Ito e Almir se desentendem por causa de Norberto Ramalho

Wednesday, 05 November 2025
O ex-intendente da Vila Itoupava foi defendido por Almir Vieira em relação às acusações de Ito de Souza. Quem estaria certo?
Na semana passada, o vereador Ito de Souza (PL) apresentou uma grave denúncia contra o intendente da Vila Itoupava, Norberto Ramalho. De acordo com o presidente do Legislativo Municipal, os veículos da intendência estavam sendo usados de forma irregular para suprir as necessidades pessoais de alguns servidores, incluindo Ramalho.
A queixa – protocolada no Ministério Público logo em seguida à fala do parlamentar – acarretou na queda do agora ex-intendente, que se defendeu em um vídeo demagógico onde tenta explicar com muito mais veemência do que é capaz de convencer.
A situação acabou criando um pequeno atrito entre Ito e o vereador Almir Vieira (PP) na sessão de ontem (4).
Pronunciamento de Almir
Na tribuna, Vieira alegou que há casos em que a pessoa é marginalizada antes de poder contar a sua versão dos fatos. Em defesa de Ramalho, o vereador ressaltou o trabalho social do ex-servidor e garantiu que confiava em sua índole.
Entretanto, reconheceu que a infração cometida não é condizente com a função que exercia.
Ainda assim, o progressista repudia o pré-julgamento antes mesmo de um veredicto formal, chamando a atenção para o fato de que a Vila Itoupava é uma comunidade consideravelmente isolada com seu próprio ritmo, cultura e realidade. Quase um ecossistema à parte.
Almir concorda com todas as críticas dirigidas a quem usava os carros oficiais para, por exemplo, buscar e levar crianças na escola, mas discorda do que entende como uma espécie de punição pública excessiva, corroborando com a narrativa do próprio ex-servidor de que fez o que fez para auxiliar um senhor de idade que estava desamparado naquele momento.
Lamentou o que definiu como a “marginalização de um pai de família” e relembrou que Ramalho tem mais de 16 anos de trabalho voluntário na sociedade.
Posicionamento de Ito
Já Ito, em sua fala, reforça que no vídeo feito para se justificar, Ramalho acaba assumindo que cometeu a irregularidade da qual é acusado ao dizer: “auxiliei um senhor de 86 anos – de bengala – que precisava de ajuda para levar um fogão a gás para a casa que ele tinha recém-comprado... e digo mais... eu não me arrependo do que eu fiz... eu faria tudo de novo”.
Afirmando que o homem comprovou a irregularidade no vídeo supracitado, Ito o acusa de usar o caso isolado do senhor de idade avançada para sensibilizar a comunidade da Vila Itoupava, garantindo que as pessoas daquela região não se deixarão manipular por demagogia.
Lembrando que na última sessão de outubro, Ito trouxe imagens onde veículos da Intendência da Vila Itoupava estariam supostamente beneficiando propriedades particulares de forma irregular nas ruas Carlos Hinkeldey e Max Haufe. Em sua explanação, o parlamentar duvida que tais ‘obras’ tivessem a autorização da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas).
Além das narrativas, fatos
A situação de Ramalho é tão delicada quanto vergonhosa. Mas ambos os parlamentares têm pontos favoráveis às suas narrativas.
Quando Almir fala que as pessoas condenam com velocidade e veemência gente que sequer teve tempo ou condições de se defender, ele não está errado. Até porque, ele mesmo já sentiu isso na pele. Todos os dias a internet faz novas vítimas de um tribunal sedento por sangue. E a imprensa tradicional não é muito melhor. Ou já nos esquecemos da Escola Base?
Além disso, é inegável que a sociedade se tornou um lugar hostil aos idosos e que o Poder Público os negligencia frequentemente, apenas aguardando o dia em que não mais estejam entre nós.
Na pandemia, milhares de pessoas mais velhas – que construíram a sociedade em que hoje vivemos quando eram jovens – procuravam vereadores e deputados desesperadas para poder agendar suas doses de vacina, mas sem saber mexer na internet. E muitos parlamentares ultrapassaram o limite da legalidade para amparar essas pessoas, salvando suas vidas. Podemos dizer que é um erro? Legalmente sim, mas moralmente...
Mas Ito também está certo. Norberto Ramalho desrespeitou as convenções legais, se fez de vítima e ainda afirmou que faria novo. Alguém com tal postura, definitivamente, não pode exercer um cargo público. Ainda mais de chefia. Seu desligamento foi necessário.
Ramalho foi reiteradas vezes candidato a vereador desde 2016. No ano passado, fez 3.377 votos. Um resultado bastante expressivo que quase lhe garantiu uma suplência.
O homem que declarou ter R$ 19 mil em bens (uma moto e um carro) é, de fato, uma pessoa conhecida por seus trabalhos sociais desenvolvidos ao longo de quase duas décadas. O que é louvável e demonstra que, apesar de tudo, ele tem uma vontade legítima de ajudar.
Contudo, lei é lei.
Qualquer pessoa de bom coração ficaria tocada pela necessidade de um senhor octogenário com problemas de locomoção. Mas, sendo um funcionário público – e, ainda além, um intendente – Ramalho tinha a obrigação de obedecer o que prega a legislação.
Ele poderia muito bem ter fretado um veículo para ajudar o idoso em questão. Seu salário como intendente era de R$ 15.192,67 mensais (aproximadamente 80% do que ele declarou como sendo todos os bens que possui). Para um homem tão generoso – cujo histórico é tirar de si para dar aos outros – mais do que o bastante para pagar um frete.
Porém, ao usar um carro oficial, ele optou por tirar da coletividade para dar a alguém, poupando o próprio sacrifício. Ficou com os louros de um esforço coletivo involuntário.
Significa que ele seja corrupto? Não. Significa que ele foi burro. Só isso. Ao agir por trás dos panos fazendo uso de algo de uma maneira que não devia, ele acabou inadvertidamente colocando em xeque as intenções de todas as boas obras que fez. E isso é muito delicado quando envolve um candidato a vereador conhecido por cestas básicas. O dano à sua reputação só não foi maior que a má recepção de sua reação demagógica.
Honestamente, Ramalho talvez seja o menor dos problemas. É apenas um homem cuja reação foi mal calculada e que se deixou levar pelo meio, demonstrando uma (preocupante) baixa capacidade de autocrítica que poderá comprometer suas próximas eleições a vereador.
Mas ele era apenas um agente externo. Novo no cargo. A questão que fica é: o uso dos carros oficiais por servidores é uma prática comum? Essa é apenas a base de um iceberg que pode ser muito mais profundo.