Militância: o câncer dessas eleições
Foto:Monday, 08 October 2018
Você pode ser de direita ou de esquerda. Ambos estão se portando de forma muito parecida. E talvez você esteja nos prints dessa matéria.
Maniqueísmo e intolerância. Proselitismo exacerbado. A mais completa falta de empatia e pobreza moral quase tátil. São termos como esses que definem o atual momento político pelo qual o Brasil vive. Não é “Bolsonaro contra Haddad”. Não é “direita contra esquerda”. Não é “conservadorismo contra socialismo”. É desrespeito pelo outro. É cegueira para si mesmo. Hipocrisia. Acusar quem discorda de você de fazer aquilo que você mesmo está fazendo.
É uma época complicada. “Se você não concorda com o Bolsonaro então vai morar em Cuba, comunista desgraçado”. “Se você não concorda com o Haddad é porque é um nazista, racista, machista, homofóbico e estuprador”. Não. Está errado. Dos dois lados.
Haddad não é comunista. Foi o pior prefeito da história de São Paulo e vergonhosamente aceita ser o poste de um presidiário, mas não é comunista. É populista. Bolsonaro não é nazista. Inclusive foi um dos poucos parlamentares brasileiros a ter reconhecimento por parte da autoridade israelense. É pragmático. Não confunda as coisas.
Militâncias têm mentido descaradamente. Mas pare de achar que as militâncias são pessoas com bandeiras e camisetas de determinado partido. Hoje esses são apenas a massa de manobra. As militâncias são emissoras de televisão, artistas, grandes empresários, sociedades civis discretas, educandários ou institutos de pesquisa. O resto é a consequência deles.
E as pessoas estão se deixando emburrecer. Estão se cegando por uma falsa paixão gerada pelo medo. “Se Bolsonaro ganhar o mundo vai virar uma eterna guerra”. Não. Ele é apenas um candidato à Presidência do Brasil e não algum vilão do MCU. “Se Haddad ganhar vou perder minha casa”. Também não. Ele é outro candidato à presidência, não o Mao Tsé Tung. Ambos terão regras a respeitar e poderes paralelos, como os bancos, a obedecer.
Mas a militância acéfala não quer que você perceba. A mídia taxa Jair Bolsonaro de estuprador, sendo que ele foi o autor de um Projeto de Lei que visava castrar quimicamente estupradores. A internet pinta Haddad como um projeto de ditador, sendo que ele sequer teve competência para gerenciar São Paulo e o cérebro por trás dele está na cadeia.
Não saia acreditando em tudo que lê. Nem nesse texto. Muito menos agrida as pessoas por pensarem diferente. Não se deixe levar por manchetes antes de ler os textos delas. Você é melhor que isso. Mas, infelizmente, as duas militâncias estão ficando idênticas.
Geralmente, no passado, quando se dizia que um veículo de comunicação sofreu ataques mentirosos por conta de uma entrevista, se pensava em militantes da esquerda. Por outro lado, quando se dizia que um empreendedor tentou censurar a liberdade de pensamento de seus colaboradores, se pensava na direita. E eis dois exemplos para mostrar o estado doentio em que a sociedade está:
Na semana passada publicamos entrevistas com todos os candidatos blumenauenses a deputado federal. Contudo, a entrevista com a candidata petista Ana Paula Lima foi a que mais sofreu ataques. Com um total de 63 comentários, a absurda maioria advinda de pessoas que sequer abriram o link ou viram que havia outros entrevistados, o mais comum eram acusações mentirosas de que recebemos dinheiro para promover a candidata em questão. Chegou-se ao limiar do ridículo quando um rapaz chamado Wenderson Bini – conhecido por participar de protesto teoricamente favoráveis à Democracia – disse: “deleta a matéria a favor do PT que dá tempo”. Com isso o rapaz mostra que, não apenas é antidemocrático, como burro, porque não leu nada antes de sair emitindo opiniões medíocres. Abaixo alguns prints.
Contudo a esquerda agiu de forma bem similar. Depois da hashtag ‘elenão’ e afirmações completamente desprovidas de Democracia como “se você apóia o Bolsonaro me delete de suas redes sociais”, o organizador de um grande evento cultural da cidade escreveu o seguinte: “limpando as redes e anotando os artistas que não vão mais ter espaço em nossos eventos”. Apesar de totalitário, é um direito que ele tem. Soa hipócrita dizer que representa a Democracia e usar os esquálidos poderes que tem para forçar as pessoas a concordarem com ele? Sim. Pode ser entendido como coação através de força financeira? Lógico, pelo mesmo motivo que o dono de uma fábrica não pode demitir funcionários por opiniões políticas divergentes? Mas ser hipócrita e caminhar no limiar de um crime é um direito dele. O que piora são as manifestações de seus seguidores, mostradas abaixo. Esse é o pessoal que prega a tolerância. Esse é o pessoal que critica o capitalismo por usar do poder financeiro concordando com uma postura que está fazendo exatamente isso.
Esse é o câncer do Brasil. “Você pode pensar o que quiser desde que concorde comigo”. Não. Não pode. Pode deve discordar. Precisa discordar. Tem que questionar. Tudo. Impor uma opinião é totalitário. Bolsonaro não é Hitler e Haddad não é Fidel, mas seus seguidores estão se portando como. Isso é inadmissível. É estúpido. É burro. E, pior, é ruim para o país.
Marielle Franco não merecia morrer. Jair Bolsonaro não merecia ser esfaqueado. Foram crimes. Não foram engraçados. Não foi “bem feito”. E se você pensa isso, então o problema do Brasil é VOCÊ. Respeitas as pessoas. As opiniões. Não tente forçar ninguém a nada. E pare com a hipocrisia.
Chega de homem dizendo que é contra o estupro, mas enchendo a cara de uma menina de álcool na balada para tentar levá-la para a cama. Chega de acusar um partido de tentar se tornar uma ditadura quando você mesmo tenta impor a força a sua vontade. Assuma-se.
E, sinceramente, tanto faz quem ganhe, vai ser a imagem do Brasil. Depois de décadas de Regime Militar o primeiro presidente democraticamente eleito foi Fernando Collor de Mello porque “era bonito e maneiro”. Então talvez nosso país esteja MESMO onde mereça.