Carlos Bolsonaro impõe sua candidatura a SC

Tuesday, 25 November 2025
O vereador carioca desrespeita lideranças catarinenses e desagrada grande parcela dos eleitores do estado ao forçar sua vaga no Senado por Santa Catarina como se fôssemos seu 'rebanho'.
Desde junho deste ano circulava uma notícia de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentaria emplacar seu filho Carlos como senador por Santa Catarina. No final do mês passado, sua pré-candidatura foi oficialmente confirmada.
A notícia gerou uma crise política profunda e um racha significativo dentro da base bolsonarista por ser ora entendido como uma imposição por parte do ex-presidente, ora como uma traição a lideranças locais, desrespeitando a sua meritória autoridade e desonrando acordos pré-estabelecidos.
A família Bolsonaro (obviamente) é a maior defensora da candidatura de Carlos, em contraste à deputada federal Caroline de Toni – a maior prejudicada nessa situação – é uma ferrenha opositora, ao lado de Esperidião Amin (PP), Ana Campagnolo e entidades locais.
Os levantamentos de intenção de voto revelam que o filho do ex-presidente (e atual vereador no Rio de Janeiro) está na liderança da corrida para o Senado, com cerca de 45% das intenções de voto. Por outro lado, a mesma pesquisa do instituto Neokemp indica que a rejeição à sua candidatura chega a 60,6%. De Toni tem 33% e Amin 21% de intenções de voto.
Mesmo conseguindo trazer consigo um eleitorado fiel, Carlos ainda sofre com a altíssima rejeição do eleitorado catarinense e é visto como uma imposição desrespeitosa de alguém que sequer tem sua trajetória atrelada a Santa Catarina.
Apesar de ainda ostentar o título de ‘estado mais bolsonarista do Brasil’, o ato desrespeitoso de forçar lideranças políticas locais a aceitar uma candidatura imposta pode ter o efeito oposto ao que se pretende, causando uma desmobilização silenciosa na base que se sente desrespeitada com a interferência externa.
Em outras palavras: a pré-candidatura de Carlos Bolsonaro transformou a disputa pelo Senado no estado em um dos campos de batalha mais conturbados das eleições de 2026, com potencial para reconfigurar a Direita no estado.
Mas quem é Carlos Bolsonaro?
Nascido em 7 de dezembro de 1982 na cidade carioca de Resende, Carlos Nantes Bolsonaro é o segundo filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele ingressou na política ainda aos 17 anos em uma traumática eleição disputada contra sua própria mãe Rogéria em meio ao divórcio dos pais. Isso o tornou o vereador mais jovem da história do Brasil.
Estudou Ciências Aeronáuticas na Universidade Estácio de Sá e foi autor do Projeto de Lei que pôs fim às votações secretas na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Em seu sétimo mandato consecutivo, ele já passou por partidos como PPB, PTB, PFL, PP, PSC e Republicanos até chegar ao PL, onde atualmente está. Seu recorde foi nas eleições do ano passado, onde fez 130.480 votos, tornando-se o parlamentar mais votado.
Em 2018 seu nome ganhou projeção nacional quando Bolsonaro o creditou publicamente como seu principal cabo eleitoral e o responsável por comandar todo o marketing e a campanha presidencial. Em decorrência desses acontecimentos, o dito ‘Inquérito das Fake News’ do STF/TSE o apontaria como o principal articulador da estratégia digital do governo na iniciativa que seria apelidada de ‘Gabinete do Ódio’.
Sua forte influência sobre o pai o colocou no centro de rotineiras controvérsias, sendo frequentemente associado à queda de diversos ministros do primeiro escalão do governo.
Enfim, as polêmicas
Além de ser apontado como o ‘o2’ de uma máquina usada pelo então governo Bolsonaro para massacrar as reputações de todos os seus opositores e intimidar discordantes pelas redes sociais (além de produzir dossiês), Carlos também está sendo investigado pelo MP-RJ por possíveis fraudes como rachadinhas e funcionários fantasmas no seu gabinete legislativo.
Ele foi alvo de questionamentos e representações no Ministério Público por residir em imóveis funcionais da Presidência da República em Brasília, mesmo não sendo servidor federal, deputado ou senador, configurando suposto uso indevido de bem público.
