Vereadores abusam de hipocrisia ao criticar maçonaria

Vereadores abusam de hipocrisia ao criticar maçonaria
Foto: Divulgação

Thursday, 09 August 2018

No alvo a classe empresarial e seu polêmico outdoor denunciando supostos aumentos por parte da Câmara.

Se existe algo mais deprimente que uma crítica sem embasamento é uma crítica com base em raciocínios equivocados: o que pode ser tido, na melhor das hipóteses, como ignorância, e na pior das hipóteses, como má fé que visa induzir ao erro.

Na sessão de ontem na Câmara dos Vereadores houve um espetáculo dantesco de desinformação, hipocrisia e demagogia aplaudido por uma platéia de homens adultos que, por alguma razão, estavam lá em pleno horário de trabalho. Talvez desempregados. Talvez desocupados. Mas, certamente, usados como massa acéfala de manobra para aplaudir incoerências de pessoas cujas intenções não estão bem claras.

Tudo começou com uma série de outdoors espalhados pela Sociedade Maçônica Regional (Somar) blumenauense, afirmando que nas legislaturas entre 2009 até agora o gasto da Câmara teve um aumento de 170%. Os vereadores, claro, não gostaram.

O presidente da Casa, Marcos da Rosa (DEM) apontou dados que contrapõem a estatística da Somar, salientando de forma levemente forçosa que o contador havia impresso em preto e branco para economizar. O fato é que os números não batem. Há uma diferença bastante sensível entre o que foi apresentado por Rosa e pela Maçonaria. Alguém, certamente, está praticando o que se chama maquiagem das demonstrações contábeis. A pergunta é: quem?

Marcos da Rosa agiu como se espera que o presidente da Casa haja. Foi comedido e embasou suas colocações em fatos (mesmo que ainda seja difícil precisar qual lado tem razão). Mas seus argumentos foram pertinentes, racionais e condizentes com alguém em seu cargo.

Infelizmente o mesmo não pode ser dito de seus colegas de plenário.

O vereador Alexandre Caminha (PSD) sempre foi um bom parlamentar. Traz consigo a reputação de melhor diretor do Procon nos últimos anos. Mas na sessão de ontem decidiu atirar para todos os lados e, com isso, conseguiu apenas acertar o próprio pé com incoerências e demagogia barata. Realmente um infortúnio para um parlamentar tão digno tal rebaixamento.

Criticou a postura da Somar, a própria Maçonaria e chegou ao ponto deplorável de sugerir que o ‘novo’ prédio da Câmara fosse transferido para as instalações do Centro Empresarial de Blumenau (CEB). Ora, vereador, o prédio da CEB é particular. Construído por pessoas que pagam impostos (incluindo o aluguel do atual prédio da Câmara). Legalmente a única obrigação dessas pessoas é respeitar as leis e pagar seus impostos em dia. Ninguém tem a obrigação de ceder o que quer que seja para políticos que, todos sabemos, têm a péssima reputação de não saber utilizar de forma minimamente aceitável o dinheiro público.

Se os ocupantes da CEB resolverem transformar o local no maior pólo de strip tease do Brasil eles podem, porque o prédio é deles. Vocês não, porque a Câmara é do povo, não dos parlamentares que usam seu espaço. E é importante entender isso. Nenhum de vocês é vereador, vocês estão vereadores. Por tempo limitado. Não exija mais da Iniciativa Privada além do muito que vocês já sugam.

Caminha chegou ao cúmulo de dizer: “Não admito empresários de classes como a Somar que se utilizam do dinheiro deles, que pode ser de alguns dos nossos aqui, para fazer propaganda política no momento em que poderíamos estar discutindo outros temas”. Completando a frase ao citar que alguns empresários, como os donos da Hering (e então fez uma denúncia em relação a empresa) ganham R$ 500 mil por mês e ninguém se mete. Mas é claro que ninguém se mete, nobre vereador, o dinheiro é deles. Deles. Os salários que ganham têm a ver com seus méritos e riscos assumidos. Por eles. Eles. Entenda isso. Já o seu salário é pago por nós. Nós. Todos nós. Eu. Nossos leitores. Os donos da Hering. E todo mundo. Então, sim, seu salário e os gastos da Câmara são da conta de todos. Por isso seus vencimentos se encontram num portal transparência e os dos empresários não. Porque é a sociedade quem sustenta vocês.

