Culto à personalidade se torna pior mal do século XXI
Foto: DivulgaçãoTuesday, 24 April 2018
Num mundo globalizado surgiu uma polarização irracional que a cada dia se manifesta de formas mais agressivas, seja com estudantes da UnB queimando a bandeira nacional ou famosos se xingando pelo Twitter.
No dia em que o ex-presidente Luís Inácio ‘Lula’ da Silva se entregou à Justiça houve um grande comício. A ação – e também a comoção – são algo que se espera quando uma figura tão emblemática quanto Lula (gostando ou não dele) vai para a cadeia. Mas, além dos discursos políticos inflamados roubados de ‘V de Vingança’ e algumas apresentações artísticas, o evento acabou se transformando numa ‘showmissa’, com vários padres apoiando Lula.
E eis que naquele evento – atrás de uma faixa pró-aborto – estava dom Angélico Sândalo Bernardino, ex-bispo de Blumenau e amigo pessoal do ex-presidente atualmente detento.
Muitos sacerdotes, naquele 7 de abril, se sentiram incomodados com o ato. Alguns pelo caráter político-partidário assumido pelo religioso; outros pela blasfêmia de sua proximidade de movimentos abortistas. Nem dom Odilo Scherer poupou Sândalo das críticas e tratou logo de tirar a Arquidiocese de São Paulo e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) da história.
A tangível hipocrisia da situação pode ser o exemplo do clérigo e da faixa: a Igreja Católica Apostólica Romana e o manifesto pró-aborto. Para a Igreja a vida humana deve ser respeitada e protegida de modo absoluto a partir do momento da concepção, usando como embasamento uma citação do Novo Testamento: “Em verdade vos digo: o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos a Mim mesmo o fizestes” (Mt. 25, 40).
Sândalo chegou a conduzir a homenagem ao aniversário natalício de Marisa Letícia – a esposa de Lula que depois de morta passou a ser acusada pelo próprio viúvo de uma porção de coisas das quais obviamente não vai poder se defender e cujo funeral virou palanque político.
Angélico afirma, em sua defesa, que estava lá só para proclamar a palavra de Cristo, mesmo tendo proferidos frases parciais como: “o último julgamento quem fará é Deus”.
Não é de hoje que se acusa a Igreja Católica de apoiar movimentos de esquerda e, de fato, muitas vezes realmente o faz. O youtuber Bernardo Küster já fez diversas denúncias em seu canal contra atitudes imorais da igreja e da própria CNBB, como se pode ver em seus vídeos. Mas talvez, hoje, o maior problema com a igreja vá além da doutrinação.
Em outubro do ano passado um famoso e amado padre blumenauense ignorou completamente o Dia de Nossa Senhora Aparecida e transformou a missa – que deveria ser uma homenagem à santa – em um dantesco espetáculo de autopromoção porque coincidia com seu aniversário na paróquia. A situação foi tão insólita que teve telão com o apresentador Ratinho elogiando-o e até uma pessoa dizendo que muitas daquelas pessoas diziam: “eu não sou cristão, a minha religião é o padre”. Até para os padrões atuais essa frase é heresia.
A não ser, claro, que o padre queira ser pendurado numa cruz até morrer e, quem sabe, ainda ter seus feitos contados por seus seguidores daqui a dois milênios. Atitude ególatra e asquerosa.
Mas a verdade é que o ‘culto à personalidade’ está se tornando praticamente uma epidemia que se alastra para todo o tipo de pessoa mundo afora. As pessoas ficam buscando em figuras notórias alguém que as represente e salve da mediocridade cotidiana: um Cincinato moderno.
Seja um padre ou um pastor. Seja o Lula ou o Bolsonaro. Nossa sociedade de facilidades criou uma geração acomodada e covarde demais para assumir suas próprias responsabilidades, então buscam em líderes espirituais, políticos, atletas, artistas e todo tipo de pessoa alguém que possa lhes dar a falsa esperança de que existe salvação sem esforço pessoal.
Você pode culpar seu chefe. Sua professora. O síndico. O presidente. Ou Deus. A verdade é que eles não estão nem aí. Ninguém vai fazer nada por você se você mesmo não começar a se mexer. O assistencialismo barato cria uma massa de manobra acéfala que só sabe repetir incoerências que ouviu sem sequer compreender. Na melhor das hipóteses, idiotas uteis a alguém.
Lula não foi preso sem provas. O homem foi condenado na segunda instância e até a terceira o julgou culpado. Aceite. Bolsonaro não tem o menor traquejo diplomático. Ele foi tolo o suficiente para ser acusado por uma figura grotesca como Maria do Rosário de apologia ao estupro mesmo sendo autor de projetos de Lei que visam a castração química de estupradores. Joaquim Barbosa e Marina Silva são dois oportunistas, sendo a única diferença que um acabou de surgir e a outra já é praticamente da casa. Não há heróis. Você está sozinho.
Cultuar personalidades negando seus defeitos é o erro fatal que levou monstros como Adolf Hitler, Benito Mussolini, Joseph Stalin, Mao Tsé Tung, Fidel Castro, Kim Il-sung, Pol Pot, Getúlio Vargas (tão psicótico quanto os anteriormente citados) e até Napoleão Bonaparte ao poder.
Procura-se tão desesperadamente um salvador, que seus crimes são atenuados por seus seguidores. “eu apenas seguia ordens” era uma frase muito comum proferida por ex-soldados nazistas nos Julgamentos de Nuremberg, assim como “naquele tempo precisávamos combater um inimigo e muita coisa teve que ser feita” foi a desculpa de muito torturador iraquiano.
Um ex-bispo de Blumenau no comício de despedida de um ex-presidente preso por corrupção só provam que TODAS as instituições estão comprometidas e que cultuar personalidades é uma forma triste e voluntária de se alienar. Brigas na internet por causa de youtubers ou por causa de editoras de quadrinhos lançando filmes apenas mostram o quanto isso está se banalizando rapidamente. Opiniões ganharam o peso de sentenças e seguidores viraram exércitos.
Redes sociais que filtram as informações que chegam até você para que os usuários apenas vejam aquilo similar às suas concordâncias apenas pioram tudo criando bolhas nas quais todos pensam que estão certos e quase ninguém mais questiona nada.
De Olavo de Carvalho a Leandro Karnal. De Tico Santa Cruz a Lobão. Ninguém NUNCA está absolutamente certo. E nesse cenário crescem figuras pavorosas como o Alexandre Frota – que já foi ator, lutador, funkeiro e astro pornô – e agora embarca na oportunista onda do ‘vou xingar quem está todo mundo xingando para ver se, quem sabe, volto para a televisão’.
Esse texto, como o bom-senso já deveria antever, não tem a pretensão de ser uma verdade absoluta. Discorde. Pesquise. E, ao pesquisar, aprenda. Quando aprendemos duas coisas podem acontecer: podemos mudar de ideias ou melhorar nossos argumentos.
Então sempre questione. Seja um político, seja uma ‘celebridade’. Não permita que pensem por você.