Conheça o autor da CPI que visa desmascarar a Odebrecht em Blumenau
Foto: Ricardo LatorreMonday, 15 May 2017
O BLUMENEWS conversou brevemente como vereador Jovino Cardoso, que tem lutado praticamente sozinho para tirar o sigilo dos envolvidos pela lama da Odebrecht, e traz para você um pouco sobre o vereador.
Na semana passada uma verdadeira montanha-russa tomou a Câmara dos Vereadores por conta da CPI do Esgoto de Blumenau.
Aprovada por unanimidade na Câmara, tendo inclusive o aval do prefeito e amplamente apoiada pela imprensa, a CPI acabou recebendo um parecer negativo por parte do procurador da Câmara, Anselmo Lessa, numa postura que contrariou todas as expectativas.
Em sua defesa, durante uma conversa com jornalistas registrada pelo Grupo RBS, Lessa se justificou com afirmações pouco convincentes que serviram apenas para aumentar ainda mais a vontade dos blumenauenses de ver essa CPI acontecendo e descobrir, enfim, quem são os outros nomes envolvidos que ainda não foram divulgados pelos responsáveis pela ‘Lava-Jato’.
No cume dessa batalha está o autor do pedido de CPI, o vereador Jovino Cardoso Neto (PSD), que aumentou consideravelmente o hype em volta de seu nome ao assumir essa postura ‘contra o sistema’ sutilmente deixando claro que não foi um dos beneficiados com o esquema de corrupção da Odebrecht (afinal, se fosse, não estaria tentando tornar os nomes dos envolvidos de conhecimento público). E mesmo com o parecer negativo de Lessa, ele vai prosseguir.
Jovino começou na vida pública em 2004 conseguindo 2,1 mil votos, se reelegendo em 2008 com impressionantes 6,8 mil votos, o que lhe deu a possibilidade de concorrer duas vezes à vaga de deputado federal, tendo conseguido 57 mil votos em 2010 e 69,8 mil votos em 2014, não se elegendo, mas conseguindo a suplência.
Sua carreira política vinha em uma crescente vertiginosa até que cometeu o erro estratégico de aceitar ser vice do atual prefeito, fazendo junto com ele, 129 mil votos em 2012. Pelos quatro anos seguintes sua atuação ficou engessada pelo Executivo, interessado em outras coisas.
E quando era citado era por ataques, como o que sofreu do ex-vereador Jefferson Forest (PT) que lhe fez uma acusação da qual ele já foi, inclusive, absolvido, restando a dúvida sobre se virá ou não a processar Forest pelos danos morais e, principalmente, políticos que causou.
Mesmo com todo esse revés, conseguiu se eleger vereador pelo terceiro mandato em 2016 com 3,5 mil votos, número que mostra o quanto sua posição foi prejudicada pelo governo tucano.
Mas quem é o homem por trás da autoria da CPI?
Filho mais velho de uma família com dez irmãos, seu pai era metalúrgico e sua mãe doméstica. Por conta da condição humilde, começou a trabalhar para vizinhos aos sete anos de idade. Aos nove, para ajudar a alimentar os irmãos, trabalhava como ajudante de dois pedreiros enquanto ainda tinha que arranjar tempo para estudar. Aos 13 anos foi contratado pelo Samae como jardineiro (numa época em que a Legislação Trabalhista era menos rígida), lá ficando por quatro anos e cursando Componentes Eletrônicos no Cedup, indo para o setor elétrico da autarquia.
Em 1987 saiu do Samae e foi trabalhar montando painéis elétricos na antiga Waltec, hoje Schneider.
Passou pelo ramo têxtil trabalhando como tecelão e tintureiro nas Malhas Soft e na Hering, onde teve a oportunidade de concluir seus estudos. Nessa época se casou e abriu uma empresa que prestava serviços na área de construção civil, que teve até sua primeira eleição, em 2004.
Pai de três filhos: de 27, 15 e nove anos, ele foi vice-presidente da Câmara logo no seu primeiro mandato, fazendo parte também da Comissão de Finanças e, em seu segundo mandato, alçando o cargo de presidente da Casa, onde ficou até se eleger vice-prefeito.
O BLUMENEWS conseguiu, na semana passada, conversar brevemente com o vereador que está novamente reconquistando sua posição de destaque.
Ele não considera que seu período no Executivo tenha sido pouco proveitoso. Em suas palavras: “A questão de ser vice-prefeito traz uma bagagem... um conhecimento... do que é o Executivo e do que a sociedade tanto cobra em melhorias”, enfatizando, “Porque o papel do vereador é legislar e fiscalizar, mas o Executivo tem uma cobrança mais próxima e tem uma ligação mais direta com as necessidades da comunidade”.
Ele julga que esses quatro anos aumentaram seu conhecimento sobre a máquina pública.
Mesmo assim não considera que tenha aprendido tudo que tenha a aprender. “Mesmo que vivesse mais 40 anos ainda teria muito a aprender”, afirma. "A vida é uma escola: a cada dia e a cada momento você aprende", concluindo, “A vida é feita de novidades e aprendizados".
Ele diz crer que antes de liderar, o político deve se deixar ser liderado por boas idéias e que para isso deve ter o maior contato possível com as pessoas, que são a grande fonte de idéias e demandas que podem melhorar a sociedade.
No seu ponto de vista um agente público deve estar próximo a cada problema e sugestão de uma comunidade e precisa ter vocação para servir: “O que me levou à vida pública foi aprender a servir muito cedo à minha família e assim ter essa vontade de prestar atendimento na comunidade no dia-a-dia”, conclui.
Sem projetos políticos pré-definidos para o futuro, o homem considerado por seus assessores um workaholic acredita que as pessoas votam em quem conhecem ou em quem alguém de confiança conhece. Para ele o trabalho sempre é fator preponderante para o reconhecimento da comunidade e é fundamental que as pessoas conheçam suas ações e sua vida.
Este é um pouco do perfil do homem que pode ajudar a resolver algumas perguntas que há meses incomodam a cidade, como: quem foram os vereadores de 2012 beneficiados pela Foz do Brasil? O nome do ex-prefeito João Paulo Kleinübing (PSD) teve, em algum momento, envolvimento em toda essa história? Porque o Judiciário estadual sempre boicotou as tentativas do Ministério Público blumenauense em investigar a Odebrecht?
É importante que continuemos acompanhando essa história para entender, finalmente, quem é quem nesse jogo imundo que se tornou a política nacional.