Prefeito de Blumenau se torna investigado na Lava Jato
Foto: DivulgaçãoWednesday, 12 April 2017
Junto com ele estão sendo investigados os deputados Ana Paula Lima, Décio Lima e o senador Dalírio Beber.
Em dezembro do ano passado, quando o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) autorizou a abertura de um inquérito para investigar o governador Raimundo Colombo (PSD) por conta da Operação Lava Jato, o BLUMENEWS disse: “é questão de meses até chegar em Blumenau”.
E eis que chegou.
O raciocínio é bastante lógico: uma vez que o principal delator da investigação é um dos donos da Odebrecht (leia Foz do Brasil) – e considerando todas as investigações envolvendo a empresa feitas pelo respeitável promotor Gustavo Mereles (e que esferas superiores tanto lutaram para barrar) – era de se esperar que logo essa história acabasse vindo parar aqui.
O que surpreendeu, na verdade, foram os nomes dos primeiros envolvidos: o prefeito Napoleão Bernardes (PSDB), o deputado federal Décio Lima (PT) e a deputada estadual Ana Paula Lima (PT). O senador Dalírio Beber (PSDB) não surpreendeu muito, na verdade.
Por ora o que se sabe – e foi publicado com exclusividade pelo jornal Estado de São Paulo nesta terça (11/04) é que Bernardes e Beber são suspeitos de corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro, enquanto os deputados da família Lima são suspeitos de falsidade ideológica eleitoral que é, de acordo com a Lei, o ato de omitir em documento (público ou não) qualquer declaração que obrigatoriamente devesse constar nele.
Certamente, se a acusação tem relação com a Foz do Brasil, deveria haver mais nomes envolvidos nesta lista como os dos vereadores do mandato 2008 – 2012 e do ex-prefeito João Paulo Kleinübing (PSD), que são responsáveis pela chegada da empresa na cidade,
Nenhum dos envolvidos ainda tem conhecimento daquilo pelo qual são acusados. Sabe-se apenas que as acusações foram feitas pelo ex-diretor da Foz do Brasil, Paulo Roberto Welzel, e pelo ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis. Mas ainda não se sabe exatamente o que disseram. Apenas especula-se, às vezes sem sentido.
Por exemplo: uma das acusações é de que Bernardes tenha recebido R$ 500 mil nas eleições de 2012 por ter sido identificado com um dos favoritos, mas ele não era. Estava em penúltimo lugar, atrás apenas de Osni Wagner. Se fosse realmente este o caso e considerando que o deputado federal Jean Kuhlmann (PSD) era o segundo favorito (perdendo apenas para Ana Paula Lima) e vinha do partido que havia trazido a empresa para a cidade, não faria sentido que o nome dele também constasse na lista? Ou que ele, no mínimo, denunciasse uma tentativa de corrupção ativa por parte da Odebrecht quanto negou o dinheiro? Porque é impossível que não o tenham considerado um candidato forte e se tivesse negado a propina sem reportá-la estaria incorrendo em um crime.
O fato é que ninguém ainda é réu. Os quatro ainda são apenas investigados. E você que se irritou com essa frase e pensou em gritar “golpista”, saiba que o mesmo se vale para os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (ambos do PT): qualquer um pode ser denunciado. É só depois da investigação que se decide pela abertura ou arquivamento do indiciamento.
Os quatro envolvidos dizem o que, sinceramente, todo mundo diz: “sou inocente”, “estou tranqüilo”, “fiquei surpreso”, “tenho a consciência limpa” e “quero mais do que todos que a investigação esclareça tudo”. O que não prova nada (afinal os presídios estão cheios de gente que alega inocência).
Judicialmente será necessário que se abra um inquérito em relação aos acusados, a Procuradoria-Geral da República (PGR) investiga um por um de forma minuciosa, depois decide se apresenta ao STF a denúncia ou pede o arquivamento do inquérito. Se arquivado, parabéns: provaram sua inocência. Se formalmente denunciados, são analisados pela Segunda Turma do STF cujos cinco ministros decidem se os suspeitos viram réus ou são absolvidos. Só no caso de virarem réus é que podem ocorrer conduções coercitivas, prisões e o temido ‘encontro com Moro’.
Politicamente falando é diferente. Quando o assunto é opinião pública – ainda mais em relação a pessoas em cargos eletivos – a exaustão e a indignação do povo se apressam a julgar e condenar antes mesmo das instâncias superiores. E é aí que mora o problema.
Napoleão Bernardes vinha em uma ascensão incrível. Seu nome era cada vez mais valorizado e seu carisma o tornava um forte nome para o governo do estado no ano que vem (mesmo que parte do partido ainda quisesse Paulo Bauer). Um talento nato e uma promessa política, ele se elegeu pela aparente honestidade e assim era tido. Pelo menos até agora.
Já os Lima estavam na contracorrente do mau momento do PT. Ana se tornou presidente do diretório blumenauense da sigla e o estadual passou a ser presidido por aliados do casal. O nome de Décio passou a ser seriamente considerado também para disputar o governo.
Para o trio a notícia cai como uma bomba, porque pode criar uma mácula política que nunca mais vai se apagar (caso sejam inocentes, claro).
Para Dalírio tanto faz. Ele nunca foi muito bom de voto, mesmo.
Se antes Blumenau contava com dois nomes fortes como pré-candidatos ao governo do estado, agora isso pode ter voltado à estaca zero, pois ainda é muito cedo para avaliar os danos. Na verdade a escassez de informação faz com que seja praticamente impossível até presumir se algum dos envolvidos tem ou não algum tipo de culpa.
O que sabemos é aquilo que muito se dizia a cinco anos: “a Foz do Brasil entrou em Blumenau de forma, no mínimo, questionável”. Depois estendeu-se isso a Piracicabana (também tendo donos arrolados pela ‘Lava Jato’). Se realmente foi uma contratação ilegal (e acreditamos que possa ter sido) alguém negociou com alguém. A questão é: quem? Bernardes ainda era vereador. Ana Paula e Décio estavam apenas no Legislativo. Dos suspeito, na nossa opinião, o mais plausível é Dalírio, que sempre foi um bom articulador. Mas dissemos PLAUSÍVEL... não significa que ele tenha culpa de algo.
Nem eu, nem vocês e nem ninguém além de a Justiça vai poder dizer, de fato, quem é o culpado nesta história. Se é que há algum culpado. Se é que há algum inocente.
Enquanto isso Luís Inácio ‘Lula’ da Silva e Fernando Henrique Cardoso se preparam para dividir longos e constrangedores momentos na sala de espera do juiz federal Sérgio Moro, em Brasília. Não era para ser engraçado – talvez, no máximo, irônico – mas é.
E como já dizia Bezerra da Silva: “Se gritar ‘pega ladrão’”... ou não.