Além disso, há relatos de compra de um apartamento na Urca (Rio de Janeiro), com transações financeiras sob suspeita de não serem compatíveis com sua renda pública como vereador. A compra teria sido realizada com dinheiro em espécie, levantando suspeitas de lavagem, embora não haja denúncia formal sobre este ponto em específico.
Mas suas maiores falhas residem nas relações interpessoais humanas.
Suas críticas abertas e públicas a Luciano Bivar levaram à rápida deterioração da aliança entre seu pai e o PSL, partido no qual estava filiado até então. Ainda naquela sigla, Gustavo Bebianno morreu com mágoas profundas da família de Carlos. Algo publicamente conhecido por todos.
Ele também causou um terrível mal-estar com o então vice-presidente Hamilton Mourão, a quem acusava de sabotagem e falta de lealdade.
Depois, focou seus ataques em Sérgio Moro, Carlos Alberto dos Santos Cruz, Luiz Mandetta, Joice Hasselmann, Danilo Gentilli, Alexandre Frota, Major Olimpio, Delegado Waldir, Paulo Marinho, Wilson Witzel, João Dória, Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e qualquer outro ‘aliado’ que não aceite se ajoelhar perante todas as vontades daquilo que eles querem tornar uma espécie de ‘família imperial’.
Curiosamente, os alvos são sempre de Direita e jamais seus alegados ‘opositores’ de Esquerda.
Sejamos sinceros
Os bolsonaristas não gostam de ser chamados de gado. E eles têm razão. É um termo pejorativo e profundamente desrespeitoso. Contudo, a família Bolsonaro tem visto Santa Catarina EXATAMENTE como um curral e seus habitantes – pior do que gado – ovelhas passivas às quais um violento abuso eleitoral está prestes a ser imposto.
E além de desrespeitar os eleitores, o clã carioca tem desrespeitado seus aliados.
É o caso de Carol de Toni – que foi apunhalada pelas costas em detrimento de Carlos – e consequentemente Ana Campagnolo, a quem caberia uma vaga na disputa pela Câmara Federal.
Eduardo Bolsonaro – figura com aparentes problemas cognitivos e tristes sinais do Efeito Dunning-Kruger que tem se portado com maior aliado de Lula nos Estados Unidos – se pronunciou de forma autoritária dando a entender que para Carol estar em seu grupo é necessário abrir mão de sua dignidade em favor das vontades de Bolsonaro. Já Jorge Seif – uma figura bisonha com episódios de confusão que beiravam a embriaguez – fez questão de mostrar sua total e absoluta submissão à sua figura masculina dominante: Jair Bolsonaro.
E agora?
Jair Messias Bolsonaro está morrendo. Metafórica e literalmente. Sua saúde é profundamente debilitada e a facada de Adélio Bispo, por fim, está conseguindo matá-lo. Seus aliados mais próximos já admitem que este poderá ser seu último natal. Piorando ainda mais sua lamentável situação, ele pode passar a data preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Com sua fragilidade atual é possível que sequer saia vivo da prisão.
Seus filhos são figuras controversas e mesquinhas. O desrespeito entre eles se tornou público quando mensagens particulares foram vazadas para a imprensa. Eduardo sequer parece disposto a esperar o pai morrer para tentar usurpar seu lugar.
No entanto, apenas a herança financeira ficará com os filhos. O espólio institucional está indo para um vacilante Tarcísio. O capital midiático – o apelo popular – está sendo ostensivamente expropriado por Nikolas Ferreira desde muito antes de ele se comparar a Calebe.
Carlos é o único filho que realmente demonstra respeito pelo pai. Talvez, seja o único que factualmente o ame. Contudo – como parece ser de causas genéticas – ele tende a levar discórdia e desarmonia a todos os lugares onde vai, tentando impor a visão distorcida de sua família a todos com virulência e atacando de forma inclemente quem se opõe a eles.
Os Bolsonaro não são leais a ninguém. Pior... eles não honram ou respeitam nada.
Na metade do século passado, gangues de rua se espalharam rapidamente pelas ruas de várias das grandes cidades dos Estados Unidos. A máfia italiana – que até então dominava o crime organizado com severidade, mas respeito pelos ritos, hierarquias, códigos e pactos – foi profundamente impactada por criminosos independentes e bárbaros que desonravam todos os protocolos, menosprezavam as regras de conduta e agiam com violência, mentira e barbárie. O crime – que já era ruim – ficou ainda pior.
