devastado muitas regiões entre 1958 e 1959. A mídia nacional frequentemente retratava o povo nordestino como subdesenvolvido. Na contramão, São Paulo avançava como meca cosmopolita do Brasil em sua expansão urbana que parecia não conhecer limites com a construção civil pesada e a indústria de bens de consumo duráveis.
Milhares de pessoas do Nordeste rumaram para São Paulo num fluxo tão grande que vilarejos inteiros se esvaziavam. O crescimento desordenado que isso trouxe à capital paulista levou aos caos. Sem nenhum planejamento ou política pública, problemas que iam da falta de estrutura à violência urbana criaram feridas que podem ser sentidas até hoje.
A verdade é que más práticas ligadas ao crescimento urbano desordenado piorou a violência urbana de São Paulo. A brutalidade rural ganhava a cidade.
A partir dos anos 70 o crescimento industrial paulista desacelerou, diminuindo a demanda por mão de obra na construção civil e em indústrias de base. O mercado estava absolutamente saturado, com periferias em profunda carência e menos oportunidades. A cidade até então sonhada por tantos começava a perder seu brilho para novos migrantes.
Embora a migração nordestina tenha sido crucial para o crescimento industrial de São Paulo, a sobrecarga urbana, o aumento da pobreza e da violência, a deterioração da infraestrutura, a piora no trânsito e a importação de práticas clientelistas pioram a qualidade de vida da capital paulista. O fluxo migratório descontrolado, sem planejamento adequado, agravou problemas estruturais em SP.
O êxodo em massa levou à formação de favelas e periferias precárias (ex.: população de favelas saltou de 1% em 1940 para 10% em 1960), com migrantes vivendo em condições subumanas sem saneamento ou água. Isso perpetuou ciclos de pobreza, pois salários baixos não permitiam ascensão rápida, aumentando a desigualdade. A chegada de migrantes sem qualificação diluiu o capital humano, elevando taxas de pobreza de 20% para 35% na periferia entre os anos 50 e 60, sobrecarregando serviços sociais sem contrapartida fiscal.
O crescimento desordenado das periferias fomentou violência urbana, com taxas de homicídios subindo de 10/100.000 em 1940 para 20/100.000 nos anos 1960, associadas a disputas por terra e desemprego entre migrantes. Estudos ligam a migração a um 'choque cultural' que importou práticas violentas do Nordeste (como a honra sertaneja), agravando conflitos sociais. Críticos apontam que a migração contribuiu para o aumento de roubos e banditismo.
Práticas coronelistas vieram com os imigrantes, influenciando eleições locais. Retirantes vulneráveis votavam em candidatos que ofereciam favores (como empregos públicos e cestas básicas), perpetuando populismo (como o de Adhemar de Barros). Isso diluiu o 'voto qualificado', com o aumento de corrupção e a ineficiência administrativa.
Quando a cidade já não mais comportava tamanho fluxo de migração e deixou de ser um destino atrativo, outro lugar deveria ser seu novo oásis. Pessoas vitimizadas por suas próprias más decisões políticas não tinham expectativa de melhoria para sua terra natal, então começavam a procurar novos locais onde melhorar a vida... e superpovoar novamente.
Eis que surge o Sul
A inflação alta que tornava a vida ainda mais difícil nos grandes centros urbanos reduziu a migração nordestina entre 20% e 30% no Sudeste ainda nos anos 70. O agronegócio de Goiás e do Mato Grosso se tornava tão atrativo quanto a Zona Franca de Manaus, no Amazonas.
Nos anos 80 o massivo investimento federal como a criação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) levou ao crescimento nordestino. Cartas de parentes que tentaram a sorte na fronteira agrícola do Centro-Oeste ou nas oportunidades trazidas pela mineração e pela borracha no Norte diminuíram o fluxo de migrantes para SP em 40%. Na década posterior, esse número chegou a cair pela metade.
Programas assistencialistas pouco eficazes como o Bolsa Família e um pesado investimento no crescimento artificial do Nordeste derrubaram o fluxo migratório para o Sudeste em até 70%, mas uma nova leva de migrantes começou a se interessar pela alta industrialização do Sul e pelas muitas oportunidades em outros países graças ao que viam na internet.
Na década de 2010 – e pela primeira vez na História recente – São Paulo passou a ter mais pessoas indo embora da cidade do que vindo morar nela. Santa Catarina se tornou o novo alvo para a migração em massa de pessoas vindas do Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e até mesmo do próprio Sul (Paraná e Rio Grande do Sul).
Pessoas de todas as regiões acabaram indo para o estado tentar a vida.
Uma multidão do Ceará e da Bahia chegou ao Litoral Norte Catarinense (Balneário Camboriú, Itajaí e Itapema) atrás de empregos na construção civil e no setor de serviços e turismo. A Grande Florianópolis (Florianópolis, São José e Palhoça) recebeu uma série de empreendedores e famílias abastadas vindos de São Paulo e do Rio de Janeiro em busca de mais qualidade de vida, segurança e infraestrutura. Uma enorme massa de nordestinos rumou para Joinville atrás de oportunidades na indústria metalmecânica e de plásticos enquanto outros tantos rumaram para o Vale do Itajaí (Blumenau e Brusque) por motivos similares.
Em dados oficiais do IBGE o estado de Santa Catarina tinha 6,2 milhões de habitantes em 2010. Hoje, em 2025, esse número saltou para 8 milhões. A maior parte desse aumento populacional não se deve a nascimentos, mas sim à migração.
A migração é a principal força motriz do crescimento populacional de Santa Catarina. Enquanto em muitos estados brasileiros o crescimento se dá predominantemente pelo saldo entre nascimentos e mortes, em Santa Catarina, mais de 70% do crescimento populacional entre os censos de 2010 e 2022 pode ser atribuído à migração de pessoas de outras partes do Brasil e, em menor grau, do exterior.
O câncer do crescimento populacional migratório desordenado que praticamente destruiu São Paulo no século passado, está tomando nossa terra de assalto.
Os problemas com a migração desenfreada
O Nordeste é uma região muito bonita, porém castigada por um clima inclemente e cujo povo – geralmente gentil e acolhedor – sofre com um ciclo de empobrecimento socioeconômico e cultural que tem origens complexas indo da política clientelista às secas e o banditismo.
