Quem foram os melhores (e piores) servidores públicos da década?

Quem foram os melhores (e piores) servidores públicos da década?
Foto: Divulgação

Monday, 13 January 2020

Analisamos as gestões de Kleinübing, Napoleão e Mário em algumas das mais importantes secretarias, fundações, autarquias e entidades.

Sim, nós sabemos que a década só vai mudar, de fato, em 2021. Mas, na prática, a maioria considera essa a mudança da década. E... bem... não se muda de década todos os dias (literalmente). Por isso, estamos fazendo essa série de matérias relembrando os últimos dez anos.

Trabalhar em um cargo público tem sido frequentemente visto com certa desconfiança pelas pessoas. Principalmente cargos de indicação política. E esse sentimento tem aumentado consideravelmente nos últimos anos, desde que a Justiça começou a escancarar os escândalos de corrupção que assolam todo o Brasil. Mas não se pode generalizar: há bons profissionais. E maus.

Abaixo vamos listar os que – na nossa opinião – foram os melhores e os piores servidores públicos das principais pastas do município. Todo ano fazemos a avaliação dos funcionários públicos de Executivo Municipal, mas esse ano vamos escolher os que se destacaram desde 2010.

Saúde

A Secretaria da Saúde é, talvez, a mais importante dentro de um curto prazo. São seus profissionais – desde a pessoa no comando da Secretaria até aqueles que fazem a higienização dos locais – que salvaguardam o bem-estar e até as vidas dos contribuintes.

Indicado por João Paulo Kleinübing, Marcelo Lanzarin foi, sem a menor sombra de dúvidas, o melhor secretário a frente da pasta. E assim como criticamos sua atuação quando foi necessário, devemos reconhecer o valor dele no cargo. Em sua gestão ele aumentou o acesso à Saúde Pública, diminuiu as filas de espera (tornando pública a sua divulgação), inaugurou o tão aguardado Ambulatório Geral do Garcia e conseguiu grandes montantes de verba federal para nosso sistema de saúde. Mas, acima de tudo, Lanzarin é médico. Essa última informação, por si só, já faz muita diferença. Ele não é um aventureiro... é um profissional e entende as necessidades da área a qual escolheu atuar. Ele fez um juramento e o honra.

Maria Regina de Souza Soar se destaca como a menos efetiva profissional a assumir o cargo. Com péssimas escolhas para gerências e diretorias, ela foi nomeada pelo ex-prefeito Napoleão Bernardes. Apesar de sua gestão ter tido bons resultados, como a entrega de novos Ambulatórios Gerais e o atendimento em tempo integral de outros, sua dificuldade em lidar com o elemento humano não raras vezes a atrapalhou. Um exemplo flagrante disso foi quando uma criança morreu no Hospital Santo Antônio e ela tratou o caso do ponto de vista mais frio e prático possível, reduzindo aquele sentimento de perda ao percentual do ‘inevitável’.

A prova de sua flagrante dificuldade com pessoas está na sua exoneração: ela, basicamente, pediu para sair porque teve problemas para se adequar a uma gestão na qual não estaria sob a proteção de Napoleão (ou das pessoas por três dele). Ao contrário do que muitos pensam, Soar não é médica: é administradora e já foi gerente geral do Hospital Santo Antônio.

Mas não pense que seu trabalho foi horrível. Não foi. Ela teve obras bastante relevantes, mas ficou muito abaixo de outros nomes que já estiveram à frente da Secretaria, como Lanzarin (supracitado) ou o renomado cardiologista pediátrico Marco Antônio Bramorski, que já presidiu, inclusive, a Unimed de Blumenau.

O atual secretário, o também médico Winnetou Michael Krambeck, assumiu o posto em abril do ano passado e, por isso, não seria justo analisá-lo com outras pessoas que tiveram muito mais tempo para mostrar seus resultados.

Educação

Outra secretaria fundamental para a cidade, a Educação de Blumenau tem tido uma melhora significativa nos últimos anos.

A atual secretária, a pedagoga Patrícia Lueders, é sem dúvidas a mais competente profissional a ter passado pela pasta nos últimos dez anos. Carismática e de perfil técnico irretocável, Patrícia soube escolher bem seus cinco principais diretores e seus resultados tem sido muito acima da média.

