O cenário político antes da propaganda eleitoral

O cenário político antes da propaganda eleitoral
Foto: As imagens foram colocadas em ordem alfabética e com os três mais citados para evitar choramingo alh

Friday, 16 October 2020

Em muitas conversar com muita gente antes das propagandas começarem tentamos entender como o eleitor estava vendo os candidatos a prefeito. Não pesquisamos, não calculamos... só conversamos. E foi interessante.

E começou o período da Propaganda Eleitoral Gratuita de Rádio e Televisão. É aquela época tão detestada pela maioria das pessoas onde elas precisam assistir velhas figuras públicas fazendo os discursos de sempre e candidatos anedóticos explicitando a piada que nosso processo eleitoral se tornou para poderem assistir ou ouvir os programas que gostam.

Por mais que um número imenso de pessoas deteste essa prática, ela é importante. Afinal, você vai ser obrigado a votar. Então, o mínimo que você deve fazer, é conhecer a pessoa que o dinheiro do seu trabalho remunerará para gerir a cidade onde você vive.

É curioso como esses programas eleitorais mudam as opiniões das pessoas. E basta esperar que aconteçam por algumas semanas para ver isso.

Em setembro, por exemplo, o que a maioria das pessoas sabia era que os candidatos eram “o prefeito, o ex-prefeito, o deputado amigo do governador, o deputado barraqueiro feio que dói e a esposa de outro ex-prefeito”. Muitas vezes sequer os nomes eram sabidos. São 12 candidatos e a maioria das pessoas conhecia menos da metade.

Em setembro conversamos com muita gente na cidade inteira. Muita gente mesmo. Do mesmo jeitinho – que só nós temos – que fizemos em 2012 e previmos (contra todas as apostas) que Napoleão Bernardes seria eleito. Estivemos em bairros, agremiações, grupos e todo tipo de local conversando com as mais diferentes pessoas. Isso, claro, antes de começarem as propagandas eleitorais.

E o resultado, para aquele momento, foi interessante, embora previsível. A maioria das pessoas demonstrou interesse em datar uma nova chance a Mário Hildebrandt, que consideravam um bom prefeito. Depois dele, os entusiastas de Kleinübing eram os mais numerosos. Seguidos pelas pessoas que achavam que Tramontin traria ares novos à cidade.

Quando apresentados aos nomes dos candidatos, as pessoas mantiveram suas opções em Mário, JPK e Tramontin. O menos citado foi o simpático ex-presidente do BEC Wanderlei Laureth, seguido pelo bolsonarista Jairo Santos e a professora Débora Arenhart. O que é natural. Mário e Kleinübing trazem consigo (no presente ou no passado) o poder da máquina pública e Tramontin representa aqueles que anseiam por mudanças. Enquanto Laureth, Santos e Arenhart são conhecidos apenas por uma parcela muito pequena da sociedade. E levados a sério por um percentual ainda menor. Ainda assim, ser menos lembrado do que o candidato do PCdoB que ninguém conhecia é um indício realmente muito ruim.

Nas redes sociais Ana Paula Lima é a mais presente, com 88 mil pessoas em sua fanpage, 4,4 mil no Twitter e 3,7 mil no Instagram. É ex-deputada estadual e esposa de alguém que, além de ter sido prefeito, também foi deputado federal por muito tempo (sem contar a habilidade de manejo de números em redes sociais que o PT ainda tem, mesmo após sua quase implosão). Depois dela, o mais influente digitalmente é o Isaac Asimov blumenauense, o deputado Ricardo Alba, com 39 mil na fanpage, 404 no Twitter e 17 mil no Instagram. É um número muito respeitável, mas talvez nem todos tenham título de eleitor (ou CPF). Seguindo-os está Mário Hildebrandt, com 22 mil seguidores na fanpage, 1,6 mil no Twitter e 27 mil no Instagram. Claro que ele é o atual prefeito e lives diárias durante a pandemia, ajudaram a crescer esses números. Mas seguidores não são, necessariamente, eleitores.