Isso, infelizmente, gerou péssimos hábitos com o passar das gerações.
Práticas profundamente negativas como o coronelismo perpetuam a corrupção e a dependência de elites locais via favores pessoais, inibindo desenvolvimento democrático e fomentando desigualdades sociais. O machismo enraizado limita mulheres a papéis secundários, com violência doméstica e casamentos arranjados refletindo patriarcalismo colonial.
Fatalismo religioso e resignação à pobreza, agravados por secas crônicas, promovem passividade perante problemas sociais, como fome e migração forçada e o cangaço, com suas vinganças familiares e brutalidade, simboliza violência rural e instabilidade social.
Instituições fracas, baixa capacidade de formação acadêmica ou profissional somada à subnutrição que geram sérios problemas fisiológicos que vão da saúde frágil à uma cognição menos desenvolvida e um costume de vida que preconiza o pragmatismo em detrimento da abstração por mera questão de sobrevivência pioram ainda mais a situação daquele bom povo.
Isso não mudou do Século XX para cá.
Hábitos negativos persistem, como clientelismo adaptado, com elites manipulando votos via assistencialismo estatal, perpetuando corrupção e dependência em programas como Bolsa Família. Machismo e violência contra a mulher continuaram enraizados, com altas taxas de crimes passionais. Fatalismo e resignação à pobreza, agravados por secas recentes, fomentaram dependência de remessas migratórias, inibindo empreendedorismo local.
E, para piorar, pessoas absolutamente imersas na pobreza (material, intelectual e de costumes) – incapazes de perceber suas próprias limitações e grilhões, falta de autocrítica típica do Efeito Dunning–Kruger – começam a tentar minimizar a cultura de disciplina e confiança de locais que, ao contrário de sua terra natal, deram certo. É a vítima de xenofobia sendo xenofóbica...
Se antes dos anos 50 a cultura paulista destacava-se pela efervescência modernista, com intelectuais como Mário de Andrade promovendo valorização da cultura popular via artes e folclore, fomentando inovação e integração social em cafés e teatros e o associativismo de imigrantes europeus enriquecia diversidade, com festas comunitárias e culinária multicultural promovendo solidariedade e cosmopolitismo, a migração nordestina entre os anos 30 e 60 alterou isso, sobrecarregando infraestrutura urbana: favelas cresceram (de 1% para 10% da população em 1960), com saneamento cobrindo apenas 50%, levando a epidemias e enchentes devido ao crescimento desordenado.
A Segurança Pública piorou, com homicídios dobrando nos anos 1960, atribuídos a conflitos em periferias e 'choque cultural' importado, como vinganças familiares, diluindo o cosmopolitismo paulista, introduzindo clientelismo eleitoral e dependência assistencialista, agravando corrupção e decisões políticas ineficientes.
A então brilhante paulicéia praticamente colapsou.
Mas é importante entender uma coisa: isso não é culpa do POVO nordestino. Pessoas das classes mais altas do Nordeste optaram por ficar em sua terra, onde viviam confortavelmente.
Pernambucanos, paraibanos e alagoanos e Classe Média também migraram para São Paulo, mas não como retirantes. Eram estudantes, profissionais qualificados ou investidores que rapidamente foram assimilados pela sociedade paulista, com a qual contribuíram ricamente.
Em contraste com o nordestino pobre que migrou como retirante em paus de arara e enfrentou adaptação difícil sendo confinado a periferias por falta de qualificação e contribuindo involuntariamente a problemas como sobrecarga de infraestrutura (favelização) e violência urbana, o nordestino com dinheiro e cultura foi bem recebido pela sociedade, apesar de alguns preconceitos.
A verdade é que o que destruiu o crescimento cultural e econômico da Terra da Garoa não foram as pessoas do Nordeste, mas sim os péssimos hábitos e costumes trazidos por migrantes a quem foi imposta uma vida de miséria e pobreza (em todos os sentidos) desde a nascença.
Como impedir que o que ocorreu em São Paulo se repita em Santa Catarina?
Não é raro vermos exemplos de migrantes que insistem em não respeitar as tradições das terras onde buscam acolhimento. “Em Roma, como os romanos” é uma máxima que muitos parecem desconhecer. Não há como desobedecer as regras do anfitrião e esperar ser bem-vindo.
Recentemente circulou pela internet um vídeo onde um enorme bolo é ordenadamente distribuído no aniversário de Brusque (SC). Alguns imbecis – acostumados à animalidade que normaliza gente bestializada colocando fatias de torta com pás em sacos plásticos de supermercado – resolveram criticar o ato chamando civilidade de “frescura”.
Indivíduos que vivem em sociedades tão disfuncionais ao ponto de entenderem o individualismo como único caminho possível são incapazes de compreender sociedades baseadas na confiança e são intelectualmente tão limitados que confundem educação com fraqueza. Homens e mulheres em geral apáticos que tomam latido por bravura. Pessoas cuja incultura é disfarçada como ‘costume’ pela sua própria incapacidade de ser melhor.
E isso não tem a ver com uma região: tem a ver com uma mentalidade. A baixeza moral de quem muito pouco valor tem e tende a crer que todos são tão descartáveis quanto eles.
Há culturas superiores, sim. E é um engano covarde crer que não. Comunidade com alto nível de confiança entre os seus, fortes vínculos comunitários e profundos laços de respeito são objetivamente superiores a locais onde imperam o oportunismo, individualismo e desrespeito. E o índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desses lugares apenas confirma isso.
Todas as regiões já passaram por intempéries naturais e também receberam investimentos governamentais, mas algumas prosperaram. Enquanto umas negaram o clientelismo barato, outras se tornaram reféns justamente de quem as tornava miseráveis.
E tudo bem. Acontece. Ninguém tem culpa pelos atos de seus antepassados. Mas não há como mudar a realidade que se vive antes de mudar a si mesmo. E muitas dessas pessoas não apenas se negam a mudar, como tentam impor a locais bem sucedidos a mesma miséria que os fez fugir de seus lares. “Chiquinha acharia esse povo do Sul tonto”, comentou alguém no X. “E a Dona Florinda acharia você e pessoas como você gentalha”, eu poderia responder.
