Congresso quer que Flávio Bolsonaro dê explicações sobre mansão em Brasília
Foto: DivulgaçãoThursday, 04 March 2021
PSOL, Rede e PT pedem que os fatos sobre a negociação de quase R$ 6 milhões sejam incluídos na representação feita contra o senador no Conselho de Ética. Pedido cita 'movimentações financeiras incompatíveis com os rendimentos declarados pelo senador'.
Parlamentares pediram nesta quarta-feira (3) que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) dê mais explicações no Conselho de Ética sobre a compra de uma mansão de quase R$ 6 milhões em Brasília. Negócios imobiliários do senador já estão sob suspeita e são alvo de investigação.
Três partidos -- PSOL, Rede e PT -- querem que os fatos sobre a compra da mansão sejam incluídos na representação feita, em 2020, contra Flávio Bolsonaro no conselho.
O pedido diz que "novas e gravíssimas denúncias de movimentações financeiras incompatíveis com os rendimentos declarados pelo senador Flávio Bolsonaro inundaram o noticiário nacional. Não é a primeira vez que transações imobiliárias são colocadas em cheque por investigadores do Ministério Público do Rio, razão pela qual merecem ser amplamente esclarecidas e investigadas".
O senador Humberto Costa, do PT, disse que Flávio Bolsonaro precisa explicar essa nova transação imobiliária.
“Dado o aspecto nebuloso que essa transação está guardando, é importante que haja o esclarecimento sobre a origem do recurso, como se deu essa transação”, declarou Humberto Costa.
Investigação por 'rachadinhas'
Flávio Bolsonaro é investigado, suspeito de se apropriar de parte dos salários de assessores quando era deputado estadual no Rio, no chamado caso das "rachadinhas".
Na semana passada, o caso teve um julgamento importante. O Superior Tribunal de Justiça anulou a quebra do sigilo bancário e fiscal do senador, fonte da maior parte das provas na investigação.
O primeiro a defender a anulação, sendo seguido por outros três ministros foi o ex-presidente do STJ João Otávio de Noronha.
O ministro comandou o tribunal de 2018 a 2020 e foi assessorada pela juíza Cláudia Silvia de Andrade. Ela foi uma dos seis juizes que trabalharam no gabinete dele durante os dois anos na presidência.
A juíza é namorada do empresário Juscelino Sarkis. Eles aparecem juntos em vários eventos cobertos por colunas sociais. Ele é o antigo proprietário, que vendeu a casa de quase R$ 6 milhões ao novo dono, o senador Flávio Bolsonaro.
O empresário Juscelino Sarkis declarou que o negócio foi feito por corretores, que não tinha conhecimento prévio da identidade do comprador e que nunca teve contato com ele. Disse ainda que a namorada não teve qualquer envolvimento como negócio.
Em nota, disse que já recebeu R$ 4,19 milhões em pagamento, que a negociação foi feita seguindo a lei, e que os valores serão devidamente declarados.
O ministro João Otávio de Noronha disse que não tem conhecimento sobre a negociação do imóvel e que a juíza Cláudia Andrade não trabalhou em nenhum caso ligado a Flávio Bolsonaro.
Negócios imobiliários sob suspeita
O imóvel de 2,4 mil metros quadrados no setor de mansões Dom Bosco, área nobre de Brasília, é a joia da coroa numa história de sucesso imobiliário do senador. Ele negociou 20 imóveis em 16 anos, vendendo uns e comprando outros.
Muitas dessas transações no caminho estão sob investigação.
Em nota, o senador Flávio Bolsonaro afirmou que, além de financiar mais da metade do valor, a casa nova em Brasília "foi comprada com recursos próprios, em especial oriundos da venda de seu imóvel no Rio de Janeiro".
Mas, segundo os promotores, a compra do imóvel na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde ele morava antes de se mudar para Brasília, foi feita com valores desviados no esquema da rachadinha.
Na investigação, os promotores detalham o método que Flávio Bolsonaro usaria para lavar o dinheiro da rachadinha negociando imóveis: "aquisição de bens imóveis por valores subfaturados".
Corretor responde por golpes
Uma figura chave nesse esquema seria o americano Glenn Dillard. Dillard morou no Brasil de 2010 a 2015, aprendeu português e se tornou uma figura vistosa no mercado imobiliário.
Dillard voltou para os Estados Unidos onde atualmente responde a um processo pelo que fez no Brasil -- cinco credores acusam o americano de vários golpes.
Ele juntou investidores para um super resort na Região dos Lagos, no Rio. O hotel de luxo nunca saiu do papel.
Outro negócio suspeito de Glenn Dillard está diretamente ligado a Flávio Bolsonaro. Ele foi o corretor de dois apartamentos de Copacabana. Segundo o Ministério Público, o casal Flávio e Fernanda Bolsonaro pagou oficialmente R$ 140 mil por um e R$ 170 mil pelo outro.
A denúncia diz que esse valor era menor do que o preço real dos apartamentos -- um inexplicável deságio.
Com base em registros bancários, os promotores afirmam que Dillard recebeu por fora, em dinheiro vivo, R$ 638 mil.
O depoimento de Dillard seria importantíssimo no caso, mas hoje é difícil encontrá-lo. Ele foi localizado recentemente na cidade de Riverton, no estado de Utah, onde aparece registrado como técnico em radiologia em uma universidade.
Nos últimos meses, foi visto entrando e saindo de uma casa na cidade. O Jornal Nacional foi procurar por ele, mas os moradores disseram que ele não mora mais lá.
Recluso, mudando de cidade e endereço, tudo indica que Dillard não tem feito negócios -- nem quentes, nem frios.