Bolsonaro viaja à Rússia em meio das tensões com a Ucrânia
Foto: DivulgaçãoMonday, 14 February 2022
Presidente corre o risco de ficar isolado, mesclar-se com líderes de Esquerda e sinalizar a aliados históricos um posicionamento desvantajoso para o Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) embarca hoje (14) em direção a Moscou, onde terá agendas com o presidente russo, Vladimir Putin, empresários e líderes locais nos próximos dias. A viagem ocorre em meio a clima de tensão internacional em razão da possibilidade de a Rússia iniciar um conflito armado com a Ucrânia.
Com ajuda de outros países como Estados Unidos e França, ainda há negociações na tentativa de superar as divergências políticas e evitar o início de uma guerra que, de acordo com especialistas, pode gerar instabilidades na Europa e no mundo. A invasão, no entanto, pode ocorrer a qualquer momento, segundo afirmou Antony Blinken, secretário de Estado norte-americano.
Bolsonaro foi aconselhado a cancelar ou adiar a ida à Rússia, mas decidiu ignorar os alertas e manteve a programação inicial —ele ficará em Moscou até quinta-feira (17), dia em que também visitará a Hungria para encontro com o primeiro-ministro Viktor Orbán.
No sábado (12), o governante brasileiro destacou que considera a viagem importante porque o país depende da Rússia para importação de fertilizantes. E também fez um pedido de paz: "A gente pede a Deus para que reine a paz no mundo para o bem de todos nós".
Bolsonaro e Putin devem se encontrar na quarta-feira (16), no Kremlin, sede do governo local. O visitante terá que se adequar a um rígido esquema de controle sanitário imposto pela autoridade russa. Foi solicitado que os integrantes da comitiva brasileira façam até 5 testes do tipo RT-PCR para detecção do vírus da covid-19. Um deles seria realizado entre três e quatro horas antes da agenda.
Acompanhado de ministros e auxiliares, Bolsonaro chegará à capital russa na tarde de terça-feira (15). O mandatário do Palácio do Planalto confirmou que pretende realizar uma live após o desembarque.
Bolsonaro estará com Putin em pelo menos dois momentos na quarta. O primeiro será um encontro de recepção, durante a manhã, seguido por breve conversa entre os dois líderes. Posteriormente, Bolsonaro e outros membros da delegação brasileira participariam de um almoço no Kremlin, de acordo com o planejamento do Itamaraty.
Além das agendas com o presidente russo, Bolsonaro também participará de compromissos com representantes do Parlamento russo e com empresários da área do agronegócio. Uma das pautas mais relevantes, do ponto de vista da delegação brasileira, é a comercialização de fertilizantes e insumos fundamentais para o desenvolvimento da agricultura.
Frias é cortado
No sábado, o Planalto informou ter cancelado a participação do secretário especial de Cultura, Mário Frias, na comitiva. O ex-ator viajaria junto com o presidente Bolsonaro, mas acabou sendo cortado em razão da repercussão negativa da passagem de Frias por Nova York, em dezembro do ano passado.
Na última sexta, o Ministério Público Federal pediu ao TCU (Tribunal de Contas da União) para investigar as despesas de Frias e do secretário-adjunto, Hélio Ferraz, durante a viagem a Nova York.
Tensão mundial
A possibilidade de uma guerra entre Rússia e Ucrânia levou preocupação a toda a comunidade internacional. Líderes do Ocidente têm ameaçado o presidente russo, Vladimir Putin, com a aplicação de sanções severas caso o conflito aberto seja instalado. O chanceler alemão, Olaf Scholz, falou em sanções imediatas "reações duras". O Kremlin, apesar das ameaças, mantém um amplo contingente militar nos arredores da fronteira com a Ucrânia.
Segundo afirmou hoje o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, a invasão pode ser confirmada antes do final dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, em 20 de fevereiro. Ele destacou, por outro lado, que ainda tem expectativas para que soluções diplomáticas sejam encontradas.
De acordo com o jornal The New York Times, os EUA obtiveram informações que a Rússia está discutindo a próxima quarta-feira (16) como a data prevista para o início.
"A maneira como eles [os russos] construíram suas forças, como eles manobraram as coisas, torna real a distinta possibilidade de que haverá uma grande ação militar muito em breve", declarou Sullivan em entrevista à CNN.
Putin conversou ontem com o presidente americano, Joe Biden, sobre a situação na fronteira. O líder russo foi advertido quanto aos "custos severos" que o gigante europeu enfrentaria se invadisse a Ucrânia.
Putin, por sua vez, disse que a suspeita de um ataque contra a Ucrânia era uma "especulação provocativa".
A crise surgiu depois da mobilização de mais de cem mil militares russos para a fronteira com a Ucrânia há várias semanas.
Moscou tem negado reiteradamente que queira atacar a antiga república soviética, mas exige certas garantias na questão da segurança, entre elas que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não admita entre seus membros a Ucrânia, um ponto inegociável para o Ocidente.