Isso não foi diferente do que ocorreu quando os Bolsonaro saíram do baixo clero ao qual deveriam ter sido eternamente relegados para uma posição de relevância.
A política brasileira sempre foi corrupta, mas seus indivíduos tinham o mínimo de respeito pelos acordos escusos que faziam às escuras e (pelo menos) tinham alguma consideração pelos seus discordantes. Os Bolsonaro mudaram isso. Tal como tribos germânicas atacando Roma, eles pilharam tudo o que puderam e escarraram na ordem pré-estabelecida. O que sucedeu a isso foi o caos e o totalitarismo de quem só almeja o poder... de forma absolutista.
Uma vez com tal poder – no Palácio do Planalto – era constantemente uma guerra. Não contra os moinhos de vento ou contra a Lestásia, mas sim contra seus próprios aliados. Contra aqueles que lhes ajudaram a chegar onde estavam. Uma batalha mesquinha pela supremacia.
Quando porcos moram num castelo não se tornam nobres, mas tornam o castelo um chiqueiro.
A realidade é que Bolsonaro – por todos esses anos – serviu mais à Esquerda do que a combateu. E não me refiro apenas à caça mesquinha que realizou contra lideranças de Direita ou à criação do juiz de garantias, extensão do Bolsa Família (renomeado), sanção do Fundo Eleitoral, restrição de prisões preventivas ou boicote à Lava Jato. Refiro-me a algo mais sutil.
Por anos a Esquerda pintou uma caricatura grosseira e tosca do que seria sua própria visão de líderes de Direita de tal forma que nenhuma pessoa se encaixaria. Até que surgiu Jair Messias Bolsonaro... exatamente o tipo quase impossível de personagem.
Seu governo foi marcado por deslealdades, incoerências e inépcia. Em sua última campanha eleitoral, ele chegou a desmotivar seus eleitores ao colocar as urnas eletrônicas em descrédito. Algo que pode ter custado a ele uma reeleição. Diga-se de passagem: o primeiro presidente a perder uma campanha de reeleição na História do Brasil. Um líder fraco e pouco inteligente.
E essa é a marca que eles deixam. Jair tirou Lula da cadeia. Flávio sabotou a Lava Toga. Eduardo – com suas ações burras e arrogantes – devolveu a popularidade a Lula em seu pior momento. Jair Renan foi para Balneário Camboriú onde se tornou menos que uma piada.
Esse é o legado deles. Discórdia, desarmonia e autoprejuízo. Tal qual uma nuvem de gafanhotos, eles destroem tudo onde tocam. Consomem os recursos até esgotá-los e partem para paisagens mais verdes. Esse é um desrespeito com nosso estado imperdoável.
A maior razão para que Lula ainda seja o favorito no pleito do ano que vem é o boicote somítico que a seita bolsonarista tem feito no grupo do qual tenta se apossar.
E é ISSO que queremos para Santa Catarina? Um estado com tão baixa representatividade no Legislativo Federal vai permitir que um rapaz que apresentou apenas três projetos em 25 anos como vereador no Rio de Janeiro seja seu representante no Senado? O homem apelidado de ‘vereador federal’? Já conhecemos a baixa qualidade de seu trabalho. Vamos aceitar isso?
Carol de Toni e Esperidião Amin são escolhas lógicas e muito mais assertivas. A população catarinense não está vendo a imposição de Carlos com bons olhos. Entidades como a FIESC já se pronunciaram a respeito. Mas é claro que há os oportunistas submissos à sanha de hegemonia bolsonarista. É o caso de Júlia Zanatta. O silêncio de figuras proeminentes no cenário político catarinense – como o empresário Luciano Hang – já diz muito.
Apoiar Bolsonaro – e seus derivados – custa caro demais em troca de praticamente nenhum benefício. Quase exclusivamente é uma decisão pessoal com intenções personalíssimas que prejudica o meio em detrimento do indivíduo. E isso fala bastante sobre o caráter de quem os apóia.
Santa Catarina não precisa – e nem quer – Carlos Bolsonaro. Caso venha, não vote nele.