Algo que espantou foi saber que os partidos estão divididos, literalmente ao meio, entre Direita e Esquerda. Sendo três de cada (quatro de Esquerda, três de Centro-Direita, três de Direita e dois de Centro-Esquerda). Ousado para uma cidade tradicional e conservadora.

Claro que isso não é uma pesquisa. Trata-se apenas de opinião baseada em conversas com os mais diversos tipos de pessoas ANTES de a propaganda eleitoral começar. Pesquisas já mostraram que não são confiáveis e opiniões, menos ainda. Então não use isso como norte.

Feito esse disclaimer, a impressão que nos deu foi a de que – naquele momento – Mário levava uma pequena vantagem sobre Kleinübing, enquanto Tramontin vinha atrás despertando o interesse de muitos que ainda não o conheciam. Ana Paula manteria a mesma base de sempre (insuficiente para se eleger), chegando a dividir intenções de voto com João Natel. Ivan Naatz só cumpre seu papel de ‘candidato a prefeito que nunca ganha’. Alba, que começou com a promessa de ser um fenômeno, esgarçou a própria imagem e acabou sendo engolido pelo vórtice de confusões que sugaram o governador. Porém, o que mais nos surpreendeu foi o número de pessoas interessados na candidata do PSOL, Geórgia Faust. Nem de perto seria o bastante para elegê-la, mas em uma cidade conservadora foi impressionante: ela foi mais lembrada do que conhecidos candidatos que já citamos nesse texto. Curioso.

E tem os candidatos-fantasma, claro. Aqueles de partidos nanicos e com força política insignificante que não ganham destaque em lugar nenhum e vem dar a desculpa de “optamos não fazer...”. Não. Vocês não abriram mão de nada. Vocês simplesmente não conseguiram. Mentir é feio. Assim como os que dizem que não usam fundo eleitoral. O NOVO e o PRTB podem dizer isso. Os outros, não. E sobre ter apoio de Bolsonaro... alguém ainda quer isso?

De qualquer forma é fundamental que você conheça os candidatos. Todos. Até os insignificantes (mesmo se for para rir das caras deles). Então veja quais representam mais os SEUS próprios valores e então os pesquise. A fundo. Quem são? De onde vem? O que já fizeram? Qual legado deixaram? Qual reputação têm? Do que dizem, o que é verdade? O que é mentira? Por que mentem? E, acima de tudo, as propostas e valores dessa pessoa são o bastante para lidar com a responsabilidade do cargo que ocupam? Porque uma eleição é uma entrevista de emprego. E o empregador é VOCÊ? Qual deles você vai contratar? Quem te convenceu a usar o seu suado dinheiro para bancar as idéias (e salários)? Mas o foco é VOCÊ. É você saber quem é o melhor para você. Eu não gosto do Ivan Naatz. É um direito meu. Mas se você gosta, vote nele. Eu abomino o PCdoB e PSOL, mas se você se alinha com eles, então os escolha. Não é o que uma pesquisa vai mostrar, um comunicador vai opinar ou mesmo um candidato vai dizer que devem mudar sua opinião: é você. Sua pesquisa. Seu interesse. O Brasil, mês a mês, dá provas de que ainda existem muitos metros depois do fundo do poço e quem vai tirá-lo de lá é você. Não é o prefeito. Nem o presidente. Ou qualquer ideia messiânica getulista tosca que exista. É você. Trabalhando, sendo honesto (a) e votando consciente.

No momento antes da propaganda eleitoral as pessoas demonstravam vontade de votar no atual prefeito, em um ex-prefeito ou no promotor que fez carreira no Ministério Pública caçando maus políticos. Mas esse jogo muda. E, às vezes, é repentino. Quem decide é você.

Pense e analise bem antes de votar. E boa sorte aos 12 corajosos (ou malucos) dispostos a sentar na cadeira de prefeito e, com isso, garantir uma enxaqueca de quatro anos pelo menos.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

>> COMPARTILHE