Governo não vai mais financiar pontes que 'não ligam nada a lugar nenhum'

Governo não vai mais financiar pontes que 'não ligam nada a lugar nenhum'
Foto: Divulgação

Monday, 07 January 2019

Economista Pedro Guimarães foi empossado no comando do banco público nesta segunda (7). Ele também afirmou que todas as promoções dentro da Caixa serão definidas por 'meritocracia'.

O novo presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, afirmou nesta segunda-feira (7), na cerimônia de transmissão de cargo, que a nova gestão do banco público vai usar duas premissas como "mantra" para liberar verbas para obras de infraestrutura: "é rentável para a Caixa?" e "é bom para a sociedade?". Segundo ele, não haverá "financiamento de pontes que não ligam nada a lugar nenhum".

Banco 100% público, a Caixa é um importante financiador de projetos de infraestutura, habitação e saneamento básico. Segundo o novo presidente da instituição, o governo federal é o "maior cliente" do banco em projetos de infraestrutura.

"A questão da infraestrutura, não vai ter financiamento de pontes que não ligam nada a lugar nenhum. Todo financiamento vai ser realizado com dois mantras: 'é rentável para a Caixa?' Se não, esquece. Segundo: 'É bom para a sociedade?'", declarou Guimarães ao discursar na solenidade de transmissão de cargo.

Especialista em privatizações, Pedro Guimarães recebeu a presidência da Caixa das mãos do antecessor, Nelson de Souza, na tarde desta segunda-feira em uma solenidade realizada na sede da instituição financeira, em Brasília.

Ele havia sido empossado mais cedo pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, em uma cerimônia no Palácio do Planalto que contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro.

Em outro trecho do discurso, Pedro Guimarães destacou que, na gestão dele, todas as promoções dentro da Caixa ocorrerão com base apenas na "meritocracia".

"Vocês podem ter certeza absoluta de que várias promoções, todas as promoções, serão definidas por mérito. Quem trabalhar mais e melhor vai ter o seu espaço. Isso é um mantra que temos. Não sei se outros presidentes tiveram o poder da caneta que eu tive”, discursou.

“Não existe indicação por 'x, y, z'. Só por mérito. Não existe a mais leve chance de que não esteja em uma cadeira se não merecer", complementou.

Subsidiárias

Ao final da cerimônia de posse que ocorreu mais cedo no Planalto, Guimarães afirmou que pretende abrir o capital de subsidiárias da Caixa para pagar uma dívida de R$ 40 bilhões que a instituição financeira possui com o Tesouro Nacional.

Economista de perfil liberal, o novo presidente da Caixa assessorou a privatização do Banespa, antigo banco estadual do estado de São Paulo.

A Caixa não tem capital aberto, isto é, ações negociadas em bolsa de valores – ao contrário do Banco do Brasil e da Petrobras, que são empresas de economia mista, com capital público e privado.

De acordo com Guimarães, uma forma de fazer esse pagamento à União é por meio da abertura de capital (venda de ações) de empresas subsidiárias controladas pela Caixa Econômica Federal, como empresas de cartões, seguros, asset management (administração de recursos de terceiros) e também de loterias.

Guimarães afirmou que a Caixa não será privatizada.

"Vamos abrir o capital de subsidiárias e utilizar esse dinheiro para pagar o Tesouro. Em quatro anos. Com calma, tranquilidade. Não há privatização da Caixa. Nem pensar. O que há é venda, abertura de capital de subsidiárias", disse.

"Em uma operação de abertura de capital, isso garante que daqui a 5, 10, 20, 80 anos, se alguém quiser utilizar a Caixa de maneira política, não vai acontecer, porque vai chegar lá: ‘Olha, não quero’. Então, na verdade, essas operações não são só para pagar o Tesouro, mas para governança", acrescentou.

Viagens pelo país

Pedro Guimarães anunciou que, nos próximos meses, irá a todos os estados para ouvir demandas das comunidades. O giro pelo Brasil começará por Roraima e em seguida ele irá ao Amazonas. O restante do roteiro não foi divulgado.

