Conheça melhor o vereador Almir Vieira
Foto: Rick LatorreTuesday, 29 June 2021
Você sabia que ele salvou uma pessoa do afogamento? Que foi condecorado pelo ex-presidente FHC? Que serviu numa Missão de Paz em Angola? É que é formado em... Gastronomia? Essas e muitas outras informações sobre o nobre edil você verá na matéria abaixo.
Quando se fala no vereador Almir Vieira (PP) logo vem a mente um parlamentar de gestos firmes que traz consigo um eleitorado fiel. Eu, particularmente, tenho em mente as cenas hilárias de vezes onde há conversa paralela entre os espectadores no Plenário e ele – com a voz de comando de um militar – cala homens adultos, que olham para baixo como adolescentes assustados. É engraçado, mas só estando lá para ver.
Mas o vereador vai muito além do cargo que ocupa. Nesta série de entrevistas que começou com o presidente Egídio Beckhauser (Republicamos) e aguarda a agenda da vice-presidente Silmara Miguel (PSD), vamos conhecer um pouco da história de Almir Vieira.
Filho do saudoso e memorável Mário da Farmácia, Almir é um homem de muitos talentos. Começou a trabalhar, ainda muito jovem, em uma grande construtora da cidade, como office boy. Na época fazia curso de técnico predial e estudava desenho arquitetônico e mecânico. Sua intenção era seguir carreira, mas os 18 anos chegaram e, como eles, o Serviço Militar Obrigatório.
Ele não nega que, no começo, não queria servir ao Exército. Conversou com um conhecido político, que era seu vizinho, na tentativa de obter uma dispensa. Contudo, quando ficou sabendo, seu pai bateu o pé com firmeza e o colocou dentro do quartel.
Mesmo que, no princípio, tenha sido contra sua vontade, Almir se destacou nas fileiras do batalhão, sendo indicado para cursos de cabo e de sargento. Foi dentro da caserna que o sentimento de patriotismo aflorou no peito do ainda jovem militar e isso o levou a Angola, numa missão de paz da ONU chamada UNAVEM. Ele tornou-se um peacekeeper.
Até essa missão ele afirma que não dava a devida importância a bens materiais, alimento ou mesmo ao próximo. Mas Angola mudou tudo. Dizem que, em algumas regiões da África, qualquer um com uma arma e um pouco de comida pode ser um deus. E enfrentar uma condição tão adversa molda, a ferro e fogo, um caráter. Lá ele aprendeu o mais profundo âmago do lema do Exército: ‘braço forte, mão amiga’.
“A pessoas que estavam a tua frente – ou as mil pessoas – ou, não sei o número, muitas vezes – dependiam de um gesto teu para poder ter um café, dependiam de um gesto teu para ter um almoço, uma janta” – relembra – “Poder sentir na pele o quanto nós somos importantes numa sociedade quando nós estamos à frente de um cargo, de uma função”. Para ele, esses ensinamentos não se obtêm na escola ou em casa. Viver sobre o risco de morrer, num território hostil e, além de sobreviver, precisar ajudar na sobrevivência de civis inocentes muda a forma de ver a vida de qualquer um que passe por essa experiência.
Lá ele teve uma arma apontada contra a cabeça e até contraiu a forma mais letal da malária. A infecção já estava se dirigindo ao cérebro quando um médico salvou a sua vida. Ele não lembra o nome do profissional, mas ainda guarda grande gratidão.
Lembrando de sua experiência na África, ele afirma: “Eu nunca estou preparado para uma situação: preciso passar pelo lado mais difícil e o universo se encarrega de me preparar”.
Depois de voltar ao Brasil, ele passou por um dos mais importantes episódios da sua vida. O Exército estava ajudando na limpeza de alguns ribeirões no Garcia e ele chefiava uma viatura. Quando, ao passar pela Beira-Rio, um homem desesperado jogou-se à frente do caminhão na tentativa de pedir ajuda. Uma mulher havia se jogado às águas e alguém tentou salvá-la. Ambos estavam se afogando. Almir e outro soldado que estava com ele pularam imediatamente no rio e fizeram o salvamento das duas pessoas. A imprensa chegou a divulgar o ocorrido, mas o comandante do 23º Batalhão de Infantaria ficou impressionado e indicou-o para receber uma medalha por Ato Heróico. Ele foi à Brasília, onde recebeu das mãos do então presidente Fernando Henrique Cardoso em pessoa a condecoração. Seu nome foi para o Livro dos Heróis da Pátria. Porque nossos heróis calçam coturnos, não usam capas.