E essa mentalidade se espalha como rastilho de pólvora.
Assim como os portugueses vieram ao Brasil apenas para explorar os recursos sem criar família ou gerar uma infraestrutura comunitária eficiente (como fizeram alemães e italianos aqui ou ingleses nos Estados Unidos), alguns migrantes apenas querem explorar as oportunidades da terra que os recebe, deixando-a com o ônus de sua presença depois que ela já não os interessar mais. Foi exatamente o que ocorreu com São Paulo e vai ocorrer com Santa Catarina.
E essa verdadeira praga de gafanhotos é um câncer que alimenta ainda mais um preconceito regional que infelizmente já existia, vitimando excelentes migrantes do Nordeste, do Norte, Sudeste, Paraná e Rio Grande do Sul que desejam estudar, se especializar, trabalhar, empreender, investir, criar família, vínculos, raízes e melhorar a sociedade.
Se nos anos 50 uma massa de cidadãos nordestinos – com alfabetização de cerca de 22% - se viu obrigada a rumar para São Paulo movida pela necessidade, buscando empregos sem planejamento de longo prazo e ocupando funções subalternas que sustentaram a industrialização em uma busca por sobrevivência imediata que pode ser vista como 'extrativista' no sentido de explorar oportunidades econômicas sem raízes permanentes iniciais e mantendo-se apartados da sociedade, hoje a situação é consideravelmente diferente.
O Governo Federal tem políticas públicas vergonhosamente ineficientes para, por exemplo, combater a seca e os problemas estruturais nordestinos. A exemplo disso, podemos estimar que já foram investidos – no mínimo – US$ 167,8 bi (US$1,5 bi com a transposição do Rio São Francisco, US$31 bi com o Bolsa Família, US$3,9 bi no Fundo Constitucional do Nordeste, US$270 mi na SUDENE e US$ 131,2 bi no Novo PAC executado até 2024). Para um retorno de um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 258,3 bi, um resultado de 53,93% em aproximadamente 100 anos de investimento. Lembrando que a criação de Las Vegas no meio do Deserto de Nevada custou em torno de US$ 25,5 bi (US$4,3 bi o Resorts World, US$8,5 bi o CityCenter, US$3,7 bi o Fontainebleau, US$3,9 bi o Cosmopolitan, US$2,7 bi o Wynn, US$1,6 bi o Bellagio e US$565 o Mirage), tendo retornado um PIB de US$ 152,4 bilhões no ano passado.. . um retorno de 497,6% em 120 anos. Apenas UMA cidade contra uma região com diversos estados.
Isso sem mencionar Dubai, que custou algo próximo a US$ 57,3 bi (US$ 12 bi a Palm Jumeirah, US$ 1,5 bi o Burj Khalifa, US$ 1 o Burj Al Arab, US$ 7,6–7,8 bi, US$ 7,8 bi as linhas de metrô e US$35 bi os aeroportos), rendendo aproximadamente US$ 125,2 bi em 2024 (um resultado de 118,5% em apenas 54 anos). Ou mesmo o projeto Nova Canaã da Igreja Universal que custou R$ 14,4 milhões abrigando cerca de 2.374 famílias em 500 hectares com apoio do governo da Bahia e atendeu 600 alunos. Ou o Projeto Mais Água, a Love Together Brasil, a família Canhedo (doadora da Água da Vida), o projeto Conectando Amor no Sertão da Visão Mundial.
E o que Las Vegas, Dubai e tantos projetos sociais importantes têm em comum? Eles funcionam por não seguirem maus hábitos clientelistas e não desviam o dinheiro que deveria ajudar gente miserável para os bolsos de latifundiários multimilionários e ladrões.
Quase R$ 1 trilhão de investimento já deveria ter sanado o problema há muito tempo.
É necessário que os estados que são destinos para os migrantes se adaptem a eles? Parcialmente sim. Planos diretores rigorosos para limitar expansão desordenada (como a favelização), qualificação profissional de quem chega para a melhor adequação ao mercado de trabalho e inclusão social são importantes. Mas só isso não basta.
É necessário que os municípios criem limites migratórios estabelecendo quotas anuais para o recebimento de novos cidadãos, bem como uma triagem rígida baseada em qualificação prévia e intenção (como se faz ao emitir vistos, determinando se a pessoa já tem onde ficar e local para trabalhar). Mas o Governo Federal também deve agir proativamente, começando por uma redistribuição fiscal e alteração no Pacto Federativo que sufoca o Sul e o Sudeste, sem falar numa discussão real e honesta sobre o Artigo 19 da Constituição Federal.
Incentivos para o retorno, como o Volta para Tua Terra (inspirado em iniciativas dos anos 80) que davam microcréditos para levar as pessoas a retomarem suas vidas em seus lares natais devem ser repensados: será que queremos uma migração predatória de sobrevivência que visa apenas extrair recursos ou deveríamos incentivar a mudança da mentalidade (e até dos costumes) dessas pessoas para que se adéqüem à nova realidade, se tornando cidadãos importantes para a comunidade?
Isso, claro, esbarraria na cantilena politicamente correta que prega não haver uma cultura superior à outra. Besteira fora de contexto. Cultura aqui não se refere a tradições artísticas, mas sim a visões de mundo. Os números mostram que algumas visões prevalecem perante outras, como é o caso dos alemães, chineses, americanos, japoneses e israelenses. Não sejamos tolos: o cético desconfia de grandes engenharias sociais e da ideia de que tudo deve ser mudado para que se possa começar do zero porque JAMAIS se deve aceitar conselhos construtivos de quem nunca construiu nada de realmente útil ou perene.
Devemos lembrar que algumas pessoas – por desespero ou falta de instrução – foram levadas a trocar seus votos colocando no poder justamente quem as deixa pobres.
ACM Neto (União Brasil) descendente de oligarcas baianos com raízes em capitanias e plantações escravistas no Recôncavo. A família de Renan Calheiros (MDB) está ligada a coronéis canavieiros e escravagistas do século XIX, com herança de violência rural. José Sarney descende de latifundiários maranhenses com origens em capitanias e escravidão. O ministro Flávio Dino do STF é herdeiro de uma família com raízes em coronéis maranhenses e disputas fundiárias escravistas. Assim como Ciro Gomes, de uma tradicional família de oligarcas.