Não existe sequer alicerce moral para que qualquer um dos senhores diga “mas eles poderiam estar discutindo coisas mais importantes”. Eles discutem o que quiserem. Inclusive seus altíssimos salários, pagos por nós. Vocês, sim, devem discutir aquilo que nós, enquanto sociedade e mantenedora de suas regalias, decidimos coerente.

Com uma hipocrisia sem tamanho o vereador Caminha critica os maçons, esquecendo-se de forma muito oportuna que era ele mesmo quem citava ‘o Grande Arquiteto do Universo’ (forma maçônica de falar em Deus) durante sua campanha televisiva à Câmara,

Piorando ainda mais a própria situação, o edil afirmou que empresários vivem tranquilamente. Talvez nunca tenha sido empresário, mas o mínimo que se espera de alguém com conhecimentos razoáveis é que entenda que quanto maior o negócio, maiores os problemas. Mas Caminha acha que não. Caminha acha que alguém ganha meio milhão por mês. Talvez a realidade de ‘pessoas trabalhando por menos de R$ 1 mil reais’ seja incompreensível para alguém que recebe R$ 10 mil mensais dos cofres públicos e trabalha em um local onde chefes de gabinete que muitas vezes mal terminaram o Segundo Grau recebem salários de R$ 7 mil.

O professor Gilson (PSD) reclamou que a Somar os critica, mas que ninguém os parabenizou quando decidiram abrir mão dos carros oficiais e telefones. É uma atitude louvável vinda de um vereador admirável, mas esperar reconhecimento não deveria ser a razão. A honestidade é uma obrigação, assim como ‘cortar na carne’ é a obrigação de um bom gestor. Talvez a Somar não tenha reconhecido, mas certamente os eleitores vão reconhecer e sem a menor sombra de dúvidas a carreira de Gilson está apenas no primeiro degrau de uma longa e prolífica escadaria.

Bruno Cunha (PSB) reclamou que as entidades não ajudam e, em sua crítica, afirmou que faziam isso para beneficiar parlamentares que serão candidatos a outros cargos. Dê os nomes, vereador. Caso contrário, soa como defesa inócua de quem, meramente, ‘jogou ao vento’.

Enquanto Adriano Pereira (PT) disse que grupos empresariais tentam manchar a imagem do Legislativo. Bem... Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva tem manchado cada vez mais a imagem do seu próprio partido e não ouvimos reclamações. Significa que quando se vai contra a narrativa é um ataque covarde, mas que quando apóia-se a narrativa vocês sofrem perseguição e golpe? Por favor...

O fato é: empresários mantêm a Economia viva. Eles pagam pelas obras e pelos salários dos políticos. Eles colocam pão na mesa dos vereadores que mantém seu caminho honesto e desviam de propinas. Essa é sua única obrigação. Sem chantagem emocional barata.

E sobre “a Maçonaria estar advogando em causa própria enquanto não faz nada pela comunidade”, talvez os anos longe da escola tenham feito mal à memória ou um professor esquerdista tenha feito questão de omitir, mas o elemento em comum entre a Antigo Sistema Colonial, a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana, a Proclamação da Independência, da República e a Abolição de Escravatura (só para citar alguns) foi o envolvimento maçônico.

Vai muito além do que um reles parlamentar municipal pode sequer sonhar em fazer. Surgiu antes dele e continuará mesmo após ele. E alcança esferas que ele jamais alcançará.

Vocês têm quatro anos em média para auxiliar a comunidade. Essas pessoas o fazem há séculos. E fazem sem que ninguém saiba ao invés de gastar com publicidade para angariar votos. E tiram dinheiro do próprio bolso ao invés de ser sustentados pelas pessoas que, em tese, deveriam auxiliar. Então, senhores, olhem para um espelho antes de exigir incoerências anedóticas.


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Ricardo Latorre

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