A BR-470 é uma história complicada. Foi processa de presidente, governador e até já usada como ‘presente’ por deputados. Sempre que aparece um picareta num cargo público prometendo duplicar, as pessoas comemoram antes mesmo de começarem as obras.

O que deveria estar pronto anos atrás é apenas um esboço patético de um canteiro de obras que serve como reflexo dantesco do quão a administração pública pode ser medíocre e descompromissada.

Em Brasília os deputados federais devem votar hoje um corte no orçamento desta pitoresca e anátema obra que sequer deveria estar em obras ainda. Crê-se que seja retirada parte do Orçamento da União para obras em rodovias catarinenses no montante de R$ 146 milhões, dos quais R$ 50 iriam para essa fundamental veia em aberto no Vale do Itajaí.

Parlamentares catarinenses – como o senador Dalírio Beber (PSDB), os deputados Décio Lima (PT) e João Paulo Kleinübing (PSD) – estão tentando impedir o corte, mas convenhamos: nosso estado tem representatividade praticamente zero na política nacional.

Enquanto estados bem menores – principalmente do norte e nordeste (onde nasceu minha mãe, antes que alguém queira me acusar de bairrismo) – recebem com facilidade milhões para projetos que nunca serão executados e dando à União baixíssima contribuição tributária, Santa Catarina paga a conta dos outros e ganha esmola. E por quê? Porque temos poucos políticos em Brasília. Não tem a ver com partido. Tem a ver com interesse eleitoral geográfico.

O empresariado catarinense tenta articular pedindo que o corte não seja feito e, inclusive, solicitando a inclusão de R$ 450 milhões no orçamento do ano que vem para a duplicação (que sabemos que não virá). Mas não adianta. Simplesmente não temos representatividade o bastante.

Ligue a televisão na TV Câmara. Veja quantos deputados são do sul e quantos são das regiões mais ao norte. Então elimine aqueles estados que realmente dão lucro tributário à União e você vai perceber que sobra uma vasta gordura de parlamentares parasitas representando estados que só dão prejuízo e cujo único mérito – eleitoral – de terem tal poder é a compulsão de seu povo por procriar, criando assim mais eleitores e aumentando o curral dos velhos ‘coronés’.

Então esqueça a duplicação da BR-470 tão cedo. Sejamos realistas. Vai ser mais fácil aquilo virar um canteiro de flores do que uma rodovia duplicada. Até lá vivemos e morremos nas estradas.