Cuidado: número de mulheres assediadas em redes sociais cresce

Cuidado: número de mulheres assediadas em redes sociais cresce
Foto: Imagem meramente ilustrativa

Thursday, 12 April 2018

Desde pretensos fotógrafos até falsos agenciadores de modelos, esse é um tipo de criminoso que tem se multiplicado por ser muito pouco denunciado.

Eu provavelmente não conheço você. Não sei se é homem. Mulher. Se casou com alguém ou mantém um relacionamento. Mas quero acreditar que tem bom senso. Que prioriza o respeito. E por isso, mais do que uma denúncia, esse artigo é um alerta.

Vamos – mesmo que apenas por um instante – deixar o proselitismo e o partidarismo de lado. Tentemos ignorar os conceitos ideológicos do “meu corpo, minhas regras” e más práticas culturais como “se é gata, eu assobio mesmo”. Procuremos, pelo menos nesse espaço, nos ater à prática. Ao dia-a-dia. Ao que 'é' e não ao que 'deveria ser ou não'.

Em 2014 eram 104,7 milhões de mulheres no Brasil de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Esse número equivale a 51,6% da população do país. Mais de 100 milhões de pessoas que são obrigadas a conviver com medo de estupros, aturar comentários inadequados e, às vezes, se submeter a relações abusivas por não verem opções.

Todas as mulheres têm sonhos. E que bom que têm. Algumas das mais jovens se imaginam como atrizes famosas ou modelos. E é justamente aí que mora um grande perigo.

Sempre se ouve falar de pessoas que se passam por agenciadores, produtores televisivos, olheiros de moda ou caça-talentos para concursos de beleza que usam os sonhos dessas moças contra elas. Às vezes o abuso é físico. Íntimo. Às vezes, financeiro. Sempre, criminoso.

Agora voltou a correr uma história – verídica – que existe desde 2014 sobre um sujeito que aborda garotas por redes sociais se oferecendo para fotografar seus pés. Pois é. Pés. Conheci algumas pessoas que tiveram contato com o sujeito e ouvi histórias que, por não saber se são verdade, não são publicáveis. Mas nos últimos dias houve uma comoção no Instagram contra ele dizendo que o rapaz chegava a chamar de racista as moças que não queriam posar para ele.

Mas ele não é o único. Há muito criminoso – e doente – que espera uma chance para se aproximar de mulheres vulneráveis. Às vezes alguém que perdeu um ente querido, um animalzinho ou está passando por uma fase ruim. O que deveria suscitar o espírito altruísta em uma pessoa saudável, se manifesta como oportunismo predatório nesse tipo de ‘pessoa’.

Mas não acontece só em redes sociais, apesar de essas serem territórios mais propícios.

Você é uma menina alternativa, tem tatuagens, piercings e quer fazer um ensaio sensual? Muito legal. Mas antes de ouvir qualquer um se informe. Saiba, por exemplo, que no site Suicide Girls apenas MULHERES podem agir como recrutadoras. Até porque isso evita problemas com assédio.

Deseja fazer um book com fotos mais ousadas? Que ótimo. Pode fazer muito bem para a sua autoestima. Mas procure um estúdio sério. Pesquise. Não acredite naquele fotógrafo do Facebook que faz um ‘preço camarada’, mas não tem equipe e muito menos reputação.

Seu sonho é ser modelo? É um caminho longo. Mas muitas meninas conseguiram. Muitas, inclusive, de Blumenau. Trabalhe com profissionais sérios e respeitados. Procure agências grandes e fuja daquelas pequenas que só querem te fazer gastar dinheiro com books que, infelizmente, você nunca vai usar. E lembrem que ‘modelar por permuta’ não é profissional. Busque cursos com profissionais sérios, desenvolva uma carreira e valorize seu trabalho.

Porém se o que você quer está no cinema ou na televisão, a história é bem mais complicada. Grandes produtores jamais parariam alguém inexperiente na rua e diriam “você é a nova Natalie Portman”. Eles têm longos catálogos. Qualquer canastrão bêbado pode prometer colocar uma jovem ingênua no BBB, mas quantos podem mesmo cumprir essa promessa? Estude. Conheça escolas de teatro (como a Cia Carona). Desenvolva-se. Conheça outras pessoas do meio. Crie um network. Mas nunca – JAMAIS – deixe ultrapassarem os seus limites pessoais.

Um "não" é um "não". E ponto final. Você não precisa – e nem deve – se submeter a nada só porque alguém que pode estar mal intencionado teima em insistir. Imponha seus limites.

Como dito antes, eu não conheço você. Talvez seja mulher. Talvez tenha irmãs. Filhas. Todos os sonhos podem ser alcançados se bem planejados. Mas é sempre importante que tomemos cuidado para que pessoas mal intencionadas não tentem se aproveitar. Principalmente dos mais jovens. Se você se esforçar VAI alcançar seu sonho. Não precisa se submeter a nada que não queira.

Um scouter que não sabe ouvir um ‘não’ não é um bom olheiro. Um fotógrafo que ressalte invasivamente seus atributos não é profissional. Qualquer um que queira de você algo além do que você quer fazer, não se importa com você. Seu chefe, empresário ou até namorado. Alguém que goste de você vai querer te ver bem mesmo que seja a distância e um visionário que reconheça seu talento vai esperar que você amadureça sem ser inoportuno.

Mas se ocorrer, denuncie. Não importa se o nome for ‘João Paulo’ ou ‘Zé das Couves’. Limite é limite. E ultrapassá-lo incide, quase sempre, em ato criminoso. Então, denuncie.

As forças policiais – Militar, Civil e até Federal – têm muitas mulheres em suas fileiras. Bravas e valorosas moças que já passaram por algum tipo de situação desagradável por serem mulheres. Elas vão entender. E os policiais homens – aqueles que são homens de verdade – também vão entender. O grau de separação do assédio moral para um estupro é menor do que se imagina.

Você pode ligar para o 181 (Disque Denúncia da Polícia Civil), para o 0800-48-1717 (mesmo serviço, mas da Polícia Militar) ou até o Whats dos policiais civis, que é (47) 999.541.809. Você também pode denunciar pela fanpage do 10° Batalhão da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina, na Divisão de Investigação Criminal (DIC) da Polícia Civil ou até na Associação de Fotógrafos de Santa Catarina (Assefop). Se achar mais pertinente o comparecimento presencial, a Delegacia da Mulher de Blumenau fica na Rua Jacó Brueckheimer, 326 (Velha), pertinho do Ramiro.

Pode, se quiser, entrar em contato conosco também que faremos o possível para ajudar você. A única coisa que você NÃO pode fazer é deixar um abusador sair ileso. Porque para você ele foi um incômodo (ou até um monstro), mas para ele você pode ter sido apenas uma de MUITAS vítimas.

Vamos acabar com isso.


>> SOBRE O AUTOR

Ricardo Latorre

>> COMPARTILHE