Em reconhecimento ao seu talento, Patrícia foi eleita presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação de Santa Catarina (Undime) por votação de seus pares. Fazia 20 anos que um blumenauense não assumia tal cargo. Sob seus auspícios projetos importantíssimos como as escolas bilíngues e o carinho com o paradesporto – que alça Blumenau a patamares cada vez maiores – tornaram a profissional (sem vínculos partidários) uma das mais relevantes forças políticas da cidade. E ela nem se importa com isso: foca em seu trabalho e vai cada vez mais longe.

Quando foi escolhida para substituir ex-vereadora Helenice Luchetta (PSDB) alguns duvidaram que pudesse superar sua antecessora por conta da pouca idade, mas Patrícia conseguiu.

Osmar Matiola, atualmente diretor de Articulação com os Municípios da Secretaria da Educação do Estado de Santa Catarina, foi o menos produtivo. Em geral seus resultados ficaram próximos aos de Luchetta, mas ela precisou enfrentar greves e vários outros problemas que independiam dela. Em sua administração, a avaliação sobre a Educação de Blumenau caiu 173 posições no ranking nacional do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). Nesse sentido o saldo final ficou muito abaixo de suas duas sucessoras.

Fundação Pro-Família

A Pro-Família sempre teve bons gestores. Essa sorte é histórica desde a sua criação, em 2005. Um lugar proativo que humaniza crianças e idosos, bem como clubes de mães, servindo de exemplo para todo o país. Não houve um ‘mau gestor’ para a Fundação.

Certamente a ex-primeira-dama Patrícia Loch Kleinübing foi a melhor profissional a assumir o cargo. Em sua gestão a Fundação ganhou uma sede muito mais equipada, a Feira da Amizade bateu recordes, centenas de crianças puderam demonstrar suas aptidões pela primeira vez nos tantos eventos da Magia de Natal e muitas outras oportunidades criadas pela entidade.

Já Cristiane Loureiro e Karin Gouvêa conseguiram manter em excelente ritmo o trabalho feito por Patrícia. Contudo, talvez Karin tenha deixado a desejar no quesito presença: Cristiane sempre está em todos os lugares e lota suas redes sociais com fotografias em todos os cantos da cidade. Mas, certamente, achar uma profissional ‘incompetente’ nessa pasta é impossível.

Defesa Civil

Um dos mais relevantes órgãos para uma cidade com o mesmo trágico histórico de enchentes e enxurradas de Blumenau, a Defesa Civil, já mudou de status diversas vezes, mas quase sempre colocou seus líderes à prova contra as cruéis forças da natureza.

O coronel Carlos Olímpio Menestrina tem um currículo espantoso. Foi secretário da Defesa Civil entre 2008 e 2010, enfrentando com bravura a pior catástrofe da cidade: a tragédia de 2008. Em 2018, Menestrina voltou ao cargo. Ele foi subcomandante do 10° Batalhão da Polícia Militar e comandante do 3° Batalhão de Bombeiros Militar de Blumenau. O homem é um herói e, portanto, merece grande respeito.

Já o capitão José Egídio de Borba enfrentou, em 2011, a maior e enchente do milênio, reduzindo os danos colaterais e sendo fundamental para evitar outra tragédia. Ele passou por vários problemas, mas sua prontidão e presteza durante a crise foram impecáveis. Outro nome que muito se destacou na pasta foi o do lendário (e saudoso) Telmo Duarte.

Marcelo Schrubbe, por outro lado, foi um péssimo vereador, mas encontrou sua vocação na Secretaria de Defesa do Cidadão. Ele criou uma equipe coesa e comprometida, mas essa foi a única função pública na qual se destacou. Posteriormente, no Seterb, sua performance foi constrangedora. Então, considerando o histórico de grandes profissionais da pasta e seus feitos comparando ao sofrível desempenho de Schrubbe em outras funções (bem como os pouco desafios, em proporção, que teve), certamente ele é o pior profissional neste tópico.

