Bolsonaro se aproxima do PP

Bolsonaro se aproxima do PP
Foto: Divulgação

Friday, 02 July 2021

Frustrado o desejo de criar o próprio partido, o presidente busca agremiação para abrigá-lo na disputa pela reeleição, mas enfrenta resistências ao seu comando após consultar seis legendas.

Diante da frustração do desejo de criar o próprio partido, o presidente Jair Bolsonaro não esconde mais a possibilidade de se filiar a uma legenda política já existente para concorrer à reeleição ao Palácio do Planalto no ano que vem.

No entanto, o mandatário tem encontrado dificuldades nas negociações com algumas siglas pela exigência de querer atuar como o “mandachuva” das agremiações. Bem estruturados, os partidos resistem em abrir mão de tudo o que construíram simplesmente para acomodar o novo filiado.

Nos últimos meses, o presidente conversou com líderes de pelo menos sete legendas: PL, Republicanos, PTB, Patriota, PRTB, PP e PSL, último partido ao qual se filiou. Bolsonaro sinalizou a todos eles que gostaria de ter a liberdade de indicar nomes para comandar os diretórios das agremiações nos estados, o que lhe daria mais poder para definir estratégias visando ao pleito de 2022.

Em contrapartida, foi avisado de que as siglas não estão dispostas a tomar uma decisão tão arriscada como essa, que seria capaz de mudar a identidade e o perfil do partido.

“Não vejo a hora de decidir o partido, mas não é decisão minha”, reconheceu o presidente a apoiadores na semana passada. Na ocasião, o chefe do Executivo ainda reclamou que “ninguém quer entregar o osso para a gente, querem entregar só o casco do boi, nenhum ossinho com tutano querem dar para a gente”.

Nos últimos dias, o senador Flávio Bolsonaro anunciou sua desfiliação do Republicanos para ajudar o presidente nas negociações por um novo partido. O parlamentar quer estar na mesma legenda do pai durante as eleições do ano que vem. No momento, a sigla que está mais próxima de contar com os Bolsonaros dentre os seus filiados é o PP.

A agremiação tem importantes aliados do chefe do Executivo no Congresso Nacional, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente nacional do partido, um dos defensores do mandatário na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID.

Jogam a favor do partido o fato de Bolsonaro já ter sido membro do PP no passado e a articulação feita por Lira e Nogueira ao longo de 2020 para que o governo conseguisse construir uma base de sustentação no parlamento com o Centrão. Era a estratégia para aprovar matérias de interesse do Planalto e blindar o mandatário de qualquer processo de impeachment que possa ser aberto no Congresso.

Integrantes do partido apoiam a filiação de Bolsonaro, pois entendem que ele poderia colocar a sigla em outro patamar. “O presidente já foi do PP e certamente seria muito bem vindo, pois é bastante querido. E como o partido está na base de apoio do governo, acredito que seria uma grande aquisição. No nosso caso, não há empecilho algum para a sua volta”, diz o deputado Hiran Gonçalves (PP-RR), um dos vice-presidentes nacionais do PP.

Quem tem conduzido as tratativas com o mandatário é Ciro Nogueira. Há duas semanas, o presidente falou sobre o interesse do senador e sinalizou com a possibilidade de retornar ao PP. “Fui do PP dele por muito tempo. Ele (Ciro) quer que eu retorne ao Partido Progressistas. Quem sabe? Se ele for bom de papo, quem sabe a gente volte para lá. É um grande partido”, afirmou o mandatário, durante um evento no Piauí.

Por mais que saiba da vontade do PP em abrigar a sua candidatura no ano que vem, Bolsonaro não está com pressa de bater o martelo. O presidente avalia que o processo de escolha de um partido vai ser o aspecto menos importante para definir o seu desempenho nas urnas em 2022. Afinal, devido à influência política que tem atualmente, o mandatário conseguiria manter o seu eleitorado mais fiel mobilizado independentemente de a qual legenda ele esteja filiado.

Preço alto

Apesar disso, na avaliação de cientistas políticos, o presidente precisa colocar um ponto final nessa questão o quanto antes. Caso ele deixe para decidir às vésperas do prazo mínimo de seis meses, – estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que um político seja filiado e possa disputar as eleições, as exigências da legenda para abrigar o mandatário podem ser muito altas.

“Quanto mais ele adiar a decisão, mais vai encarecer o preço político dos partidos. Como Bolsonaro estará em sentido de urgência, qualquer negociação terá um custo maior. Ou seja, os partidos tentarão obter mais verba ou indicações para órgãos do governo. O ideal é que Bolsonaro resolvesse logo essa pendência jurídica para ter um horizonte mais tranquilo para organizar a campanha”, analisa o cientista político Geraldo Tadeu, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os analistas políticos também observam que a preocupação de Bolsonaro em querer assumir uma posição de comando nos partidos pode atrapalhar os planos dele para as eleições. Para o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais, “é muito ruim um presidente da República gastar o tempo de reeleição, ainda mais na situação em que Bolsonaro está, com alta rejeição e a popularidade corroendo, querendo controlar um partido”.

Nesse momento, segundo Ribeiro, o presidente precisa “é de uma legenda com capilaridade, já estabelecida, que facilite as articulações para a construção de uma coligação. Se ele não se atentar a isso, não conseguirá se mobilizar de forma tão efetiva”, pondera.


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Redação

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