ACM Neto foi prefeito de Salvador (BA). Renan Calheiros foi ministro da Justiça e senador. José Sarney foi governador do Maranhão e presidente da República. Flávio Dino foi governador do Maranhão. E Ciro Gomes foi governador do Ceará.
João Campos – o prefeito de Recife (PE) com uma atuação pífia e muito carisma nas redes sociais – é herdeiro da família Arraes-Campos que era de coronéis e latifundiários donos de escravos. Um rapaz cuja descendência é escravagista governa uma cidade com uma população de 65,7% de pessoas negras ou pardas. Inacreditável. Pior: ele fez campanhas salientando sua consangüinidade, legado e olhos claros em uma iniciativa que pode ser entendida como insensível na melhor das leituras ou até mesmo como incrivelmente racista.
Enquanto o clientelismo continuar entranhado nessas pessoas, não tem como encontrar prosperidade. Eles serão um alvo fácil para todo o sociopata populista barato que aparecer. Seja Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Ademar de Barros, Lula ou Bolsonaro.
É um ciclo vicioso que precisa desesperadamente ser quebrado em uma República que já tem o seu início em um golpe de Estado (graças ao Marechal Deodoro da Fonseca).
E esse tipo de prática – que empobrece o Nordeste e ofuscou sensivelmente o progresso sócio-econômico e cultural de São Paulo – além de destruir a terra natal dessas pessoas é reproduzido aqui, quando repetem suas péssimas práticas eleitorais contribuindo para empobrecer um lugar cujo único erro foi recebê-los e lhes oferecer oportunidades.
Pergunte a um texano sua opinião sobre as práticas eleitorais californianas no Texas.
Um prato cheio para polêmicas vazias e canalhas
Sempre que São Paulo, Santa Catarina ou Rio Grande do Sul se revoltam por pagar as contas do Brasil, é a mesma história: acusações criminosas de xenofobia e preconceito. Como se a parte mais produtiva do Brasil fosse obrigada a pagar calada as contas da parte mais improdutiva sem sequer ter o direito de reclamar.
Claro que em um país moralmente falido onde se fala em dar uma segunda chance a um assassino que tirou qualquer segunda chance de uma mãe de família e arrota-se uma falsa ética defendendo o direito de ir e vir de um mendigo que não defende o SEU direito de ir e vir, os valores se inverteram. Afinal, como aprendemos na Revolução dos Bichos de George Orwell: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”.
Vivemos numa nação onde muitas instituições estão infiltradas pelo crime organizado e justamente por isso o tratamento dado a esse tipo de escória (ladrões, assassinos, etc) é cada vez mais leniente contando até com sentenças judiciais surreais (como o juiz que soltou um sujeito que portava 224 quilos de cocaína alegando que a quantidade de droga ‘não foi exacerbada’).
Recentemente soubemos de imigrantes brasileiros que – além de criar problemas em Portugal e piorar o preconceito contra nós – estão começando a favelizar pequenas áreas urbanas ao ponto de um influenciador ligado às alas mais acéfalas da Esquerda ir ao local para ‘ensiná-los’.
Para viver em Portugal (considerando visto, passagem aérea, alojamento, transporte e despesas adicionais) é impossível gastar menos de R$ 25 mil por pessoa. Isso sem mencionar que a imigração portuguesa costuma exigir que o requerente tenha, no mínimo, o valor de 12 meses de salário mínimo português, totalizando cerca de R$ 62 mil. Você tem R$ 25 mil para essa empreitada? Dispõe de R$ 62 mil como fundo garantidor? A maioria das pessoas não. Então como um desempregado consegue? Mesmo ilegalmente, ele vai precisar investir (e será em Euro). A não ser que alguém o financie. Mas quem? E que retorno teria? O crime organizado? Faria sentido considerando que seu poder emana das favelas e que ambicionam expandir-se internacionalmente há muito tempo. Mas é apenas uma dúvida genuína MESMO.
Se não somos um narcoestado, estamos muito perto disso. E você acha que o crime organizado não poderia se valer da migração para estender seus tentáculos?
Não faz muito tempo que viralizou o vídeo de um idiota chamando pessoas para ajudar a criar favelas em Itajaí. Inadmissível. Favelas são um erro. Uma prova de que o Estado falhou. São pessoas pobres e trabalhadoras vivendo sem esgoto e à mercê de criminosos no mais absoluto abandono governamental. Favelas não devem existir em lugar nenhum. E esse sujeito quer trazer a sujeira – a vergonha da incapacidade estatal da sua terra – para cá.
Mas criticá-lo é se tornar alvo de acusações dementes de xenofobia. E o casal de Pomerode que foi atacado nojenta e covardemente pelas redes sociais por ter um lindo bebezinho loiro? Não é xenofobia? Não é preconceito? Não... pra essa gente só podemos apanhar, não revidar.
Tolerância demais é fraqueza.
E esse tipo de imundice está reacendendo um discurso que pode se tornar muito perigoso: o separatismo. Começou na segunda eleição de Dilma e só piorou desde então...
Mas sejamos sinceros: era previsível que chegaria nesse ponto. A covardia institucionalizada forçando o forte a se submeter calado ante o fraco logicamente causaria revolta. Não há justiça quando se oprime alguém. E, infelizmente, não é raro o oprimido sonhar se tornar o opressor.
O povo do Nordeste não tem culpa de sua própria tragédia. É um povo forte que sobreviveu ao insuportável enquanto pôde. Mas, em parte, tem culpa dos políticos que elege. E, não raramente, busca disseminar nas regiões por onde migra as mesmas ideologias nefastas.
Minha mãe é nordestina. Minhas tias. Primos. Pessoas extraordinárias. Cultas. Honestas. Trabalhadoras. Que sofrem na mão de uma maioria inculta e incapaz de perceber os contínuos erros que cometem. Meu pai é paulista. Meus avós, italianos. Eles conheceram São Paulo antes e depois da praga que a assolou. Praga que tem a ver com uma mentalidade, não com um povo.