Obras

Obras é uma pasta muito complicada. Envolvida em um escândalo de corrupção no começo da década, a Secretaria enfrentou a desconfiança pública, a cobrança dos contribuintes, falta de verbas e órgãos paralelos (como a SC Gás) interferindo em seus cronogramas constantemente.

Mas o engenheiro Paulo França merece bons créditos. A frente por duas vezes desta secretaria visada, complexa e nem sempre prestigiada, ele conseguiu entregar dentro do prazo muitas obras importantes para a comunidade. Alguns de seus atrasos, contudo, não são demérito dele. Afinal, não é fácil manter em boa condição o asfalto em uma cidade na qual a Foz do Brasil (hoje BRK) faz obras e depois emenda da forma mais tosca possível. França, ao contrário da maioria de seus antecessores, tem perfil técnico altamente especializado.

Certamente o pior nome à frente da pasta foi o de Alexandre Brollo. Arrolado na Operação Tapete Negro e ridicularizado em áudios que percorreram a internet (“Bruno? Brolho? Brollo? Que nome estranho”, lembra?). Contudo, mesmo que não estivesse envolvido no escândalo, durante a gestão dele quase todas as pontes da cidade foram relegadas ao esquecimento, para citar apenas um dos muitos descasos.

Planejamento

Se foi difícil encontrar um mau nome para a Fundação Pro-Família, é praticamente impossível encontrar um bom nome para a Secretaria de Planejamento.

Profissionais fazendo experimentação no trânsito como se fossem amadores, corredores de ônibus desnecessários, obras que causaram mais acidentes do que evitaram e uma urbanização com direcionamento forçado ao norte que dificilmente dará certo. Essa é a triste sina desta pasta cuja importância é fundamental para o futuro do município: para o bem ou para o mau.

O engenheiro agrônomo Ivo Bachmann soube, de forma inteligente, perceber que a ordem natural de crescimento da cidade apontava para a Velha, Vitor Konder, Jardim Blumenau e Itoupava Seca, procurando aumentar a estrutura urbana nesses bairros. Também está envolvido no projeto de ampliação da Ponte Adolfo Konder. Se há uma pepita de ouro nesse amontoado de pedras sem valor que já estiveram no comando da pasta, esse alguém é ele.

Em contrapartida, desbancando nomes como Walfredo Balistieri e Juliano Gonçalves, está Alexandre Gevaerd. Autor dos mais dantescos projetos de mobilidade urbana da cidade, Gevaerd traz em seu currículo o caos no qual transformou o trânsito em Brusque e tentou repetir a façanha aqui. É de sua gestão a ponte que nunca saiu e os corredores de ônibus na contramão.

Turismo

A menina dos olhos da cidade, o Turismo cresceu vertiginosamente nos últimos anos. Da nossa tradicional Oktoberfest até o bem-sucedido Festival Brasileiro da Cerveja e a encantadora Magia de Natal, essa pasta é completamente sui generis.

Foi administrada pelo empresário Ricardo Stodieck de 2013 até o ano passado. Antes foi dividida por José Eduardo Bahls de Almeida (secretário de Turismo) e o lendário Norberto Mette (presidente da Vila Germânica), mas na gestão tucana ambas as funções foram fundidas. Em seu lugar assumiu o ex-ciclista olímpico Marcelo Greuel, no ano passado.

Podemos dizer que Stodieck foi um gestor extraordinário nos seis anos em que esteve no cargo? Certamente podemos. E devemos. Mas isso jamais poderia desabonar o trabalho hercúleo de Mette antes dele. Bem como não podemos julgar Greuel ainda pelo pouco tempo proporcional (ele passou por apenas uma Oktoberfest).

Então, aqui, deixaremos em aberto.

Seterb

Esse é o caso de ‘rir para não chorar’. Muitos presidentes da autarquia a usaram como balcão de negócios. Outros, simplesmente não souberam o que fazer com ela. Do simpático Rudolf Clebsch ao competente Eder Boron, muitas pessoas passaram pelo órgão.

