Sílvio Santos está na mira da Polícia Federal

Sílvio Santos está na mira da Polícia Federal
Foto: Divulgação

Thursday, 20 April 2017

A forma como humilhou a controversa jornalista Rachel Sheherazade na apresentação do Troféu Imprensa começa a fazer sentido: ele estava defendendo os amigos que compraram seu banco falido.

Dessa vez nem o ‘Homem do Baú’ escapou.

Na manhã de ontem (19/04) a Polícia Federal deflagrou a Operação Conclave, que investiga a questionável compra do então falido Banco Panamericano – de propriedade do empresário e apresentador Sílvio Santos (Senor Abravanel) – pela Caixa Econômica Federal. Algo cuja estranheza é imensamente questionável e até já mencionamos aqui.

De acordo com a investigação a Caixa Participações S.A. (Caixapar) teria adquirido de forma fraudulenta ações do Banco Panamericano – que estava falido – por R$ 740 milhões em 2009, causando um sensível prejuízo ao erário público.

São 46 mandatos de busca e apreensão expedidos em seis estados em uma ação que envolveu 200 policiais federais e bloqueou cerca de R$ 1,5 bilhão dos envolvidos como Márcio Percival Alves Pinto (ex-diretor da Caixapar) e Maria Fernanda Ramos Coelho (ex-diretora da Caixa).

Para a Justiça Federal os envolvidos concretizaram “um negócio desastroso e prejudicial” comprando um “banco deficitário, falido” que estava sendo investigado desde 2007 por suposta gestão fraudulenta até sua venda ao BTG em 2011.

O irmão caçula de Sílvio Santos, Henrique Abravanel – que já foi diretor-conselheiro do Banco Panamericano – teve seus sigilos fiscais, telefônicos e de e-mail.

E isso parece ser apenas a ponta de um iceberg enorme e complexo.

O procurador da República Anselmo Lopes e a delegada da Polícia Federal Rúbia Pinheiro, responsáveis pela Operação Conclave, citaram em petição encaminhada à Justiça um encontro entre Silvio Santos e Lula (quando ainda presidente) no Palácio do Planalto no dia 22 de setembro de 2010.

Os investigadores afirmam que o encontro – que não constava na agenda de Lula – teve como foco o pedido por parte de Sílvio Santos de ajuda financeira por conta do banco quebrado pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Apesar disso, a versão oficial é de que os dois se encontraram apenas para tratar de recursos referentes ao Teleton.

O Banco Central chegou a avisar sobre a crítica situação econômica do banco, mas isso não impediu que a Caixa, via FGC, aportasse mais de R$ 2,5 bilhões para o Panamericano.

É irônico como alguém pensou que um banco estatal comprando uma instituição declaradamente entrando em processo de falência poderia passar despercebido. Aparentemente, nem todas as pessoas se deslumbram com aviõezinhos de notas de R$ 10, títulos de capitalização ou barras de ouro (que, afina, “valem mais do que dinheiro”).

E eis que, mais uma vez, a ironia se faz presente: em 2011 a jornalista Rachel Sheherazade foi contratada pelo SBT por conta da popularidade que ganhara com suas opiniões polêmicas.

Abertamente contrária ao PT, Sheherazade não poupava Lula, Dilma ou qualquer figura envolvida com a esquerda (além de opinar em outros assuntos, muitas vezes de forma questionável). Mais ou menos no ano em que Silvio Santos conseguiu se livrar do Panamericano, Sheherazade foi silenciada pela emissora, que a mandou ater-se a ler as notícias.

Na última edição do Troféu Imprensa, dia 9 de abril, Sheherazade foi ao palco receber um prêmio e acabou sendo covardemente humilhada por Silvio Santos. Covardemente porque um chefe ‘esculachar’ um funcionário ao vivo na televisão é, sim, covardia. Sua atitude foi duramente criticada por muitas pessoas, que entendem que o ‘teatro de Alzheimer’ tem limites.

Como se ser maciçamente criticado pela atitude não bastasse, Sílvio Santo ainda teve sua frase “você não foi contratada para opinar” desmentida por Alberto Villas, ex-diretor de jornalismo do SBT que contratou Sheherazade e afirmou: “Quando fui chamado para dirigir o Jornalismo do SBT, Silvio Santos me chamou na sala dele e me disse que Rachel Sheherazade estava sendo contratada porque tinha opinião. E ele queria ela dando opinião no telejornal que apresentava, usando o tempo que fosse necessário. Como os seus comentários beiravam o fascismo, acabei saindo fora. Só para deixar claro: Silvio Santos mentiu ao dizer que ela foi contratada para ler telepronter”.

E agora Sílvio está a beira de mais um escândalo. Calar uma funcionária é fácil, mas calar o Poder Judiciário, aparentemente, não. E Sheherazade agora deve estar de alma lavada pela humilhação, sorrindo de orelha a orelha (o que não significa que concordemos com as opiniões dela, mas sim que discordamos da forma covarde com a qual foi tratada).

Você que sempre quis saber de onde Silvio Santos tirava tanto dinheiro... parece que há uma resposta: de seus amigos na presidência desde o Regime Militar (onde ele exibia o curioso programa ‘A Semana do Presidente’ todos os domingos, narrado pelo finado Lombardi.

E agora? Quem quer dinheiro?


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Ricardo Latorre

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