Quais são os reais números por trás do Covid-19?

Quais são os reais números por trás do Covid-19?
Foto: Divulgação

Tuesday, 21 April 2020

Todo dia dezenas de jornais alarmam as pessoas com números descontextualizados. Mas o que há de real e de falso por trás deles?

Desde o início da pandemia de coronavírus no Brasil muitos têm defendido o isolamento rígido e indiscriminado como meio de conter o alastramento da doença que tem hospitalizado um número considerável de pessoas.

Há os mais comedidos – que entendem que Saúde e Economia não são variáveis que devam ser pesadas separadamente – até os histéricos apavorados pelas notícias alarmistas e sensacionalistas dos jornais, as opiniões têm se dividido. Muitos pregam o retorno das atividades econômicas, mas, por precaução, não saem de casa. Outros, de maneira grosseiramente hipócrita, espalham plaquinhas com os dizeres “fique em casa” pelas ruas sendo que, para colocar essas placas, eles mesmos não ficaram em casa.

Santa Catarina foi o primeiro estado a adotar as medidas de quarentena. Isso, há mais de um mês. Os números podem assustar: eram 1.063 casos confirmados no estado nessa segunda e 95 em Blumenau. Contudo, proporcionalmente, o valor fica em 0,01% para Santa Catarina e 0,02% em nossa cidade. Percentualmente, os números deixam de ser tão assustadores.

De acordo com os governos estaduais consultados ontem (20/04), o número de pessoas infectadas pelo covid-19 é, em ordem decrescente:

  1. São Paulo: 14.580
  2. Rio de Janeiro: 4.899
  3. Ceará: 3.487
  4. Pernambuco: 2.690
  5. Amazonas: 2.160
  6. Maranhão: 1.396
  7. Bahia: 1.377
  8. Espírito Santo: 1.212
  9. Minas Gerais: 1.189
  10. Santa Catarina: 1.063
  11. Paraná: 1.007
  12. Rio Grande do Sul: 904
  13. Pará: 902
  14. Distrito Federal: 872
  15. Rio Grande do Norte: 595
  16. Amapá: 433
  17. Goiás: 403
  18. Paraíba: 263
  19. Roraima: 247
  20. Rondônia: 199
  21. Piauí: 186
  22. Mato Grosso: 181
  23. Acre: 176
  24. Alagoas: 171
  25. Mato Grosso do Sul: 171
  26. Sergipe: 92
  27. Tocantins: 35

Nosso estado está em décimo lugar. Quando analisados os números descontextualizados soa muito grave, contudo é necessário considerar densidade populacional, renda média per capita e vocação turística. Dentro desse contexto, por exemplo, é obvio imaginar São Paulo e Rio de Janeiro encabeçando a lista com Tocantins na lanterna. Mas, considerando apenas a densidade demográfica (número de habitantes de cada estado), como fica esse ranking em percentuais?

Fica da seguinte forma:

  1. Paraná: 0,09%
  2. Amapá: 0,057%
  3. Minas Gerais: 0,056%
  4. Amazonas: 0,055%
  5. Roraima: 0,04%
  6. Ceará: 0,039%
  7. Distrito Federal: 0,0339%
  8. São Paulo: 0,0331%
  9. Espírito Santo: 0,031%
  10. Rio de Janeiro: 0,029%
  11. Pernambuco: 0,028%
  12. Acre: 0,022%
  13. Maranhão: 0,02%
  14. Rio Grande do Norte: 0,017%
  15. Santa Catarina: 0,015%
  16. Rondônia: 0,0113%
  17. Pará: 0,0111%
  18. Bahia: 0,009%
  19. Rio Grande do Sul: 0,008%
  20. Paraíba: 0,0066%
  21. Mato Grosso do Sul: 0,0065%
  22. Goiás: 0,0061%
  23. Piauí: 0,0058%
  24. Mato Grosso: 0,0056%
  25. Alagoas: 0,0051%
  26. Sergipe: 0,004%
  27. Tocantins: 0,002%

Pela tabela acima é fácil perceber que o Rio de Janeiro, por exemplo, está em último  entre os 10 estados com o maior nível real de contaminação. São Paulo, que tem o maior número de casos, fica em oitavo lugar, abaixo do Paraná, Amapá e Minas Gerais.

Isso porque consideramos apenas o percentual de contaminação por habitante em cada estado, deixando de fora índices turísticos e econômicos.

Já no ranking de óbitos, a lista oficial ontem era:

  1. São Paulo: 1.037
  2. Rio de Janeiro: 422
  3. Pernambuco: 234
  4. Ceará: 206
  5. Amazonas: 185
  6. Maranhão: 60
  7. Paraná: 51
  8. Bahia: 47
  9. Minas Gerais: 41
  10. Pará: 35
  11. Santa Catarina: 35
  12. Espírito Santo: 34
  13. Paraíba: 33
  14. Rio Grande do Norte: 27
  15. Rio Grande do Sul: 27
  16. Distrito Federal: 24
  17. Goiás: 19
  18. Alagoas: 18
  19. Piauí: 14
  20. Amapá: 13
  21. Acre: 8
  22. Mato Grosso: 6
  23. Mato Grosso do Sul: 5
  24. Sergipe: 5
  25. Rondônia: 4
  26. Roraima: 3
  27. Tocantins: 2

Contudo, quando aplicamos o mesmo cálculo de percentual usado anteriormente a esta lista, as posições mudam para:

  1. Amazonas: 0,004%
  2. Rio de Janeiro: 0,00256%
  3. Pernambuco: 0,00252%
  4. São Paulo: 0,00235%
  5. Ceará: 0,00232%
  6. Amapá: 0,0017%
  7. Acre: 0,001%
  8. Distrito Federal: 0,00093%
  9. Espírito Santo: 0,0008751%
  10. Maranhão: 0,0008757%
  11. Paraíba: 0,0008%
  12. Rio Grande do Norte: 0,0007%
  13. Roraima: 0,0006%
  14. Alagoas: 0,00054%
  15. Santa Catarina: 0,00052%
  16. Paraná: 0,00046%
  17. Piauí: 0,000438%
  18. Pará: 0,000433%
  19. Bahia: 0,00031%
  20. Goiás: 0,00029%
  21. Rio Grande do Sul: 0,00023%
  22. Rondônia: 0,000228%
  23. Sergipe: 0,000225%
  24. Minas Gerais: 0,000196%
  25. Mato Grosso do Sul: 0,00019%
  26. Mato Grosso: 0,00018%
  27. Tocantins: 0,00013%

O Amazonas se torna o estado com a maior mortalidade pelo vírus, seguido pelo Rio de Janeiro e por Pernambuco. Já o Tocantins tem a menor mortalidade, seguido de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Santa Catarina fica em  décimo quinto lugar.

Mas, quando comparados o número de casos registrados com as mortes, chegamos à conclusão de quais estados estão deixando mais pacientes morrerem. O cruzamento de tais dados resulta em:

  1. Paraíba: 12,5%
  2. Alagoas: 10,5%
  3. Pernambuco: 8,69 %
  4. Rio de Janeiro: 8,61%
  5. Amazonas: 8,5%
  6. Piauí: 7,5%
  7. São Paulo: 7,1%
  8. Ceará: 5,9%
  9. Sergipe: 5,4%
  10. Tocantins: 5,1%
  11. Paraná: 5%
  12. Goiás: 4,7%
  13. Acre: 4,54%
  14. Rio Grande do Norte: 4,53%
  15. Maranhão: 4,2%
  16. Pará: 3,8%
  17. Minas Gerais: 3,44%
  18. Bahia: 3,41%
  19. Mato Grosso: 3,3%
  20. Santa Catarina: 3,2%
  21. Amapá: 3%
  22. Rio Grande do Sul: 2,98%
  23. Mato Grosso do Sul: 2,92%
  24. Espírito Santo: 2,8%
  25. Distrito Federal: 2,7%
  26. Rondônia: 2%
  27. Roraima: 1,2%

Neste caso percebemos que, na Paraíba – estado com o pior resultado – a cada 10 pessoas contaminadas, uma vai morrer. O mesmo se vale para Alagoas. Muito diferente da realidade que vive Roraima, onde ocorreu apenas um óbito a cada 100 pessoas. Santa Catarina está entre os 10 melhores resultados.

Ao passo que o isolamento sem critério demográfico é adotado em todo o país à custa de milhares de empresas fechando e milhões de desempregos à vista, é natural que as pessoas debatam qual o melhor momento para retomar as rotinas. E o catarinense está questionando incisivamente isso. Um povo que está acostumado a se reerguer de tragédias.

Decisões incoerentes do governo do Estado, como fechar shopping para evitar aglomerações enquanto pessoas se acumulam em supermercados sem ventilação e proibir a abertura de academias ao passo que lotéricas têm cada vez mais movimento, criam dúvidas razoáveis.

O covid existe. Isso é um fato. E ele mata. Cada vez mais pessoas. Não se pode discordar disso. Mas também é um fato que governos estaduais e municipais estão politizando esse momento de caos. Alguns para desidratar o Governo Federal, outros para lucrar com contratações sem licitações e ausência do freio da Responsabilidade Fiscal. Isso no país inteiro.

Até que ponto nossos governantes estão usando as pessoas como joguetes descartáveis?

Se por um lado é irresponsável chamar a atual pandemia de “resfriadinho”, por outro lado é impossível não questionar a honestidade das notificações governamentais. Uns crêem        que prefeituras estão subnotificando os casos para não colapsar seus respectivos sistemas de Saúde. Outros afirmam que estão supernotificando para inflar números, criar pânico e extorquir mais dinheiro da União. E talvez ambos estejam corretos. O Brasil é continental e ambas as acusações encontram respaldo em provas convincentes.

O governador parece começar a entender o desgaste político que a situação está lhe gerando. Tanto que, amanhã (22/04) os shoppings, academias e restaurantes começam a poder funcionar desde que obedeçam a algumas restrições.

O Covid-19, que a China nos deu ‘de presente’, não pode ser ignorado como problema grave à Saúde. Mas outros problemas, muitos em decorrência do isolamento, também não podem ser desprezados. A Violência Doméstica disparou. Episódios de depressão, surtos de ansiedade e tentativas de suicídio também. Quanto tempo levará até que os ânimos comecem a se exaltar de fato?

Que esse problema nos ensine a necessidade do preparo para momentos ruins. Que nos mostre o quanto a população não pode contar com seus ditos representantes, muitos, inclusive, com vocações ditatoriais. Outros, como um vereador da cidade que nunca foi nada além de servidor público e disse “empresa que não pode se bancar fechada por dois meses tem mais é que fechar” sempre vão advogar em benefício próprio. Mesmo que contra você.

Torçamos para que o grande legado dessa crise não sejam apenas as máscaras. Até porque, sendo o Brasil como é, é mais fácil elas passarem a ser usadas por assaltantes no futuro (como os capacetes de motocicleta) do que por pessoas resfriadas que não querem contaminar ninguém.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

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