PEC pode gerar R$ 850 bi em precatórios não pagos até 2026

Monday, 29 November 2021
Cálculo foi divulgado nesta segunda (29) pelo órgão ligado ao Senado. PEC limita pagamento anual das dívidas da União e é principal aposta do governo para obter verba o para Auxílio Brasil.
A Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado, divulgou um cálculo nesta segunda-feira (29) segundo o qual a PEC dos Precatórios pode gerar uma "bola de neve" de R$ 850 bilhões em precatórios não pagos até 2026.
Precatórios são dívidas da União reconhecidas pela Justiça. Em agosto, o governo enviou ao Congresso Nacional uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que limita o pagamento anual dessas dívidas. A versão em discussão também muda o período de inflação a ser considerado no teto de gastos.
O texto já passou pela Câmara dos Deputados e está em discussão no Senado.
A PEC dos Precatórios é a principal aposta do governo federal para bancar o programa social Auxílio Brasil. Segundo cálculos da equipe econômica, se aprovada, a PEC deve abrir espaço superior a R$ 106 bilhões no orçamento.
"Não se sabe, até o momento, o tratamento a ser dado aos precatórios não expedidos. O risco é a criação de uma espécie de 'limbo', em que o precatório não existiria (já que não terá sido expedido), mas, sob o aspecto econômico, representaria uma dívida para a União", afirma a IFI.
O valor de precatórios a ser pago em 2022, por exemplo, cairia de R$ 89,1 bilhões para R$ 43,7 bilhões, e a diferença, de R$ 45,4 bilhões, seria postergada (virando uma dívida do governo) ou paga somente por meio de um "encontro de contas". Caso os credores tenham alguma dívida com o governo, por exemplo, poderiam usar esse crédito dos precatórios.
Auxílio Brasil
Um dos objetivos do governo, com a PEC dos precatórios, é pagar um benefício de caráter permanente do programa Auxílio Brasil — criado em substituição ao Bolsa Família.
Sem a definição de uma fonte permanente de recursos para esse pagamento, o texto alteraria também um dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que determina essa compensação.
Alguns auxiliares do presidente Jair Bolsonaro defendem que o melhor seria manter o auxílio emergencial no próximo ano, evitando, com isso, a exclusão de mais de 22 milhões de pessoas da rede de assistência social em um momento de aumento da fome no país.
Teto de gastos
A proposta também muda o período da inflação a ser considerado para o cálculo do teto de gastos, que limita as despesas da União.
Essa alteração geraria um espaço adicional que, junto com a limitação de precatórios, atingiria R$ 106,1 bilhões ao todo.
Segundo o Ministério da Economia, desses R$ 106,1 bilhões, R$ 48,6 bilhões já estão comprometidos com:
- correções obrigatórias;
- gastos mínimos para saúde e educação;
- limite para os demais poderes.
Efeitos negativos
De acordo com a IFI, a solução discutida por meio da PEC dos Precatórios não resolveria a questão do aumento das sentenças judiciais.
"Para isso, seria preciso melhorar a gestão de riscos tempestivamente, escrutinar os precatórios já expedidos e investigar as causas estruturais do aumento recente. A medida apenas produziria um contexto de maior facilidade para observar o teto de gastos. Um 'ganho' de curto prazo mais do que compensado pelos efeitos negativos derivados da mudança", acrescentou.
Segundo a Instituição Fiscal Independente, além de gerar uma "bola de neve" de dívidas não pagas, as mudanças propostas via PEC dos precatórios também elevaria o chamado "risco fiscal", ou seja, a percepção negativa dos investidores sobre a saúde das contas públicas.
"Como consequência dos juros mais altos e do quadro de maior incerteza, amplificado pela crise energética, a perspectiva é que o crescimento econômico fique menor do que o indicado no atual cenário base da IFI (1,7% para 2022), mas possivelmente acima do previsto no cenário pessimista (0,1% para 2022)", concluiu.