Kleinübing só não volta a ser prefeito se não quiser
Foto: DivulgaçãoFriday, 08 May 2020
Com a queda na popularidade de Hildebrandt e Alba, o ex-prefeito abre uma vantagem colossal na disputa eleitoral desse ano.
A pandemia do Covid-19 – causada pela China – mudou completamente a rotina de praticamente todas as pessoas do planeta. Dos alarmistas desesperados aos negacionistas alienados, todos têm sentido os efeitos colaterais da crise... seja sanitária, econômica ou política.
O Governo Federal perde diariamente apoio, ainda inflado por bots em redes sociais, indivíduos que defendem causas próprias e pessoas presas em uma bolha de convívio acalentadas pela falsa segurança ocasionada pela ausência de protestos nas ruas por conta do isolamento social. Desde a nomeação do petista Augusto Aras, passando pela demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e indo até as acusações bombásticas do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, Jair Messias Bolsonaro vê sua base de aliados cada vez menor e mais radical.
Em Santa Catarina, o governador Carlos Moisés (PSL) já havia se indisposto anteriormente com o presidente, sendo visto pela base bolsonarista como ‘traidor’. Esse problema piorou ainda mais com o decreto de quarentena e tornou-se insustentável com os R$ 33 milhões que, na melhor das hipóteses, foram mal empregados na compra de respiradores supostamente superfaturados.
Talvez Moisés prefira ouvir as loas elogiosas de outros estados em relação à reposta de Santa Catarina à crise de saúde oriunda da China. Resposta essa tão rápida quanto mal executada, levando milhares de pessoas ao desespero da desinformação ao anunciar o isolamento praticamente da noite para o dia. Contudo, dentro do estado, um número muito considerável de pessoas está descontente com o governo. E isso vai se refletir nas urnas.
Ivan Naatz, deputado federal, vai tentar se valer da impopularidade do governador para emplacar sua eleição como prefeito de Blumenau. Se tentar, vai perder de novo. E isso não vai espantar ninguém.
Outro pré-candidato – e o mais prejudicado até agora – é o também deputado estadual Ricardo Alba (PSL), que foi o mais votado das últimas eleições. Alba se aproveitou da ‘Onda 17’ em Santa Catarina, por mais que negue, e conseguiu o cargo que almejava. No ‘divórcio’ entre Moisés e Bolsonaro, Alba escolheu o lado do governador e isso não soou bem. Depois, durante o isolamento, o deputado foi duramente criticado por não interceder em favor dos comerciantes que não podiam trabalhar ou das igrejas que não podiam abrir. Dessa forma ele ficou na nada invejável posição de não poder criticar o governador – seu maior aliado até o momento – porém tendo que demonstrar algum tipo de solidariedade com os detratores de Moisés. Com isso ele perdeu, além de votos, apoio político.
O prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) está numa situação similar. Estar com a máquina pública na mão é, quase sempre, garantia de reeleição: a não ser que haja uma crise grave que lhe torne o centro das atenções negativas. E é isso que está acontecendo. Hildebrandt tentou diversas vezes colocar os problemas das restrições à Economia na conta do governador que, por sua vez, é quem destina os recursos para a Saúde. Assim, com exceção de um grupo específico de pessoas (além de apoiadores de interesses particulares) o atual prefeito tem recebido duras críticas nas ruas sendo, inclusive, culpado pelas pessoas por coisas que sequer seriam da responsabilidade dele. Momentos de crises não são muito justos.
Nesse cenário – onde Alba e Hildebrandt, que eram os dois favoritos – sofrem por estarem atrelados ao Poder Público num momento de instabilidade política, as chances eleitorais diminuem. Afinal, eles terão que pedir votos a pessoas cujos negócios quebraram, empregos se perderam ou qualquer outro problema que resolvam lhes imputar (mesmo que injustamente).
Se antes uma candidatura de João Paulo Kleinübing (DEM) parecia um risco porque o tabuleiro político nacional estava muito incerto, depois do fenômeno Bolsonaro e da decepção pós-fenômeno por parte de muitos apoiadores isso mudou um pouco. Com o surgimento do coronavírus, o desmanche gradual do Governo Federal, as polêmicas que despencam a popularidade do governador (derrubando os dois pré-candidatos favoritos à Majoritária municipal) e a crise econômica aguardada, o jogo virou de vez e seu nome voltou a despontar como o favorito.
Ex-prefeito, JPK sempre defendeu a bandeira anti-PT (mesmo antes de isso virar moda), reergueu a Oktoberfest e fez algumas obras de grande importância para o município. Entrou com grande popularidade no primeiro mandato e com aprovação gigantesca no segundo, mas saiu chamuscado pela Operação Tapete Negro, da qual foi inocentado em 2017.
Tornando a situação ainda mais favorável para ele, outro dos nomes fortes – o respeitado promotor Odair Tramontin – teve sua filiação no Novo cancelada de forma arbitrária e muito questionável. Somando isso ao destino de Sérgio Moro em sua passagem pela política, é possível que Tramontin repense muito se deseja mesmo trocar o Judiciário pelo Executivo.
Com os elementos que temos hoje – Alba e Hildebrandt enfraquecidos, Tramontin não continuando a candidatura e Naatz sendo a carta fora do baralho que sempre foi nas eleições municipais blumenauenses – Kleinübing só não se elege se não se candidatar.
Mas ele vai querer? Só ele poderia responder. Homem inteligente, influente e racional, ele não toma decisões sem ter o mínimo de certeza sobre o êxito de seu desfecho. Por um lado uma candidatura pode ser um risco caso não ganhe. Por outro lado os ventos nunca estiveram tão favoráveis para ele quanto nesse momento de incertezas. De qualquer forma para ele, homem cujas pretensões políticas não são pequenas, ficar muito tempo fora dos holofotes da política também não é uma alternativa positiva.
A verdade é que Kleinübing está tão próximo de se tornar prefeito novamente que poderia até dizer se a cadeira usada por Hildebrandt ainda está quente.
E se você acha que estamos fazendo propaganda para ele ou puxando sardinha para o seu lado... em primeiro lugar: vá procurar algum parente na esquina... em segundo lugar: sempre fomos críticos ao governo JPK (ele provavelmente não tem grande simpatia por nós), mas não podemos negar seus feitos positivos e suas chances reais de voltar à liderança do Executivo Municipal.
Claro que – no momento em que vivemos, repleto de mortes, falências e escândalos políticos em todos os níveis de Poder – tudo é muito relativo e pode mudar de repente, com novas reviravoltas. Mas se a situação continuar encaminhando para onde aponta, ele só não volta a ser prefeito se não quiser.