E se você culpa o povo, você está errado. Há catedráticos intelectualmente respeitados e comunitariamente fundamentais em todo o Nordeste fazendo trabalhos seriíssimos. Ao passo que há ignorantes burros e oportunistas pilhando caminhões tombados nascidos em simpáticas cidades catarinenses. NÃO É UM POVO NEM UMA REGIÃO, é uma mentalidade.
E seus políticos fomentam tudo isso. De forma mesquinha e ordinária eles mantém seu povo na pobreza e na ignorância perpetuando uma tragédia secular e atacando com veemência qualquer um que questione a migração desordenada. Mas é claro que atacam: para eles, quanto mais pessoas pobres vierem para Santa Catarina menor será a pressão social que eles mesmos sofrem em seus estados. Dá uma falsa impressão de melhoria sem nada ser feito.
Pessoas somíticas e ególatras incapazes de pensar no bem-estar de sua própria sociedade.
Cito um exemplo. Ailton de Souza (PL) – o Ito – presidente da Câmara de Vereadores de Blumenau tem um projeto que lhe é muito caro: ele quer que o Legislativo Municipal enfim tenha sua sede própria. E até já conseguiu um prédio para isso. Eis que, essa semana, ele abriu mão do prédio o oferecendo para que Blumenau não perca sua Policlínica.
Esse grau de abnegação em prol da comunidade demonstra profundamente o senso social de uma cidade baseada na confiança. Políticos clientelistas fariam isso? Jamais. A eles valeria muito mais ter o nome nos anais da História do que pensar no bem comum.
Em um programa de rádio, um secretário municipal paraense criticou fortemente Santa Catarina, chamando nosso povo de ‘racista’ e dizendo que deveríamos aprender com seu estado como ser ‘acolhedores’. Muito bem, secretário... toda a inflação de demanda, especulação predatória e aumento abusivo de preços que estamos flagrando em Belém (PA) para a COP30 é o seu exemplo de ser ‘acolhedor’? Por que isso apenas envergonha os milhares de cidadãos paraenses que saem de seu estado para recomeçar suas vidas em outros locais como esteticistas, balconistas, advogados, médicos, engenheiros ou encanadores.
Ou afunilamos o tipo de migrante que permitimos entrar (revendo urgentemente o Artigo 19 da Constituição Federal) ou uma onda ainda pior de revolta pode, sim, se tornar xenofobia verdadeira a atingir injustamente os migrantes que tanto teriam a contribuir com nosso povo.
O Canadá tem um sistema de pontos desde 1967, avaliando migrantes por idade, educação, experiência profissional e proficiência lingüística. A Suécia combina controles migratórios rígidos com políticas de asilo humanitário. A Alemanha implementou a Lei de Integração (2016), com cursos obrigatórios de idioma e cultura, além de quotas regionais. A China, desde 1958, tem o Sistema Hukou, que regula migração interna vinculando direitos (saúde, educação) ao local de registro familiar. Outros países aplicam controles de divisas ou até mesmo uma prática (e útil) regra na qual só se pode votar em seu local de nascença por determinado período de tempo (que pode ir de cinco a dez anos).
São locais seriíssimos cujas iniciativas aumentaram a integração migratória em até 85% (caso do Canadá), empregaram 65% dos recém-chegados (Suécia), mantiveram a estrutura e a integração urbana livres de colapsos (Alemanha), além de evitar a favelização (China).
Santa Catarina deveria adotar quotas migratórias, realizar rígida triagem baseada na qualificação profissional, incentivar a busca de empregos formais, usar cadastros biométricos e investir na integração cultural para evitar que a cultura de fora seja imposta a pessoas que podem já estar naturalmente desconfiadas (gerando aproximação e, enfim, acolhimento).
É fundamental levar em consideração não só o migrante, mas também (e principalmente) o morador do local que o acolhe. Não é aceitável punir pessoas simplesmente por viverem em sociedades prósperas baseadas em arranjos funcionais e forçá-las a ver gradualmente sua terra sendo arrasada por comportamentos nocivos que destruíram terras distantes.
Más condições de vida não devem ser importadas e muito menos impostas. A cultura local deve ser mantida e a adequação deve ser de quem chegou, não de quem lá já estava.
Basta lembrarmos que Império Romano do Ocidente – em partes – cai em 476 pela diluição gradual da cultura romana influenciada por povos bárbaros (como os visigodos e ostrogodos), que introduziram costumes tribais, descentralização política e valores guerreiros, enfraquecendo a coesão social e institucional, Não diferente do que ocorreu em São Paulo nos anos 50, com uma massa migratória de 1,5 milhão de pessoas ofuscando o cosmopolitismo paulista com ênfase em trabalho coletivo, inovação industrial e associativismo comunitário e diluindo-o em práticas viciadas como o clientelismo, o fatalismo religioso e o patriarcalismo rural.
Sem esquecer jamais que esse colapso urbano foi fundamental para a fragmentação social que piorou ainda mais a situação das favelas, malocas e cortiços que já existiam desde o malfadado planejamento abolicionista brasileiro. Favelas essas que alimentam o crime organizado hoje.
Ainda usando Roma pala ilustrar: bárbaros como os vândalos massacraram, brutalizaram e saquearam o império explorando fraquezas internas (como a corrupção e o declínio militar), instaurando violência caótica e forçando o apoio de povos muitas vezes negligenciados pelos romanos. Exatamente o que o tráfico faz hoje, explorando a pobreza periférica, os limites das forças policiais, controlando territórios, colocando povos inteiros como seus reféns e gerando violência extrema. Algo que tem corroído o Brasil de dentro para fora.
Rio de Janeiro é o estado com o maior número de favelas no Brasil: são 1.838 aglomerados com 2,4 milhões de pessoas vivendo em condições precárias de acordo com dados do Censo Demográfico 2022 do IBGE. São Paulo tem menos regiões favelizadas, mas conta com um maior número de favelados: são 2,9 milhões de pessoas vivendo em 1.579 aglomerados. Já Santa Catarina tem 211.583 pessoas vivendo em 269 aglomerados.
