Vaquejada é aprovada pelo Senado

Vaquejada é aprovada pelo Senado
Foto: Divulgação

Thursday, 16 February 2017

Sob a desculpa de gerar empregos e garantir a segurança dos animais, esse crime em forma de circo de horrores está prestes a ser regulamentado.

Provavelmente o Brasil no qual nossos ‘representantes’ em Brasília moram é completamente diferente do mesmo Brasil no qual sobrevivemos dia-a-dia.

Essa conclusão se torna viável quando pensarmos que nessa terça-feira (14/02) o Senado começou a deliberar sobre a regularização da Vaquejada. Como se o país não estivesse passando por graves crises econômicas, políticas e morais. Como se uma enorme parcela de representantes públicos não estivessem perdendo o sono com medo da Lava-Jato.

Mas não... Estados e municípios completamente falidos? Ninguém se importa. Quase 150 pessoas mortas no Espírito Santo com a greve da Polícia Militar (leia-se ‘motim’)? Tanto faz. O gasto excessivo dos parlamentares? Normal. O importante é votar a vaquejada.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC 50/2016) – que tinha como objetivo permitir a promoção de vaquejadas sem atos de crueldade contra os animais (hã?) – foi aprovada no Senado e agora se encaminha rumo ao Congresso. “O texto prevê que não serão consideradas cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais previstas na Constituição e registradas como integrantes do patrimônio cultural brasileiro”, de acordo com a Agência do Senado. Era para ser uma piada? Porque não teve graça.

O termo ‘manifestações culturais’ é muito redundante e depende demais do contexto no qual é aplicado. Espancar um homem negro em praça pública era uma ‘manifestação cultural’ no século XIX, durante o abjeto e vergonhoso período escravagista. Basta ler as obras de Monteiro Lobato. O preconceito étnico era ‘cultural’, o que nunca o tornou admissível.

Montar um animal nervoso e, por vezes, ferido, não é cultura. É covardia. Qualquer peão de rodeio pode se gabar por aguentar alguns segundos em um cavalo ou um touro, mas a provavelmente não teria a mesma coragem para tentar montar num lutador de MMA.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB) – citado na Lava-Jato que chegou a ter suas redes sociais derrubadas pelo grupo de hackers Anonymous que diziam prestar "uma homenagem ao presidente dos corruptos" – disse que avalia positivamente a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), pois gerará empregos no Nordeste e garantirá o bem-estar dos animais.

Claro que boa parte dos senadores – donos de latifúndios cuja parte da base eleitoral é composta por pessoas que apreciam esse tipo de barbárie – apenas advogou em causa própria, como tão comumente fazem. Isso, claro, enquanto a Lava-Jato ainda não chegar neles.


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Ricardo Latorre

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