“Quando tu estás com uma farda... quando tu tens uma bandeira do país no peito... pelo simples fato de estares com aquele coturno preto tu incorporas atos de heroísmo”, relembra.
Mas sua carreira nas fileiras do Exército não se resume ao salvamento de vidas e condecorações. Ele já foi o responsável pela manutenção das viaturas do quartel. E fez um trabalho tão bem feito que a cidade parou de receber novos veículos, por seus antigos estarem impecáveis.
Contudo, um novo ciclo começava em sua vida no refeitório do batalhão. A forma como a divisão dos alimentos era feita o incomodava. Ele lembrava que, em Angola, o general e os soldados comiam juntos. Então ele se matriculou no curso de Gastronomia e pediu para auxiliar na cozinha. Em pouco tempo o então soldado da infantaria virou comandante do local, profissionalizando quem lá trabalhava e desenvolvendo um cardápio que oferecia aos militares, entre outras coisas, sete tipos de salada.
Foram 18 anos servindo a Pátria.
Mas o último desejo de seu pai mudou a sua vida. Vindo de uma família de políticos – como deputados federais e vereadores – o Sr. Mário Vieira, que era suplente de vereador, pediu para que o filho tentasse concorrer à vereança. Almir acatou. “Meu pai era o meu herói”.
Filho de um dos fundadores do PSDB na cidade, Almir Vieira – que estava se preparando para sair em outra Missão de Paz, dessa vez no Haiti (MINUSTAH) – recebeu uma proposta do ex-deputado Jean Kuhlmann para se candidatar a vereador. Honrando a promessa que fizera ao pai, ele pediu licença do quartel, já como terceiro sargento, e aceitou o desafio.
Na época os candidatos tinham 90 dias para fazer campanha. Com a decisão em cima da hora, Almir teve apenas 30. Kuhlmann entregou a ele cerca de 5 mil santinhos e alguns adesivos. A única exigência de Almir foi que no material de campanha constasse ‘filho do Mário da Farmácia’. Uma homenagem ao seu tão estimado pai.
O ano era 2008 e ele não levou a eleição a sério, mas impôs uma meta em sua cabeça: se fizesse mais de mil votos, se candidataria de novo. Fez 1081. “Tem uma coisa que eu pago um preço muito alto – que alguns vão entender como fidelidade, alguns vão entender como ser turrão – mas se eu combinei, eu tenho que cumprir. Eu pago o preço”, afirma.
Acendeu uma vela para agradecer e voltou para o quartel. Foi quando o então prefeito João Paulo Kleinübing convidou-o para trabalhar na prefeitura. Ele aceitou. Mas não foi fácil. O serviço público é diametralmente diferente do regrado serviço militar. Ele era pragmático e sempre queria entender as razões pelas quais as coisas aconteciam. Isso incomodou muita gente, que tentou boicotá-lo de várias formas, chegando a mudar seu local de trabalho para uma sala com um vidro enorme em um verão e sem ar-condicionado. Mas ele não retrocedeu.
Foi falar com JPK, que entendeu a situação e lhe deu condições para trabalhar. Em dois anos ele bateu todos os recordes de pavimentação da Secretaria de Obras e desmantelou muitos esquemas de empresas que lucravam indevidamente com o Poder Público.
Portanto, em 2012, foi candidato a vereador novamente. E fez 4,2 mil votos. Com a ajuda de apenas três amigos, ele percorreu a cidade e superou a marca dos 3,6 mil votos necessários para eleger um vereador, porém, não foi eleito.
Mesmo tendo sido prejudicado, ele ainda foi inocentemente envolvido em situações das quais, como ficou provado, ele jamais fez parte. E isso só o fortaleceu. Ele não iria recuar.
