O rei está nu

O rei está nu
Foto: Reprodução

Thursday, 18 May 2017

Despido de falsas éticas em gravação autorizada pela Justiça, o presidente Michel Temer está dando vida ao brado: "Le Roi Est Mort, Vive Le Roi!".

Por volta das 19h desta quarta-feira (17/05) o site do jornal O Globo publicou um furo que devastou o Governo Federal como uma bomba: um indício direto que envolveria o atual presidente Michel Temer (PMDB) à compra de silêncio e crimes de corrupção.

Joesley e Wesley Batista, donos do frigorífico JBS, mostraram à Procuradoria-Geral da República (PGR) gravações nas quais Temer autoriza um pagamento de R$ 500 mil para o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB) para que ele não denunciasse o atual presidente da república. A transferência seria feita através pelo deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB).

Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a popularidade de Temer nunca foi alta. E desde que assumiu só despencou com medidas consideradas impopulares (apesar de algumas serem necessárias para consertar o estrago financeiro feito no país pela antecessora).

Apesar de ter cerca de 80% dos votos parlamentares, o atual presidente tem uma taxa de rejeição de alarmantes dois terços e, verdade seja dita, nunca passou confiança.

Chegando a dizer em entrevista na BAND TV que Eduardo Cunha, enquanto presidente da Câmara, chegou a considerar engavetar o pedido de cassação de Rousseff e só não o fez por não ter sido apoiado pelo PT quando precisou, Temer expor – deliberadamente ou não – a fragilidade e a mesquinharia da política brasileira para o mundo inteiro.

Parlamentares da oposição se uniram para pedir o afastamento de Temer e, para piorar ainda mais sua situação, a maioria dos membros de sua bancada aliada também acha que ele deveria renunciar ou ser deposto. "Diante da gravidade do quadro e com a responsabilidade de não deixar o Brasil mergulhar no imponderável, só nos resta a renúncia do presidente Michel Temer e a mudança na Constituição. É preciso aprovar a antecipação das eleições presidencial e do Congresso Nacional", disse o senador Ronaldo Caiado (DEM).

O fato é que a maioria dos políticos crê que o governo Temer tenha acabado. Ponto final.

Segundo sua assessoria, ele não cogita renunciar. Ele até confirma ter se encontrado com Batista, mas nega a acusação de tentar comprar o silêncio de Cunha. Só não explica, ainda, como a voz dele teria então ido parar em uma gravação de algo que ele se lembra parcialmente de ter feito.

Vários jornais pelo mundo já estão repercutindo o escândalo da vez. O argentino “El Clarín” destaca a importância que Cunha teve para derrubar Dilma e o quanto é comprometedora a situação na qual o maior beneficiado com o impeachment se encontra agora.

O gigante dos noticiários econômicos Bloomberg divulgou que um fundo ETF brasileiro comercializado em Tóquio caiu 8% logo após o aparecimento da notícia. A primeira queda de muitas.

Até as 21h o deputado Alessandro Molon (Rede) já havia protocolado o primeiro pedido formal de impeachment de Temer na Câmara dos Deputados. "Isso fere direta e claramente a lei dos Crimes de Responsabilidade, que diz que ter comportamento incompatível com decoro do cargo é causa para cassação do mandato", afirmou baseado no artigo nono da Lei 1079, que trata sobre crimes contra a probidade da administração.

É impressionante que essa bomba não aconteceu anos atrás... aconteceu faz um mês. Ou Michel Temer é muito ingênuo ou é burro (e nenhum desses atributos pode constar em um presidente da República). Seja como for, ele conseguiu a corda da própria forca.

O problema é que a crise que pode se agravar com essa instabilidade periga enforcar Temer e todo o povo brasileiro junto. Ainda é muito cedo para saber os efeitos disso tudo à médio prazo.

Outro que foi denunciado – mas esse já é mais um zumbi do que um político – foi o senador Aécio Neves (PSDB), ex-presidenciável. O mineiro foi gravado pedindo R$ 3 milhões a Joesley Batista para o senador Zezé Perrella (PSDB). Esse nome lhe pareceu familiar? Devia. Perrella – amigão de Aécio – era o dono de um helicóptero que foi apreendido pela Polícia Federal com quase meia tonelada de cocaína no Espírito Santo em 2013.

“Farinha do mesmo saco”, diriam os trocadilhos.

Se você não teve a sorte de morrer ou ser deportado em 2014 e viveu para ter a amarga tarefa de escolher entre Aécio (nossa versão falsificada de ‘Narcos’), a Dilma (que não tinha capacidade de juntar cinco palavras em uma frase) ou a Marina (popularmente chamada de ‘tartaruga sem casco’)... bem... prepare-se. E o último que sair, por favor, apague a luz. Já temos contas demais...


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Ricardo Latorre

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