Frouxo e mesquinho, governador colocou SC numa das piores situações da crise

Frouxo e mesquinho, governador colocou SC numa das piores situações da crise
Foto: Divulgação

Monday, 28 May 2018

Santa Catarina é o segundo estado mais afetado pela greve dos caminhoneiros e, enquanto em outros lugares alguns postos até já são reabastecidos, aqui nosso líderes se empoleiram para esperar um milagre;

Se o governador em exercício Eduardo Pinho Moreira (PMDB) tinha alguma pretensão eleitoral, ele ainda pode vê-la secando junto com os tanques de gasolina do estado.

Depois de montar diversos comitês para ‘gerenciar a crise’ que se mostraram perda de tempo e (mais) gasto desnecessário de (mais) dinheiro público, Moreira mostrou falta do mínimo de firmeza ao negar apoio do Exército e mesquinharia ao dizer que não abriria mão do ICMS.

Resultado: Santa Catarina foi o segundo estado mais afetado do Brasil pela greve.

Enquanto São Paulo deu exemplo saindo na frente das negociações ao oferecer benefícios reais aos caminhoneiros como isenções em pedágios e reduções de impostos dos combustíveis nas bombas de gasolina – e assim ditou o atual discurso do Governo Federal – Moreira se escondeu atrás do cargo que oportunamente herdou de Raimundo Colombo e, como um urubu, tem ficado estático e passivo esperando que a União resolva de forma que ele não tenha que abrir mão de nenhum centavo dos impostos estaduais que nos assaltam.

Numa carta patética dirigida à imprensa, o passivo governador diz:

Santa Catarina sempre venceu as dificuldades através da união de seu povo. Nenhum desastre natural ou tragédia nos deixou derrotados. Saímos de todos eles mais fortes e unidos.  

Agora, mais uma vez, somos colocados frente a frente com um desafio. E, a exemplo do que já fizemos, de novo será a união do povo catarinense que vai fazer com que os obstáculos sejam superados.

Reconhecemos como legitima a manifestação dos caminhoneiros, trabalhadores responsáveis pelo transporte de tudo o que mantém a sociedade em funcionamento.  São eles que transportam nosso alimento, a água, nossos medicamentos, o combustível que abastece nossos carros e que faz toda a nossa economia andar.

Todos nós brasileiros pagamos a conta de uma política de preços do combustível equivocada e contrária às necessidades da população. O litro do combustível varia da noite para o dia. O trabalhador não sabe quanto vai gastar no mês para abastecer seu carro, seu caminhão, seu meio de transporte.

Mas Santa Catarina faz a sua parte. Temos o menor imposto sobre o combustível. Trabalhamos para não aumentar tributos e estamos reduzindo gastos públicos. Priorizamos o desenvolvimento e o reconhecimento à força do trabalhador catarinense.

Hoje, domingo, quando a greve chega ao seu 7º dia, nossas famílias já sofrem os impactos da paralisação que tomou conta do Brasil. Não desejamos que estes problemas se ampliem. Por isso, o bom senso precisa prevalecer para que os serviços básicos, necessários para o bem estar da população, não parem.

Neste momento difícil, a palavra de ordem é união. Os nossos representantes estão dialogando com os grevistas, o que até agora tem permitido que os insumos básicos passem pelas barreiras, nos pontos de bloqueio. Mais de 90% das escolas serão mantidas abertas. Delegacias não fecham. Policiamento funciona dentro da normalidade. O estoque de medicamentos está garantido. Os hospitais operando. Cirurgias eletivas serão remanejadas. Nossa água está sendo tratada.

Mas os catarinenses precisam de combustível. Quando falta combustível, falta trabalho, falta emprego, falta salário. Nossas famílias são todas atingidas. Por isso, precisamos da sensibilidade e apoio de todos. Unidos, venceremos mais este desafio. E mais uma vez seremos reconhecidos pela nossa capacidade de superação. A responsabilidade é de todos nós.

Em lágrimas de crocodilo ele finge demonstrar um respeito irreal pelo trabalho dos caminhoneiros. O estado tem o menor imposto, sim, mas não por conta dele. Quer demonstrar respeito? Abra mão de parte do ICMS. Mas isso ele não vai fazer.

Pedir união é um exercício de futilidade. Todos os catarinenses já se uniram – assim como brasileiros em todos os estados – favoráveis à greve, mesmo sendo prejudicados por ela. E o número de pessoas em todo país que se reuniu à frente de batalhões do Exército clamando uma intervenção militar só mostra uma coisa: o povo se uniu, sim, mas contra o governo.

Enquanto isso, em Brasília, o presidente Michel Temer (MDB) – uma das figuras mais impopulares do país – anunciou uma série de medidas que, segundo ele, atendem às reivindicações dos caminhoneiros autônomos (enquanto empresas estão sendo investigadas).

Em seu pronunciamento ele garantiu que vai zerar a Cide e o PIS/Cofins incidentes no preço do diesel (o que, em termos práticos, reduz em R$ 0,46 o preço do combustível), garantindo que esse novo valor será mantido por 60 dias e que, daí para frente, os combustíveis sofrerão reajustes mensais.

O Bela Lugosi tupiniquim também disse que editará três medidas provisórias, sendo uma com o intuito de acabar com a cobrança de pedágio sobre eixo suspenso, outra que garanta 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para os profissionais autônomos e uma última que estabeleça uma tabela mínima para o frete. Tudo soando paliativo demais.

Alguns otimistas acreditam que a greve pode acabar ainda hoje, por conta das novas propostas da União. Outros, pessimistas, afirmam que a paralisação pode levar até mais dez dias. Do jeito que o cenário está se formando, dá a impressão que talvez encerre entre terça e quarta.

Ao oferecer redução de quarenta e seis centavos no litro, Temer praticamente insulta os grevistas. Afinal, a mesma gasolina brasileira é vendida no Paraguai quase pela metade do preço e a própria Petrobras admitiu, em fevereiro desse ano, que o problema eram nossos impostos.

A verdade é que Temer tentou ameaçar os grevistas quando pediu a intervenção militar, mas não conseguiu. E agora oferece a eles as migalhas dos pães que eles mesmos trazem a ele. Seu erro – ou um de seus muitos erros – foi ter subestimado o estrago da paralisação e a força de vontade da categoria, além de não imaginar que a população se uniria a eles. Agora o preço da barganha está mais caro.

Infelizmente, enquanto nossos governantes forem homens apáticos e mesquinhos como Temer e Moreira, nossos impostos continuaram sendo o câncer que corrompe nossas vidas.

E eles sabem disso. Tanto sabem que pediram para que o Exército e as polícias fossem cordiais com os protestantes. Afinal, se houvesse um conflito e caminhoneiros morressem, Brasília pegaria fogo no dia seguinte... e com Temer amarrado dentro. Considerando que mês a mês o país está virando o barril de pólvora, esse fogo logo iria explodir e figuras insignificantes como Eduardo Pinho Moreira seriam reduzidas a um disforme borrão de carvão do carpete da História.


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Ricardo Latorre

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