Lula preso: como reage o partido, os movimentos e autoridades?

Lula preso: como reage o partido, os movimentos e autoridades?
Foto: Divulgação

Monday, 09 April 2018

Como fica a disputa eleitoral de 2018? Quem será responsabilizado pelo vandalismo no prédio onde mora a ministra Carmen Lúcia? E os sindicatos vão poder continuar existindo depois do claro descumprimento da CLT?

Depois de ter seu pedido de habeas corpus preventivo negado, o ex-presidente Luís Inácio ‘Lula’ da Silva se aquartelou no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, historicamente o mesmo lugar onde ele foi preso pela primeira vez muito tempo atrás.

Por dois dias usou o local como bunker e a militância como escudo. Seus apoiadores – em palavras que seriam classificadas por eles mesmos como ‘discurso de ódio’ se viessem de outras pessoas – falaram que “teria sangue” caso Lula fosse preso. Não teve. O ex-presidente se entregou à Polícia Federal na noite de sábado (07/04), saindo à pé do sindicato às 18h42’.

Houve certa agressividade entre grupos favoráveis e contrários à sua prisão.

Às 20h22’ um helicóptero da Polícia Militar chegou com ele ao Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo.

Dentro de um avião monomotor turboélice, prefixo PR-AAC, pertencente à Polícia Federal, Lula seguiu para Curitiba, onde chegou às 22h01’, tendo à sua espera uma sala reservada para ele no último andar Superintendência da Polícia Federal paranaense.

Oficialmente, uma vez que a condenação foi confirmada e os recursos em segunda instância se esgotaram, a ‘Lei da Ficha Limpa’ torna o ex-presidente inelegível, o que dá margem para que figuras dantescas e repugnantes do cenário político nacional, como Ciro Gomes (PDT), mendiguem seu apoio.

Mesmo com seus mais ferrenhos aliados dizendo que apóiam sua candidatura (apesar de ser um ato ilegal), o PT já começa a discutir o espólio das intenções de votos do principal líder do partido. Se eles não conseguirem manter o apoio eleitoral de Lula dentro da sigla, correm o risco de perder eleitores para outros candidatos de esquerda como Manuela D'ávila (PCdoB) e Guilherme Boulos (PSOL), o que seria o início de um trágico final para o Partido dos Trabalhadores (PT). Isso, claro, sem considerar candidatos de centro-esquerda como Marina Silva (Rede).

Para muitos petistas considerar o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, sucessor de Lula, soa quase ofensivo. E, nessa discussão, o partido começa a se rachar de dentro para fora.

Ontem circulou por várias redes sociais um áudio que dá a entender que policiais que transportavam Lula de avião se comunicavam e diziam "leva e não traz nunca mais" e “manda esse lixo janela abaixo aí". A Força Aérea Brasileira (FAB) imediatamente se posicionou, confirmando a veracidade dos áudios, mas explicando que isso ocorreu por ser uma frequência aberta onde outras pessoas (além dos controladores de vôo) podem se comunicar.

Tanto que, em dado momento da gravação, pode-se ouvir uma voz feminina pedindo para cessarem as hostilidades e se aterem  à fraseologia padrão aeronáutica.

 

Lula foi alimentado e às 16h do domingo recebeu a visita de seu advogado Cristiano Zanin. Às 17h30, uma van da empresa Blumenauense chegou ao edifício trazendo o jantar dos presos - arroz, feijão, carne assada, macarrão e chuchu. Em seu quarto, Lula foi autorizado a ter um televisor onde pode assistir às partidas de seu time de futebol, o Corinthians, que jogou contra o Palmeiras.

Reações

Depois de passarem uma semana dizendo que ‘o amor vence o ódio’, apoiadores de Lula agiram de forma – na melhor das hipóteses, contraproducente (mesmo que ‘hipócrita’ seja uma palavra mais coerente para descrever a situação).

Na sexta-feira os terroristas do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST) chegaram em um grupo composto por cerca de 450 criminosos e jogaram tinta vermelha na calçada e paredes do prédio onde a ministra Carmen Lúcia mantém um apartamento em Minas Gerais. Ela mora nos últimos andares e, portanto, os criminosos (burros, além de terroristas) acabaram prejudicando pessoas que absolutamente nada tinham a ver com seu conceito deturpado de ‘amor’ e ‘ódio’. A ação deixou muitas pessoas indignadas em Belo Horizonte, onde ocorreu.

No dia seguinte, militantes de movimentos contrários à esquerda – como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL) se reuniam – usando bandeiras do Brasil como capas – para limpar a imundice deixada pelos ‘ditos’ sem-terra em frente ao prédio da ministra.

Foi um ato simbólico, onde usando vassouras e produtos de limpeza, tentaram desfazer o mal causado pelos terroristas. Depois várias pessoas, em sinal de solidariedade aos moradores do condomínio, depositaram flores em frente ao local. Isso, sim, soando como ‘o amor vencendo o ódio’.

A pergunta que não que calar

Lula se aquartelou no Sindicato dos Metalúrgicos buscando um asilo político, mesmo que breve. Vários sindicatos e até forças sindicais como a Centra Única dos Trabalhadores (CUT) apóiam publicamente o PT. Isso nunca foi velado. Todos sabem.

No entanto, de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 521 que versa sobre as condições para o funcionamento de um sindicato, consta no item d: ”(sic) proibição de quaisquer atividades não compreendidas nas finalidades mencionadas no artigo 511, inclusive as de caráter político-partidário (sic)”.

Isso significa que esses sindicatos vão ter retirados de si o direito de ser sindicatos por terem desrespeitado a Lei? Ou, mantendo-os em seu status atual, assumimos que a CLT não existe, relegando-a a uma história de ninar bonitinha para impedir a revolta de trabalhadores desavisados?

Essa, entre tantas, é uma questão que deveria ser urgentemente discutida e votada. Porque de onde estamos vendo, tem soado meio anárquico. Ou melhor. Já que Lula quis citar ‘V de Vingança’ em um de seus últimos discursos, façamos o mesmo em homenagem a ele: “Isso não é anarquia. Isso é caos. Anarquia é outra coisa”.


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Ricardo Latorre

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