"O primeiro estado que vamos é Roraima. O segundo é Amazonas. Eu aprendi que existe Caixa-barco, são dois barcos fundamentais para cidadania. Dentro [das comunidades], pessoas que não tem quase o que comer. Se não tiver esse Caixa-barco, ele está isolado da sociedade. Então, por que só dois barcos? Enquanto você investiu centenas de milhões de reais com clubes de futebol", indagou.

Ele afirmou ainda que utilizará os finais de semana para fazer essas visitas a todos os estados e ao Distrito Federal.

"O objetivo é ouvir da rede o que está acontecendo e falar. No sábado a gente vai fazer isso. No domingo, vamos olhar, entender a comunidade", declarou.

Consignados

Durante discurso, Pedro Guimarães afirmou ser "inaceitável" que a Caixa não trabalhe com cartões consignados. Ele disse que o banco tem cerca de 96 milhões de cartões de débito, mas nenhum de consignado. "Isso vai mudar rápido", declarou.

"O meu objetivo é que nós tenhamos 20 milhões de cartões consignados em quatro anos", projetou.

O presidente da Caixa disse ainda que a Caixa vai fomentar o microcrédito.

Governança

Pedro Guimarães disse também que os diretores da Caixa farão um curso de governança no Tribunal de Contas da União.

"O TCU é um aliado. Nós precisamos do TCU não só para mercado de capitais, mas para tudo aquilo que foi feito. O TCU vai deixar de ser alguém que gera desconforto para ser um aliado. O TCU, a CGU, o Ministério Público, ou seja, a Caixa vai ser vista como a melhor estatal do ponto de vista de governança em quatro anos", disse.

Perfil

Com 20 anos de experiência no mercado financeiro, o novo presidente da Caixa é doutor em economia pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos.

Ele também trabalhou com Paulo Guedes no banco BTG no período em que o ministro da Economia foi sócio da instituição.

Em 2017, Guimarães se aproximou de Jair Bolsonaro e levou o então deputado para reuniões com investidores no exterior.

Ao tomar posse como presidente da Caixa na manhã desta segunda-feira, ele disse que guiará a gestão dele com base em três premissas do presidente Jair Bolsonaro: "Não podemos errar, mais Brasil e menos Brasília e um legado".

Guimarães se emocionou duas vezes durante o discurso na noite desta segunda. Nas duas ocasiões, lembrou-se do pai, que morreu vítima de Aids, segundo o presidente da Caixa.

Caixa foi 'capturada'

Em um breve discurso durante a transmissão de cargo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a Caixa foi "capturada" e "se perdeu".

"O importante é que haja transparência para que nós possamos acompanhar a vida das instituições. A Caixa foi recentemente capturada e ela se perdeu. A Caixa se perdeu", enfatizou.

Investigado pelo Ministério Público sobre possíveis irregularidades em investimentos de fundos de pensão, Paulo Guedes lembrou as recentes denúncias sobre desvios no Fundo de Investimentos do FGTS.

"Uma das coisas que temos conversado é exatamente o Fundo de Investimento do FGTS (FI-FGTS) que andou irrigando coisas que não era para irrigar", afirmou.

Em outro momento, Guedes declarou que não será tolerado na Caixa o uso de recurso público na direção equivocada nem a compra de influência. Ele disse ainda que “corrupção sistêmica é intolerável”.

"A Caixa andou com problemas. Teve gente que foi parar em Curitiba [...]. A corrupção sistêmica é intolerável e inaceitável. Uma coisa é errar um investimento. Acontece e às vezes o banco não tem o retorno esperado. Outra coisa, totalmente diferente, é não existir nem um projeto. O que existe é o acerto e a busca de um recurso na instituição pública", disse.

Ele também disse que funcionário que identificar falhas será premiado e os casos não serão abafados.


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Redação

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