Foi assessor do então deputado estadual Jean Kuhlmann por dois anos e depois auxiliou o então deputado federal João Paulo Kleinübing. Entendendo que o partido onde estava tinha pouco espaço de manobra para si, mudou para o PP. Onde se candidatou, em 2016, e venceu.
Desde então são cinco anos como vereador. O soldado que deixou a farda, mudou em muitos aspectos. Outros, como a valorização do trabalho em grupo e a valorização do outro – não mudaram. Ele entendeu que o mundo não é o quartel e que as pessoas não são soldados. Eles esperam acolhimento. Um sorriso. Um bom dia. Um abraço. Isso foi difícil para ele, afinal, no Exército não existe meio termo. Se um oficial lhe der uma ordem, só há duas respostas: sim ou não. Ninguém responde “talvez” quando o comandante manda se levantar.
Entretanto ele aprendeu. E a prova disso está no Projeto de Lei que combate a pobreza íntima feminina. É um assunto complicado para um homem sequer entender em um primeiro momento. Mas a demanda foi trazida a ele e, com a ajuda das mulheres do gabinete, ele compreendeu e elaborou o PL, que fez questão que tivesse as vereadoras Silmara e Cristiane Loureiro (PSDB) como co-autoras.
Algumas característica, no entanto, ele não vai mudar. Pode ter compreendido que as pessoas esperam acolhimento e se moldado a isso, mas honra quem confia em si, como um bom soldado. “Essa função aqui não é para nós, é para quem está lá acreditando no nosso trabalho”, diz, afirmando que sua maior dificuldade como parlamentar é ser autêntico, do tipo que não manda recados, “Se tu tens o direito de apontar o dedo pra mim, eu também tenho o direito de apontar o dedo pra ti [...] se eu tiver que falar, eu falo, e isso incomoda muita gente”, finaliza.
Quando perguntado onde espera estar daqui a cinco anos, ele responde sem rodeios: aposentado, pescando e fazendo comida. “Eu quero deixar a minha marca na sociedade como vereador, a princípio, nesses dois mandatos”, afirma.
“Posso tentar alçar vôo em outra condição (verás que um filho teu não foge à luta, não é), mas me projetei para dois mandatos, mas quem sabe? Se for da vontade da grande maioria, posso tentar um Legislativo Estadual e até mesmo a Majoritária Municipal”, continuando, “A partir de agora – do momento que eu terminar o ciclo de dois mandatos de vereador – a minha missão está cumprida no meio político”.
Ele acredita que novas esferas da Política necessitem de algo novo. Mas não ‘novo’ que desconhece o assunto, mas sim um ‘novo’ com bagagem. Alguém com experiência, mas exercendo um cargo pela primeira vez. E ele se mostra pronto. “Meu maior patrimônio hoje, no meio político, é um só: minha palavra”, finalizando, “A pessoa acreditar que eu tenho palavra, para mim já basta. Porque já começou a mexer na minha essência”.
Seus projetos, enquanto vereador, são muitos e atingem todas as áreas possíveis. Desde os pet shops, que agora podem se cadastrar como MEI, até o descarte ambientalmente consciente do óleo de cozinha. Mas, infelizmente, alguns bons projetos foram vetados.
O ‘Lar Legal’ era um projeto de sua autoria que envolvia a escritura de terrenos. Foi podado. Outros municípios, até menores que Blumenau, seguiram o exemplo e estão com até 15 mil escrituras entregues. Outro projeto chamado Minha Casa Legalizada, contou com o apoio da AMMVI e do CREA, visava obter as plantas dos imóveis onde seus moradores estavam há muito tempo com verba do Governo Federal. Não teria nenhum custo para o município. Mas não passou.
“O exercício de Direito das pessoas acaba por vaidade política”, lamenta.
Ainda há outro projeto – de um heliponto na Prainha – mas esse artigo já ficou longo demais. Foi cerca de uma hora de conversa compilada, aqui, em aproximadamente 2 mil caracteres.
Para o vereador: Em qualquer lugar, não importa quão longe esteja. Basta que haja uma missão. E, com todo respeito , decoro e boa vontade: ADSUMUS.