Em meio a muitas crises, Bolsonaro vem a SC
Foto: DivulgaçãoFriday, 18 October 2019
A visita do presidente decepcionou muitas pessoas e apenas salienta o campo minado no qual ele tem precisado governar, sem isentá-lo de suas culpas por alguns de seus próprios problemas.
Ontem o presidente Jair Bolsonaro esteve em Florianópolis para participar da aula magna do Curso de Formação Profissional da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Com ele, estavam os ministros Sérgio Moro e Damares Alves. Também estava presente o governador Carlos Moisés (PSL).
O discurso do presidente aconteceu na Academia Nacional da PRF na capital e foi bastante sucinto. Para alguns, na verdade, soou robótico.
Bolsonaro tem atravessado uma série de problemas internos que começaram nas acusações de corrupção de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL), que tem tentado se proteger a todo custo de investigações, dando a entender que pode mesmo ser culpado. Isso fez alguns apoiadores romperem com o presidente por não esperarem leniência da sua parte com suspeitas de corrupção: mesmo que fossem de seus próprios filhos. Depois disso o presidente, mais uma vez, se envolveu em uma polêmica desnecessária ao querer indicar seu outro filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL) para a embaixada nos Estados Unidos – cargo para o qual ele definitivamente não tem a menor preparação.
Neste interim, iniciou-se uma rusga interna no partido. Reforma da Previdência, Pacote Anticrimes de Sérgio Moro e Lava-Toga foram alguns dos estopins. Muitos filiados ao PSL divergiram do presidente e, entre eles, estava o governador Moisés. Apesar de ele mesmo fingir não perceber, Moisés era um nobre desconhecido sem chance nenhuma ao governo do estado até colar sua imagem ao então candidato Jair Bolsonaro, vencendo a eleição. Como tantos outros ‘paraquedistas’ que não aceitam que foram eleitos pelo 17, não por si mesmos.
O clima entre o presidente e o governador não foi dos melhores. Pode-se dizer que foi, na melhor das hipóteses, decoroso. E, para Bolsonaro, ser decoroso já é um grande progresso.
A situação se agravou ainda mais quando o presidente indicou o progressista Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República (PGR). Isso levantou uma enorme crítica entre seus mais ferrenhos apoiadores na internet. Infelizmente, o presidente, que não gosta de ser criticado, criticou de volta seus antigos apoiadores. Alguns deles, assim, passaram a se portar como seus detratores. Pessoas, diga-se de passagem, a quem ele deve parte de sua expressiva votação.
Isso acentuou o racha no partido. Bolsonaro pediu a cabeça do líder da sigla na Câmara, o delegado Waldir, após críticas e tentou colocar seu filho Eduardo no lugar. Somando a isso, vazou um áudio no qual Jair critica o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar. A tentativa de aumentar sua influência no partido fracassou e culminou na saída da deputada Joice Hasselmann da liderança do governo na Câmara, sendo substituída pelo deputado Eduardo Gomes (MDB), do dito ‘Centrão’.
Hasselmann disse que o presidente foi ingrato, chamou ‘traição’ de ‘modus operandi’ do governo, e disse que a inteligência emocional de Bolsonaro é menor que zero. Ela é apenas mais uma ex-aliada do presidente, cada vez mais isolado. Caso diferente do oportunista Alexandre Frota (PSDB), cujo histórico é surfar sempre na maior onda.
Foi nesse cenário que o presidente esteve em Santa Catarina.
Muitos catarinenses ficaram magoados com a aparição tão breve de Bolsonaro, que não anunciou nenhuma obra para o estado ou qualquer investimento que fosse. Lembrando que proporcionalmente Santa Catarina foi onde ele fez a maior votação. Isso rendeu várias críticas a ele, inclusive nos poucos veículos da grande imprensa que não o criticavam.
Em setembro o presidente, que já havia confirmado que estaria na abertura da Oktoberfest, cancelou o compromisso alegando recomendações médicas. Soou, no mínimo estranho, ele ir à Florianópolis e sequer prestigiar a maior festa de uma cidade quase vizinha onde teve apoio da maioria esmagadora dos eleitores: muitos dos quais ainda ostentam seu adesivo de campanha nos carros.
Ao contrário do que a grande imprensa e seus críticos têm dito, a decepcionante vinda de Bolsonaro ao estado não mostra seu enfraquecimento político, mas sim seu desnorteamento com as coisas que têm acontecido (algumas, verdade seja dita, provocadas por ele mesmo).
Nos anos 90 o finado humorista Chico Anysio fez uma piada dizendo que o povo tinha apenas três problemas: café, almoço e jantar. No caso do atual presidente os três problemas se chamam Carlos, Eduardo e Flávio.
O capitão Jair Messias Bolsonaro se elegeu como um conservador tendo um economista liberal brilhante em sua equipe e prometendo acabar com a corrupção, bem como com o aparelhamento deixado pelo PT. Mas quando a corrupção aponta vir de sua própria prole e ele escolhe um homem tão alinhado ao Partido dos Trabalhadores para um cargo de suma importância quanto a PGR, surgem dúvidas em seus eleitores. E criticar os que discordam não vai ajudá-lo. Talvez fosse mais sábio um momento de autocrítica. É importante, sobretudo, para o Brasil.
Enquanto o presidente se digladia com seus próprios fantasmas, a esquerda ri. Lula ri. Dória ri. Porque cada erro de Bolsonaro, são três passos a mais para o retorno dos progressistas ao poder.