O empresário Sérgio Chisté, certamente, foi o nome que mais se destacou. Vindo da iniciativa privada e disposto a concertar um meio caótico, ele foi o responsável pelo aumento de itinerários, a criação de mais linhas e horários para os ônibus. Seu esforço foi retribuído por Napoleão Bernardes com ingratidão (talvez até traição) e Chisté deixou a presidência.

Já o advogado Carlos Lange, falecido no ano passado, foi incomparavelmente o pior presidente que o Seterb já teve. Foi durante sua administração que uma intervenção desastrosa do Seterb culminou em um Natal sem ônibus, na quebra do Consórcio Siga e na vinda da Piracicabana (escondida atrás do nome Blumob). Essa empresa colocou Blumenau de quatro, botou uma cela em suas costas e montou, enquanto Lange via e, na melhor das hipóteses, não fazia nada.

Outros órgãos públicos

Samae

Melhor: André Espezim – houve uma significativa diminuição na falta de água;
Pior: Valdair Matias – pergunte aos moradores do Progresso sobre a Ilha do Sossego ou aos residentes na Velha Grande sobre falta de água;

Faema

Melhor: Jean Carlos Naumann – muito elogiado pela comunidade por sua competência;
Pior: Anselmo Lessa – odiado por muitos, Lessa deixa a desejar no conhecimento que se espera de um professor universitário e sua postura demonstra porque sua carreira foi galgada em cargos de indicação política (como a procuradoria-geral da Câmara);

Cepread

Melhor: Luís Carlos Kriewall – eu tenho minhas diferenças pessoais com Kriewall, mas é indiscutível que ele trouxe ao órgão o profissionalismo necessário como veterinário sério e professor com participação fundamental na criação da grade curricular do curso de Medicina Veterinária da Furb;
Pior: Eliomar Russi – um grande símbolo da ‘velha política’, Russi está sempre pulando para cargos sem que tenha necessariamente perfil técnico e por mais de uma vez lançou candidaturas fracassadas ao Legislativo Municipal. Piorando ainda mais, é o tipo de funcionário público que não tolera ser criticado (apesar de ser pago com dinheiro do contribuinte);

Praça do Cidadão

Melhor: Jairo Santos – trouxe a qualidade do Primeiro Mundo para o serviço público blumenauense;
Pior: Geraldo Pfiffer – conseguiu ser avaliado como abaixo do ‘péssimo’ em um trabalho de conclusão de curso da Unisociesc e ainda teve a cara-de-pau de nos processar por ter dado publicidade a isso.

Procon

Melhor: Alexandre Caminha – um mal vereador, Caminha agilizou os atendimentos do Procon e criou sua unidade móvel, sendo o mais competente profissional a frente do órgão;
Pior: César Cim – homem de conhecimento técnico grande, Cim não foi um mal diretor, mas permitiu que as filas crescem e o tempo de espera para o atendimento aumentasse;

Fundação Cultural de Blumenau

Melhor: Sylvio Zimmermann Neto – homem de cultura excepcional, Zimmermann colocou ordem na bagunçada fundação, trazendo vida nova a um espaço que estava abandonado;
Pior: Marlene Schlindwein – nem falemos sobre as desconfianças do Ministério Público, mas sim do quanto ela permitiu que essa instituição tão importante para a cidade fosse largada às moscas.

Quem foi o prefeito com melhores secretários, diretores e presidentes?

Com oito profissionais, Napoleão Bernardes liderou o ranking das melhores escolhas nos itens selecionados, com Patrícia Lueders, Paulo França, Ricardo Stodieck, Sérgio Chisté, Luís Carlos Kriewall, Jairo Santos, Alexandre Caminha e Sylvio Zimmermann. Lembrando que Caminha esteve na gestão Kleinübing, bem como Lueders, França e Stodieck foram mantidos na gestão Hildebrandt.

Bernardes também se destacou com oito dos piores servidores, contra quatro de Kleinübing e nenhum de Hildebrandt, equiparando as coisas.

Obviamente, é importante lembrar que ele ficou quase seis anos no poder, enquanto analisamos apenas três anos de JPK (2010 – 2013) e menos de dois anos de Mário Hildebrandt (2018 – 2020). Antes de qualquer coisa, é importante levar esse fato em consideração.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

>> COMPARTILHE