Assessores de Bolsonaro admitem esquema no Ministério da Saúde
Foto: DivulgaçãoTuesday, 06 July 2021
Segundo senadores, o novo discurso do governo tem "lacunas" e "incoerências".
Diante do avanço das investigações da CPI da Covid, assessores do presidente Jair Bolsonaro mudaram o discurso e já admitem, reservadamente, que grupos teriam montado um esquema para se beneficiar financeiramente dentro do Ministério da Saúde durante o enfrentamento da pandemia.
Um auxiliar presidencial ouvido pelo blog afirma que informações sobre esse suposto esquema já circulavam no governo, mas ainda não havia provas da conduta dos envolvidos.
Foi por isso, segundo ele, que o Palácio do Planalto decidiu exonerar o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias, após a denúncia de que o servidor teria cobrado propina ao negociar vacinas.
Ainda de acordo com esse assessor, o governo decidiu agir preventivamente, mesmo sem provas de envolvimento do ex-diretor. A decisão foi baseada justamente nas informações anteriores de que grupos estariam atuando de forma irregular.
Em 2020, o então ministro Eduardo Pazuello chegou a sugerir a demissão do diretor por causa de suspeitas de irregularidades. Na época, pressões políticas impediram a saída de Dias.
A mudança no discurso dentro do Palácio do Planalto faz parte de uma estratégia para blindar o presidente da República, Jair Bolsonaro.
Incialmente, o governo tentou desqualificar as acusações, inclusive o presidente. Agora, Bolsonaro tem repetido que não tem condições de saber de tudo o que acontece nos ministérios.
Senadores da cúpula da CPI da Covid acreditam que a comissão descobriu um esquema de corrupção dentro do Ministério da Saúde, que pode envolver assessores nomeados por aliados do governo no Congresso e militares indicados para postos na pasta pelo ex-ministro Eduardo Pazuello.
O esquema estaria atuando não só na compra de vacinas, mas também em outros contratos no ministério.
'Lacunas' e 'incoerências'
Segundo senadores, o novo discurso do governo tem "lacunas" e "incoerências".
Uma delas está no fato de o presidente Jair Bolsonaro não ter pedido a investigação imediata das denúncias levadas pelos irmãos Miranda, considerando que já havia informações prévias sobre esse esquema no Ministério da Saúde.
Outra incoerência está relacionada ao fato de o governo ter tentado, como primeira reação, desqualificar as acusações do chefe de importação do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda.
Miranda afirmou à CPI que apontou, em conversa com Bolsonaro no Palácio da Alvorada, pressões para assinar uma licença de importação que permitiria um pagamento antecipado que não estava previsto no contrato de compra da vacina Covaxin.
A CPI da Covid quer esclarecer se o Palácio do Planalto sabia ou não dos esquemas no Ministério da Saúde. O governo nega que o presidente soubesse, mas a comissão acredita que o presidente tinha conhecimento – levando em conta o depoimento do deputado Luís Miranda.
Nele, o parlamentar disse que Bolsonaro teria dito que as denúncias de irregularidades poderiam ser mais um "rolo" do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados.