Impeachment: é uma boa hora para falar nisso?

Impeachment: é uma boa hora para falar nisso?
Foto: Divulgação

Wednesday, 14 April 2021

O que o (mal) exemplo da experiência catarinense pode ensinar à toda a União.

Em um momento como o atual – com inseguranças e incertezas aflorando os nervos – é natural que os humores se alterem e, não raramente, o bom-senso desaparece. Na política, então – onde o dito bom-senso quase inexiste – a situação é ainda mais extrema. E um bom exemplo disso foi o recente impeachment do governador Carlos Moisés (PSL).

Ele cometeu crimes? Só a corte vai decidir. Mas essa história é suspeita? Demais. Achamos que ele pode ter cometido atos ilegais? Achamos. Mas é uma opinião pessoal que apenas o Judiciário poderá lavrar. Contudo, mesmo que seja culpado, era momento de cassação?

O ex-secretário da Saúde, André Motta Ribeiro, estava fazendo um excelente trabalho na aquisição de vacinas para o estado. Toda semana chegavam novas remessas. Não raro, mais de uma vez por semana. A vacinação em Santa Catarina estava indo de vento em popa. Daí houve o afastamento... e a vacinação praticamente parou. Os carregamentos com as doses pararam de chegar aos montes e, pouco a pouco, a velocidade de imunização despencou.

É demérito da governadora em exercício? Não. Culpa de sua secretária de Saúde? Tampouco. Mas alterar uma gestão inteira durante uma pandemia (onde o elemento principal, as vacinas, estavam tendo bom desempenho) é uma regressão.

Há uma crise sanitária, humana, social e econômica. Não é momento de jogos políticos.

E o mesmo que vale para Florianópolis vale para Brasília. Bolsonaro é um traidor mentiroso que se elegeu às custas de estelionato eleitoral e fantasmas com os quais viria a se aliar depois? Sim. Sua gestão em relação ao combate da pandemia foi deplorável? Obviamente. Mas não é o momento de falar em impeachment. O país não está estável para isso.

Pensem no caso do nosso estado. Laboratórios e institutos (como o Butantã) passaram meses negociando com Motta. Já havia acordos. Já havia certa familiaridade. Já havia costumes entre as partes. Quanto você remove Motta da equação e coloca em seu lugar uma nova secretária, volta tudo à estaca zero. Vai ser necessário criar acordos. Reforçar os já criados. Construir uma familiaridade (que denota meses) e costumes. Alterar a administração altera todo o resto. No nosso caso, alterou-se a gerência de algo que estava funcionando muito bem. No caso do Governo Federal, quer-se alterar um passado revoltante de um presidente inconsequente que, bem ou mal, está começando a tentar corrigir as idiotices que ele mesmo fez.

O país está muito instável. A doença está longe de ser controlada. Se Moisés for culpado... se Bolsonaro for culpado... que saiam de seus governos direto para a cadeia. Mas que termine-se aquilo que já foi começado. Quer falar em impeachment? Ótimo. Mas espere que todos estejam imunizados. 2020 foi um ano perdido. 2021 também será. Não percamos 2022 e os anos vindouros por falta de senso de oportunidade e urgência.


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Ricardo Latorre

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