Novo governador é denunciado por lavagem de dinheiro

Novo governador é denunciado por lavagem de dinheiro
Foto: Divulgação

Monday, 21 September 2020

Julio Garcia (PSD) seria o líder de quadrilha e teria montado 'rede de influência' na Secretaria de Administração do estado.

Prestes a assumir como interino o governo do estado, o presidente da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), Julio Garcia (PSD), foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por cometer por doze vezes lavagem de dinheiro. A informação foi antecipada pelo colunista Lauro Jardim. Além dele, os procuradores também denunciaram os três filhos do deputado, a sua ex-mulher e um empresário. A Alesc vota nesta quinta-feira a abertura de impeachment do governador Carlos Moisés (PSL) e da vice, Daniela Reinehr (sem partido). Caso o impedimento dos dois seja aprovado, o presidente da assembleia assume provisoriamente o governo catarinense. Segundo a denúncia do MPF, Julio Garcia era sócio oculto da Apporti, uma empresa de tecnologia que venceu uma licitação com a Secretaria de Administração de Santa Catarina. Os procuradores descobriram que o dono da empresa, Jefferson Colombo, fez repasses indiretos a Garcia. A denúncia afirma que o empresário pagou contas pessoais do presidente da Alesc e adquiriu imóveis e bens para ele e sua família, que somam pouco mais de R$ 2,5 milhões. O dinheiro foi usado para a compra de quatro apartamentos, um terreno, um edifício garagem e uma viagem internacional, além de pagar cotas de IPTU, seguro de carros, condomínios e o pagamento de salários de funcionários particulares. Os apartamentos, apesar de estarem em nome de Jefferson, eram usufruídos pelos três filhos de Julio e sua ex-mulher: Júlia Garcia, Maria Eduarda Steinmann Garcia, Pablo Benedet Garcia, e Maria Elizabeth Garcia, respectivamente. O MPF fez questão de deixar claro no documento que os crimes foram praticados antes de Julio Garcia assumir o atual mandato como deputado, justamente para evitar o risco de perder o foro sobre a denúncia. Os supostos crimes cometidos pelo deputado teriam sido praticados quando ele não tinha cargo público e atuava como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC). A denúncia é desdobramento da Operação Alcatraz, realizada em outubro do ano passado pela Polícia Federal. O alvo da operação foram contratos do governo do estado para a contratação de mão e obra para unidades prisionais de Santa Catarina que usaram recursos federais. A investigação revelou que os contratos sem licitação e superfaturados foram assinados pelo ex-secretário adjunto de administração, Nelson Nappi. Segundo os procuradores, Garcia, quando ainda era conselheiro do TCE-SC, indicou Nelson Nappi para o cargo de secretário adjunto estadual para atuar diretamente "na obtenção de ilícitos para Júlio através de desvios em contratos mantidos com o governo estadual". Além de Nappi, o MPF afirma que Garcia indicou outras três pessoas para cargos comissionados, e essas, indicaram outras, "criando uma extensa rede de influência na administração estadual", que agiam sob o seu mando. Após a troca de governo, Nappi foi exonerado da Secretaria de Administração e foi nomeado por Julio Garcia para um cargo comissionado na Alesc. Os procuradores ligaram Julio Garcia a Jefferson Colombo através de boletos encontrados pela PF na casa do parlamentar, mas que haviam sido pagos pelo empresário. As transações foram confirmadas com a quebra de sigilo bancário de Colombo. A denúncia foi apresentada a juíza federal Janaína Cassol Machado, da 1ª Vara Federal de Florianópolis. O MPF solicitou que, além de tornar os denunciados réus, eles sejam obrigados a devolver ao estado de Santa Catarina e à União o dobro do valor desviado e que os imóveis comprados com o dinheiro desviado sofram perdimento. A defesa de Julio Garcia alegou que o deputado nunca foi sócio de Jefferson Colombo e que sua relação é pessoal. O advogado César Abreu afirmou também, que “algumas contas foram pagas pela pessoa física Jefferson Colombo, genro de sua ex-companheira, com quem Julio Garcia mantinha e mantém até hoje relações familiares e pessoais. Esses valores correspondem ao pagamento de uma dívida de Colombo para com Julio Garcia, contraída em 2007, quando Garcia ajudou Colombo num período de dificuldades. Os pagamentos começaram a ser feitos anos depois, quando Colombo se recuperou financeiramente e de acordo com a sua disponibilidade”. Sobre sua relação de Garcia com Nelson Nappi, o advogado disse que “são naturais as indicações políticas e não significam, de forma alguma, que havia qualquer tipo de ingerência ou influência na gestão daquela pasta”. O advogado Francisco Ferreira, que defende Jefferson Colombo, afirmou que “a denúncia por ser lacunosa, não nos permite conhecer qual foi o crime antecedente que eventualmente pudesse resultar ou configurar lavagem de dinheiro”. E que “a denúncia faz um enredo enorme de situações, inclusive traz fatos que sequer se relacionam aqueles que estão sendo atribuídos ao Jefferson, e isso nos trouxe até uma certa perplexidade e surpresa. Esperávamos pelo tempo transcorrido que essa denúncia fosse melhor elaborada”. Eles aguardam ainda que a ministra Rosa Weber do STF decida sobre um ADPF que questiona sobre a linha sucessória do governo. Querem saber se o pedido de impeachment pode ser recebido por quem pode se beneficiar diretamente dele.

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Redação

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