Cruzando informações do mesmo banco de dados (de 2022), podemos concluir que – na época – São Paulo tinha 44,4 milhões de habitantes, seguido por Rio de Janeiro com 16 milhões. Santa Catarina tinha apenas 7,6 milhões. Na prática, isso significa que 14,9% dos cariocas era formado por uma população favelada, contra 6,5% dos paulistas e apenas 2,7% dos catarinenses. Não casualmente, o Rio foi o estado mais dominado pelo crime organizado naquele ano e Santa Catarina teve a segunda menor taxa de homicídios do Brasil.
Simplesmente não podemos deixar o crescimento desordenado tomar nossa sociedade planejada e práticas individualistas (e, às vezes, quase tribais) contaminar nossa comunidade baseada em confiança. Não é porque um ideal que se provou historicamente eficiente deixou de ser popular entre as massas que seus resultados devem ser esquecidos. Pelo contrário. Devemos lutar para que experiências sociais bem sucedidas sejam replicadas, não destruídas.
Não devemos aceitar que maus políticos que destruíram suas terras por incompetência e corrupção em sua sanha clientelista nos exportem a responsabilidade de lidar com a miséria que eles mesmos criaram. É insanidade não perceber a disparidade dos números.
Florianópolis é a capital brasileira com o maior IDH (0,847), contrastando com a alagoana Maceió, lar de Fernando Collor de Mello, com o menor IDH (0,721). Floripa também figura na lista das cinco cidades mais procuradas por turistas domésticos e estrangeiros. Ela também ostenta os títulos de ‘melhor qualidade de vida’ e ‘lugar mais procurado para a moradia’. Maceió novamente está do lado oposto. A verdade é que enquanto milhões de pessoas sonham morar na capital catarinense, dúzias de milhares fogem da capital alagoana.
E é nosso dever moral impedir que essas pessoas nos afoguem no afã de não se afogar. Não devemos nivelar por baixo, democratizar a mediocridade, banalizar a incivilidade, aceitar a pobreza de costumes de pessoas que sequer se importam em falar corretamente o idioma do país em que nasceram e que deveriam usar para se comunicar. Devemos dar oportunidade para quem a deseja, mas rechaçar o proselitismo clientelista e a violência quase cultural.
Não devemos desgostar de nossos irmãos brasileiros de todas as regiões, mas também não devemos tolerar que nossa terra seja desrespeitada. Devemos, sim, criticar maus gestores que exportam a miséria de cidades condenadas a ter péssimos serviços públicos pela corrupção. Devemos apontar sua falta de caráter com veemência, porque enquanto eles enriquecem imoralmente seu povo padece e nosso lar sofre as consequências de um fluxo migratório descontrolado: seja do Pará, Alagoas, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná ou Rio Grande do Sul.
Mas eles vociferam com nossa indignação. Como se não fosse nosso direito. Porque eles nos querem fracos. Porque tomam educação por covardia. Confundem gentileza com passividade. Civilidade com mansidão. Querem forçar uma percepção de que – para ser bom – o indivíduo deve aceitar todos os abusos e arbitrariedades sem reclamar. Sabe quem pensava assim? George Robert Price.
George R. Price foi um geneticista populacional na década de 60 que desenvolveu uma fórmula matemática se propunha a explicar a evolução do altruísmo por meio da seleção natural, mostrando como traços de gentileza poderiam se espalhar em populações via parentesco genético ou benefícios grupais. Sua tese principal era que o altruísmo não era uma virtude moral pura, mas uma estratégia evolutiva egoísta no nível genético, onde atos "generosos" beneficiam genes compartilhados. Então ele decidiu se tornar um exemplo vivo disso.
Por muitos anos viveu apenas dando, sem pedir nada em troca. Isso o deixou na miséria, com sua saúde debilitada física e mentalmente. Por fim, ele concluiu que o verdadeiro altruísmo desinteressado era impossível entrando em uma crise existencial que o consumiu. Sua obsessão por um ideal de bondade absoluta, impulsionada pela equação que ‘desmascararia’ o egoísmo humano, levou-o a uma busca autodestrutiva por perfeição altruística. Ele ignorou limites pessoais e mentais, resultando em isolamento, pobreza voluntária e depressão profunda, ignorando que o altruísmo real envolve equilíbrio, não martírio extremo.
Por fim, vivendo nas ruas louco e doente, ele acabou tirando a própria vida em 6 de janeiro de 1975, cortando a garganta em uma ocupação londrina onde vivia em condições precárias após doar seus bens. Pouquíssimas pessoas foram ao seu funeral.
Isso significa que a positividade tóxica vai tirar tudo que você tem e, quando enfim levar sua vida, as pessoas que você tentou ajudar sequer se importarão.
Não cometa esse erro. Não seja passivo. Manso. Covarde. Reaja. Ajude quem precisa – se merecer – mas não às suas próprias custas. Se agredido, se defenda. Revide. Não dê a outra face. Dois milênios atrás um bom homem deu a outra face e sua recompensa foi a morte. Além de humilhação e vilipêndio por parte de quem o ridiculariza constantemente.
O Liberalismo criado pelo filósofo inglês John Locke no século XVII acreditava que a autoridade do governo deriva do consentimento das pessoas e inspirou grandes nomes como o iluminista escocês Adam Smith e o pai do Conservadorismo moderno Edmund Burke, mas enfrenta barreiras no século XXI que se mostram muito mais práticas do que teóricas.
A Europa, por exemplo, tem sofrido com sua política imigratória de ‘portas abertas’ especialmente desde 2015. Sob a legítima intenção de acolher refugiados da África e do Oriente Médio, a União Européia sobrecarregou seus sistemas sociais, viu uma crescente tensão cultural culminar em abusos inadmissíveis de direitos humanos. A crise chegou ao ponto de obrigar o bloco a reforças fronteiras com países africanos, cortar financiamentos imigratórios e reduzir chegadas irregulares em 30% no primeiro semestre desse ano para tentar estancar a superlotação em campos de refugiados, o aumento de xenofobia, a pressão econômica e falhas na integração que levam a guetos urbanos e instabilidade social.
