Napoleão Bernardes renuncia o cargo de prefeito
Foto: DivulgaçãoWednesday, 28 March 2018
A razão da renúncia é o lançamento de sua candidatura ao Senado que, muito dificilmente, logrará êxito.
Nesta terça-feira (27/03) o prefeito Napoleão Bernardes foi à Câmara dos Vereadores para, oficialmente, renunciar ao seu cargo como executivo-chefe-municipal em detrimento à sua campanha ao Senado no pleito eleitoral a ocorrer ainda esse ano.
Orador contumaz, Napoleão passou longos minutos relembrando sua trajetória e tentando criar uma atmosfera que soasse minimamente comovente à sua despedida do cargo. O plenário não estava lotado (como tantas outras vezes esteve), mas abrigou bastante gente, em especial seus próprios assessores, pessoas cujos interesses em sua pretensa ida ao Senado são nada menos do que pessoais e outros ‘orbitantes profissionais da esfera pública’.
Eleito como a promessa da política jovem em 2012, Napoleão decepcionou de forma irreparável muito que o viam como um baluarte de uma nova forma de fazer política.
Mas ele, como pessoa, é um bom homem. Tem um coração enorme, uma boa vontade consideravelmente acima da média e visões bastantes simpáticas em relação ao que deve ser feito. No entanto ele não tem pulso. De nada adianta ter no prefeito um ser humano adorável se ele permite que pessoas de índoles questionáveis mandem em suas decisões.
Napoleão não foi um mal prefeito porque ‘não se importa com as pessoas’ ou porque ‘não tem capacidade para administrar uma cidade’. Não. De forma alguma. Napoleão foi um mal prefeito porque se permitiu cercar por alguns dos piores e mais pérfidos exemplos da chamada ‘política velha’. Ele virou o garoto propaganda carismático e encantador de pessoas – dentre elas, políticos conhecidos – que têm sido vistos como exemplos abjetos de figuras públicas a décadas.
Sua administração em termos gerais foi um desastre. Ele agrava uma pequena comunidade com uma obra assistencialista pontual enquanto desagradava grande parcela da população confiando (por ter boa índole) nas palavras de pessoas com escrúpulos duvidosos.
Mas ter sido um mal prefeito – o pior que a cidade já teve, na opinião de muitas pessoas – não o tornaria um mal senador. São poderes diferentes. Um é o Executivo e outro é o Legislativo. Basta ver o exemplo de Marcelo Schrubbe, que foi uma figura dantesca enquanto vereador, mas se tornou um secretário primoroso e cujo exemplo deve inspirar seus sucessores.
No entanto seu discurso ontem não foi um bom indicador. Napoleão parece incapaz de assumir suas falhas grotescas enquanto prefeito. E não são poucas: tirar um monopólio fiscalizado publicamente de ônibus e colocar em troca outro monopólio sem fiscalização alguma que recebe todo o tipo de apoio da prefeitura é apenas UM de dezenas de exemplos, como reurbanizações milionárias ou interdição de ruas para obras quase sem prazo de término que estão praticamente quebrando os comerciantes que dependem daquela via.
Quando afirma que ‘queria concluir o mandato até o fim, mas foi convencido por outros políticos, eleitores e proeminentes empresários a tentar o Senado’ Napoleão comete dois erros grosseiros: assume o quanto é influenciável e o quanto precisa terceirizar as responsabilidades de suas próprias escolhas por não querer lidar com as possíveis consequências.
Em dado momento o ex-prefeito disse que era mais importante ter credibilidade do que popularidade. Porém não fazer a dita ponte que foi a razão de sua primeira eleição e – pior – tentar evitar tocar no assunto como se essa fosse uma promessa de campanha que ele jamais tivesse feito é um exemplo de que ele não tem credibilidade absolutamente alguma. Mesmo que isso seja culpa das eminências pardas por trás de suas decisões.
Bernardes foi um prefeito com simpatia e carisma sem igual, mas cujo legado é um lúgubre hiato jazendo acima de promessas feitas e jamais cumpridas. E se mesmo enquanto prefeito reeleito ele já carecia da confiança de parte tão considerável dos eleitores, menos ainda o fará como senador porque é pouco relevante no estado e tem pouquíssima força no seu partido, o PSDB, capitaneado por Paulo Bauer.
Alguns insistem em afirmar que ele se candidatará a deputado federal ao invés de senador, o que é improvável porque a maioria de seus mais influentes apoiadores tem bem menos a lucrar com alguém que não esteja no Senado (além de ele mesmo ter, nominalmente, afirmado o cargo diversas vezes).
Você, nosso leitor de primeira viagem, pode achar que não nos embasamos para fazer a análise. Mas, como sempre, nos embasamos fortemente no que ouvimos pela cidade. Exatamente como foi em 2012 quando fomos o ÚNICO veículo de comunicação a afirmar que Napoleão poderia ser o próximo prefeito, enquanto a maioria desdenhava por ter total incapacidade e inépcia para entender quais nossos métodos singulares de obter informações.
Obviamente desejamos ao candidato boa sorte, afinal Napoleão senador é Blumenau no Senado. Mas, acima de tudo, desejamos boa sorte a nossa cidade que está à mercê de Mário Hildebrandt, um político cuja maior expressividade é saber qual o muro mais firme para se escorar e criar legiões de defensores através de gentilezas (todas, legalmente permitidas, é importante afirmar).
E que Deus, Alá e o acaso façam as pazes para nos ajudar até 2018.