CPI da Blumob não tem futuro algum

CPI da Blumob não tem futuro algum
Foto: Divulgação

Tuesday, 13 July 2021

A comissão natimorta respira por aparelhos. Ex-sonho de Naatz e conquista de Wagner, tem em sua composição maioria governista o que, na prática, quase a anula.

O ano era 2015. O responsável pelo transporte público em Blumenau era o Consórcio Siga. Seu serviço não era dos piores – tampouco dos melhores – mas constantes atrasos em pagamentos de salários geravam greves praticamente mensais. Era um transtorno para a sociedade e um constrangimento para o Executivo.

A prefeitura então decidiu fazer, via Seterb, uma obscura interferência no consórcio sob o pretexto de arrumar suas finanças. Pouco depois de devolver o comando a seus reais administradores houve uma paralisação geral no transporte coletivo municipal. Na época de natal. Os envolvidos com a empresa afirmavam que haviam gastado a verba destinada ao pagamento de salários.

Em janeiro de 2016 o contrato com o Siga foi rompido e a autoviação Piracicabana – através do Grupo Comporte – assumiu a função. Na época as pessoas estranhavam o fato de tantos ônibus já estarem na cidade sem que ninguém saber e antes do rompimento com o Siga.

Os veículos trazidos pela Piracicabana eram velhos e, não raramente, quebravam na rua. Foram diminuídas escalas, horários e pontos de ônibus. O documento que lhes autorizava a funcionar era – talvez por ser um contrato emergencial – repleto de benefícios à empresa. Benefícios que o Siga nunca teve. Muito pelo contrário. A prefeitura assumiu todos os ônus que, na época do Siga, eram de obrigação do consórcio.

A relação era tão incestuosa que até mesmo outdoors fazendo propaganda da empresa a prefeitura espalhou. Divulgação de uma empresa privada com dinheiro público.

O péssimo serviço logo virou motivo de comentários. Reclamações e piadas eram cotidianas. Vídeos de ônibus quebrados na rua ou em péssimo estado de conservação tornaram-se rotineiros. A empresa havia manchado seu nome. Tornou-se, então, Blumob.

O então vereador e hoje deputado Ivan Naatz propôs uma CPI. Ninguém teve coragem de ir à frente de combate e, portanto, nosso transporte público continua o lixo que é.

Contudo, anos depois, o desrespeito às medidas de distanciamento social necessárias devido à pandemia, o pedido de um subsídio obsceno por parte da Blumob para a prefeitura e a não construção de uma garagem exigida por contrato foram o suficiente para que os vereadores Carlos Wagner (PSL), Tuca Santos (Novo), Bruno Cunha (Cidadania), Victor Iten (PP), Silmara Miguel (PSD), Adriano Pereira (PT) e Gilson de Souza (Patriota) requererem a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a empresa.

No começo a notícia parecia boa. Uma investigação poderia responder muitas questões em aberto como a época em que o Seterb administrou o Siga, sob quais condições a Blumob chegou à cidade e porque a empresa tem tantos benefícios.

Uma acareação bem feita também podia citar o deputado estadual Júlio Garcia (afastado da presidência da Alesc durante a Operação Alcatraz) que auxiliou o ex-prefeito Napoleão Bernardes quando presidente do TCE na questão Blumob e Nenê Constantino (empresário citado na Operação Lava Jato). Se bem revirada, essa investigação poderia chegar a ex-senadores.

Mas não é isso que vai acontecer.

A expectativa era de que a CPI fossem formada por Wagner, um vereador governista e outro vereador de oposição. Mas a composição coloca o famoso Alemão da Alumetal com Marcelo Lanzarin (Podemos) e Alexandre Matias (PSDB)... ambos governistas.

Então, apesar do desgosto da maioria, sabemos que a CPI não terá grande utilidade e que, certamente, a Blumob vai escapar novamente. Saudade de Ivan Naatz.


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Ricardo Latorre

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