O fluxo migratório extrativista é extremamente negativo. Fosse dos colonizadores portugueses, dos refugiados na Europa ou dos migrantes nordestinos em São Paulo. Em todos os casos, o resultado foi a diluição de identidades locais e a sobrecarga de sistemas, perpetuando ciclos de pobreza e instabilidade. Por fim, um caos que leva ao extremismo.
Na Alemanha, por exemplo, a crise gerada pela imigração desencadeou uma sobrecarga nos serviços públicos, tensões sociais severas e problemas econômicos, reascendendo uma xenofobia real. Crimes (especialmente sexuais) cometidos por refugiados revoltaram a população e o aumento do preconceito étnico subiu para 20% desde 2020 contra muçulmanos e africanos. O Alternative für Deutschland (AfD) – partido que traz um forte discurso anti-imigração qualificando-os como ameaças culturais e econômicas – expandiu sua popularidade no leste do país alcançando 30% dos votos em eleições regionais. Ataques a centros de refugiados aumentaram 15% desde o ano passado.
Isso, infelizmente, nos remete aos anos 30, quando refugiados judeus fugindo de pogroms e ciganos foram usados como bodes expiatórios para promover o supremacismo ariano levando ao poder o partido nazista de Adolf Hitler e culminando no Holocausto... uma das maiores tragédias humanitárias da História. Que, infelizmente, parece querer se repetir.
Não raramente, a intolerância é a resposta irracional a um abuso percebido (real ou não).
O Liberalismo Clássico fracassou no caso da União Européia. A ênfase em liberdade individual, mercados livres e estado mínimo falhou em gerenciar a imigração descontrolada porque necessitava da intervenção estatal para controlar as fronteiras, a integração e o equilíbrio regional, levando a fluxos irregulares sem triagem, agravando problemas sociais sem regulação estatal efetiva.
Mesmo na Argentina de Javier Milei – um respeitado liberal – reformas com intervenção estatal cortaram inflação de 211% (em 2023) para 43,5% (em 2025), gerando superávit orçamentário e crescimento GDP de 5,8% no Q1-2025. Mas com austeridade estatal para estabilizar a economia. Nayib Bukele, em El Salvador – mesmo sob estado de exceção – usou do poder estatal para exterminar quadrilhas e cartéis, reduzindo homicídios de 38/100.000 (em 2019) para 2/100.000 (em 2025). Em ambos, mesmo em contextos liberais, o Estado foi essencial para recuperação econômica e segurança, contrastando com o 'menos estado' europeu que resultou em migração descontrolada.
E quando o problema tange diferenças culturais e visões de mundo, a situação se agrava.
Claro que o problema brasileiro não chega nem perto das discordâncias religiosas que levam a terríveis ataques terroristas, mas quando uma visão rural baseada no indivíduo e no pragmatismo guiada apenas pela vontade se choca com uma visão urbana baseada no comunitarismo de confiança guiada pela disciplina, pela ordem e pela civilidade, os resultados tendem a não ser positivos. Via de regra, para nenhum dos dois lados.
O bom povo do Haiti – que iniciou sua migração para o Brasil após o terremoto de 2010 – estabeleceu-se em locais como Chapecó e Joinville. Com níveis de educação e qualificação mais altos capazes de propiciar uma capacitação mais rápida (segundo dados do OBMigra/2023), cultura de disciplina e pontualidade no trabalho além de ter passado por programas humanitários com triagens que favoreceram perfis produtivos, eles foram mais facilmente assimilados do que os migrantes nordestinos, geralmente com menor qualificação inicial, carregados de hábitos rurais, mentalidade clientelista e advindos de uma migração desordenada, relegando-os à periferização e ao estigma. Venezuelanos, a citar, têm perfis similares aos haitianos: bem formados, rapidamente integrados, produtivos (tidos como versáteis e com baixa rotatividade) e advindos via programas como o Acolhidos por Meio do Trabalho (AVSI), que alcançou 70% de inserção laboral em SC.
Não há como pensar em acolher um povo – seja qual for – sem qualificá-lo, integrá-lo à cultura local e garantir que compreendam o quão nociva é a perpetuação de maus hábitos, como o coronelismo, machismo, revanchismo, imediatismo ou fanatismo religioso. É indispensável que se compreenda que não é aceitável chegar a um local novo e buscar impor seus costumes (sejam quais forem) ou disseminar as mesmas práticas que os fizeram ir embora de suas casas.
Mas o que poderíamos fazer?
Num primeiro momento, estudar formas de restringir a migração desenfreada. Da forma mais amena, criar quotas para migrante e qualificadores. Da forma mais severa, uma rígida triagem que busca até mesmo postagens nas redes sociais onde o candidato possa ter, por ventura, desrespeitado o Sul, seu povo ou costumes (similar ao que os Estados Unidos começaram a fazer na análise para a emissão de vistos em 2019).
Uma revisão no Artigo 19 da Constituição Federal soa fundamental, mesmo que essa tese seja juridicamente controversa. A verdade é que toda a Constituição de 1988 precisa urgentemente de uma revisão e suas leis precisam ser mais duramente aplicadas.
O fato é que não podemos permitir que as coisas continuem sendo como estão sendo até aqui.
Santa Catarina teve um aumento de 20% na população em situação de rua entre 2017 e 2022 segundo dados do IBGE. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Semudes), 73,1% dos mendigos em Blumenau são de outras cidades ou estados, Especificamente, dos 1.710 indivíduos atendidos em 2024, 462 (27%) são blumenauenses, enquanto 496 (29%) vieram de outras cidades catarinenses, 701 (41%) de outros estados e 51 (3%) são estrangeiros. E isso simplesmente não pode continuar assim.
A violência urbana (roubos e furtos) aumentou 10% em Blumenau segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de SC. O vandalismo e a pichação em áreas periféricas também aumentou, bem como os acidentes de trânsito em subúrbios e um incremento de 15% no acúmulo de lixo em zonas de periferia. A Polícia Militar registrou 15% a mais de chamados por som alto com 5.265 casos de perturbação do sossego só em 2020, envolvendo desde brigas domésticas, até música alta, festas inconvenientes e veículos ruidosos.
Uma terra que é ordeira e pacífica, NÂO PODE perder isso. Sua qualidade de vida.
Migrar exige adaptação. E eu sei disso. Em 1992 – então aos 11 anos – eu me mudei de São Paulo para cá. Era um mundo totalmente distinto. Aqui não tinha shopping e nem Mcdonalds. O único cinema estava fechado. As pessoas usavam palavras que eu não conhecia, gírias diferentes e padrões de comportamento novos para mim.
Como migrante, eu não tinha o direito de me rebelar contra o diferente. Até porque se a minha terra natal fosse melhor do que aqui, eu teria ficado lá. Restou uma longa (e difícil) adaptação. Igualmente ocorreu quando morei nos Estados Unidos, Japão e Irã.
O segredo é respeitar a terra que te acolhe. Entender que – quando você é a pessoa nova num lugar – é você quem deve caber nele, jamais o contrário. Isso é, no mínimo, digno.
Dignidade pode ser algo muito singelo. Talvez esteja quase obsoleta. Não há mais muita gente se esmerando em cultivá-la. Outros valores (menos nobres) surgiram. Mas, no final das contas, ela é a única coisa que te pertence, não pode ser tirada de você e te faz ser a pessoa que é.
A Santa Catarina – e Blumenau – cabe a hercúlea responsabilidade de preservar a sua.
O prefeito Egídio Ferrari (PL) iniciou uma campanha pessoal para coibir o aumento da população que vive em mendicância pela cidade. O vereador Almir Vieira (PP) recentemente ganhou o prêmio nacional Top Legislativo por sua proposta de internação involuntária. E, certamente, Almir tem coragem para chamar para si essa pauta tão polêmica quanto necessária.
Bruno Cunha (Cidadania) tem o conhecimento jurídico e a visão crítica aguçada necessária para lidar com o assunto da forma madura e responsável que tal demanda exige. Flávio Linhares (PL) já demonstrou coragem anteriormente ao trazer a Lei Anti-Oruam para Blumenau. Gilson de Souza (União) é um parlamentar honesto, competente e aguerrido que, inclusive, é correligionário de Mateus Batista e Kim Kataguiri. Diego Nasato (Novo) pode trazer uma perspectiva liberal para um tema tão espinhoso. E Silmara Miguel (PSD) tem o olhar acolhedor certo para garantir que nenhuma medida acabe soando desumana.
O fundamental nesse primeiro momento é criarmos o debate, elencarmos os problemas e pautarmos a discussão. E, depois disso, enfim desenvolver as propostas.
O projeto de Batista de exigir comprovação de residência em até 14 dias após a chegada é coerente, embora encontre alguns problemas de constitucionalidade. O sistema canadense de triagem migratória, o suporte humanitário sueco, os cursos alemães de integração à cultura local, a veiculação chinesa de direitos básicos ao local de registro familiar, a regra de atrelar o local de voto do migrante à sua terra natal por dez anos e os projetos asiáticos de moradias populares para evitar a criação de periferias são eficazes, só necessitando de adequação jurídica para a realidade legal brasileira.
O catarinense é ordeiro. Ele não come bolos em festas de aniversário de cidades como se fosse um animal. Semana que vem será o aniversário de Blumenau e teremos uma oportunidade de provar isso. Devemos ser receptivos ao bom migrante e repelir com firmeza o mau migrante e a invasão ‘bárbara’ dele que só se propõe a destruir tudo onde toca.
O Sul não é o meu país, mas é um modelo de sociedade que deu certo e não pode ser destruído por pessoas simplesmente incapazes de segui-lo.
Vamos lembrar que entre 1630 a 1654 os holandeses – liderados por Johan Maurits van Nassau – governaram Pernambuco, numa fase chamada de Brasil Holandês (Nieuw-Holland) que trouxe liberdade religiosa, a fundação da sinagoga Kahal Zur Israel por judeus sefarditas (a primeira das Américas), melhoria na infraestrutura recifense (então Mauritsstad), vinda de artistas e cientistas, aumento da produção açucareira (embora ainda mantivesse lamentavelmente o trabalho escravo), bem como casamentos interétnicos que enriqueceram a diversidade genética e cultural do Nordeste.
E isso só não contribuiu ainda mais para o desenvolvimento do bom povo pernambucano porque os fidalgos portugueses que exploravam a economia açucareira viram seu poder diminuir com o confisco de terras e engenhos que culminou na Insurreição Pernambucana.
A expulsão dos holandeses ocorreu de forma tão pouco inteligente que os próprios fidalgos, depois de seu êxito, tiveram problemas em retomar suas terras e isso gerou prolongados litígios com colonos que permaneceram sob domínio holandês, intensificando tensões sociais.
Lembrando que após a derrota em Recife, a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (WIC) decidiu voltar suas atenções para sua colônia em Nova Amsterdã, a rebatizando como Nova Iorque: a cidade mais importante do planeta. E um grupo de 23 sefarditas que saiu de Pernambuco fundou a primeira comunidade judaica da América do Norte cuja atuação como comerciantes e banqueiros foi tão fundamental para transformar a Big Apple no coração financeiro do mundo.
Então não vamos permitir que pessoas contaminadas por uma mentalidade clientelista que as empobrece e vicia tal como um Ouroboros tupiniquim e alimentadas por maus políticos com intenções tão canalhas quanto eram as dos fidalgos portugueses destruam nossa terra assim como destruíram tanto a sua terra como todas as terras que tentaram lhes acolher.
Quer recomeçar sua vida em Blumenau? Seja muito bem-vindo. Mas entenda que na casa dos outros, são as regras do anfitrião que prevalecem.
Ordenada e respeitosamente, há oportunidade para todos que pretendam honrá-las. O banquete, sim, está na mesa. Mas deve ser dedicado a quem deseja ajudar a cozinhá-lo e, posteriormente, lavar sua própria louça. Não há formas de funcionar de maneira diferente. O mundo não é visto com os mesmos olhos por quem cresceu na properidade e quem teve que crescer na sobrevivência. Mas velhas feridas podem (e devem) ser fechadas. Disciplina, ordem e respeito precisam ser ensinados. A prosperidade deve ser espalhada, jamais a miséria.
O Brasil é uma terra de migrantes. Alguns prosperaram. Outros podem, se realmente quiserem.