Em evento do MBL, plateia faz coro por Moro

Em evento do MBL, plateia faz coro por Moro
Foto: Divulgação

Monday, 22 November 2021

Candidatos da Terceira Via reforçam proposta de candidatura única.

Durante evento organizado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) neste fim de semana em São Paulo, pré-candidatos à Presidência da República que se definem como de terceira via reafirmaram a intenção de se reunir em torno de uma única candidatura do campo. O afunilamento seria definido ano que vem, a partir das pesquisas eleitorais, caso os levantamentos mostrem que um desses candidatos tem mais condições de fazer frente ao presidente Jair Bolsonaro e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O 6º Congresso do MBL reuniu, na sexta-feira, quatro presidenciáveis: os governadores tucanos João Doria (São Paulo) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), que disputam neste fim de semana as prévias do PSDB, o ex-ministro da Saúde de Jair Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luiz Felipe d'Avila (Novo). Neste sábado está prevista a participação do ex-juiz Sergio Moro (Podemos). A senadora Simone Tebet (MDB), também considerada possível candidata ao Planalto, cancelou de última hora a ida à conferência .

Doria foi contundente em sua apresentação, no fim da tarde de sexta. Num discurso inflamado, chamou Lula e Bolsonaro de "criminosos." À vontade, o governador, no entanto, não encontrou um ambiente completamente favorável a ele. Em um momento de constrangimento, teve de ouvir um coro de "Moro, Moro, Moro" após um membro da plateia perguntar-lhe se ele abandonaria sua candidatura ao Planalto para apoiar outra melhor posicionada em pesquisas. Ele respondeu que "não pode haver projeto individual nas eleições de 2022" e insinuou resposta positiva para o questionamento.

— Nós temos que ter o candidato que seja viável para mudar o Brasil e capaz de aglutinar contra os extremos. Os extremos (representados por) Lula e Bolsonaro. Eu estarei ao lado do Brasil e dos brasileiros. Havendo uma candidatura fortalecida, é nela que nós todos temos que estar agregados, e juntos — declarou Doria, arrancando aplausos.

Além de ouvir o apelo pelo nome de Moro, Doria foi confrontado com críticas de participantes ao fim do painel, que também teve a presença do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do vereador Rubinho Nunes (PSL), este último liderança do MBL. Chamado de autoritário e questionado sobre sua "capacidade" como presidenciável por um homem da plateia, o governador rebateu as acusações e afirmou que "se nos dividirmos, não vamos vencer".

No sábado, sob gritos de apoiadores, Sergio Moro ressaltou que não se deve esperar dele um discurso de ódio contra outras candidaturas e voltou a dizer que mesmo no Centrão há pessoas boas com quem se pode conversar.

— Vou dizer com muita humildade. Queremos aglutinar, trazer outras pessoas, somar e evitar extremos. Se somos ou não o melhor nome a população é que poderá discutir isso e deliberar — afirmou Moro, que anunciou que percorrerá o país para discutir o projeto de governo que está construindo com especialistas desde que se filiou ao Podemos.

Ele defendeu ainda a necessidade de diálogo:

-- Tem que conversar com todo o mundo. E em todos os partidos, esquerda, direita, centro, centrão, tem pessoas boas, tem pessoas com as quais se pode conversar e construir um projeto -- disse.

— Ninguém tem um projeto de si mesmo. Não são só nomes (..) Um projeto que desperte o sonho das pessoas. Ouço que (os eleitores) querem evitar pesadelos, mas eleição é uma época de sonho, de fazer o país ir adiante.

O ex-juiz disse decidiu se candidatar depois de ficar na iniciativa privada à espera de uma candidatura que o "deixasse tranquilo". Falou que não se arrepende de ter participado do governo de Jair Bolsonaro e disse que sequer sabia quem ele era em 2017, quando condenou Lula na Lava-Jato. Durante a conversa com o apresentador Danilo Gentili, centrou críticas no PT, ao afirmar que a Petrobras foi saqueada "como nunca antes na história deste país" e lembrar que o partido de Lula enfrentou também a investigação do Mensalão, ambas ligadas à corrupção e à compra de apoio político.

Na sexta-feira, além de Doria, os presidenciáveis Mandetta, Leite e d'Avila foram aplaudidos todas as vezes em que sugeriam recuar da própria candidatura em prol de outra melhor posicionada no mesmo campo da terceira via. Sobre Moro, evitaram criticá-lo diretamente, mas sugeriram que ele deve apresentar propostas para temas além do combate à corrupção e que precisa mostrar poder de articulação política.

'O Brasil é quase ingovernável'

— O Brasil é quase ingovernável. É difícil, depende muito da capacidade de articulação. Capacidade que eu espero que o ex-ministro possa demonstrar. Se tiver agenda que se afina com a nossa e mais capacidade eleitoral, não tenho nenhum problema de construir convergência — disse Leite.

Os presidenciáveis miraram as críticas a aspectos econômicos que julgaram desastrosos no governo Bolsonaro, e passaram ao largo de temas como fome, pobreza e desigualdade social — centrais na crise econômica aumentada pela pandemia. Entre os assuntos discutidos, D'Avila defendeu privatizar a Petrobras, Mandetta criticou o Auxílio Brasil por não dar uma "porta de saída" para o programa, e Leite mencionou, como diferencial para a corrida eleitoral, o fato de ser gay.

Assim como Doria, Leite e todos os outros presidenciáveis no local, o MBL apoiou Bolsonaro em 2018 e agora busca se aliar ao nome mais viável fora da esquerda para tirar o presidente do poder. Ainda que lideranças do movimento, como Kim Kataguiri (DEM) e Arthur do Val (Patriota), digam que ainda não têm candidato ao Planalto, Moro é o nome considerado mais simpático ao grupo.

Kataguiri afirmou que um palanque com Do Val disputando o governo de São Paulo, e Moro a presidência, seria um cenário desejado em 2022. Neste caso, o grupo apoiaria o candidato do Podemos mesmo com lideranças do MBL estando em outros partidos. Hoje, eles estão dispersos em cinco siglas.

Segundo Kataguiri, a candidatura de Do Val ao Palácio dos Bandeirantes é "quase inegociável", o que mantém o grupo de malas prontas para deixar o União Brasil (fusão do DEM com o PSL) caso não haja espaço para lançá-lo ao cargo em 2022. Atualmente, o novo partido tenta seduzir o ex-governador Geraldo Alckmin, ainda no PSDB, para seu projeto eleitoral.

— A gente conversa com o União (Brasil) para ter um apoio para a candidatura do Arthur. Pessoalmente, seria mais cômodo para mim e para o Rubinho, porque ele já está no PSL e eu já estou no DEM, então a gente continuaria no mesmo partido. Dando errado isso, o plano seria ir para o Patriota — afirmou Kataguri.


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Redação

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