Caos no Espírito Santo preocupa outros estados

Caos no Espírito Santo preocupa outros estados
Foto: Divulgação

Wednesday, 08 February 2017

O medo é que a ação corporativista que está destruindo a paz capixaba crie precedentes para acontecer em mais estados do Brasil.

Começou no sábado (04/02) no estado do Espírito Santo uma greve iniciada supostamente por parentes de policiais militares capixabas (já que eles, enquanto policiais, são proibidos de fazer greve) reivindicando reajuste salarial, adicional de periculosidade, insalubridade e auxílio-alimentação, entre outras coisas.

Nos quatro dias que se passaram desde o início da greve houve mais de 75 homicídios no estado, além de um aumento exponencial no número de assaltos, arrastões e crimes de menor gravidade como agressões físicas causadas por discussões.

Na manhã desta terça (07/02) um dos soldados da Polícia Militar capixaba fez um vídeo que chegava à beira da dissimulação mostrando dezenas de soldados em prontidão para sair do quartel, mas sendo ‘impedidos’ por centenas de familiares batendo panelas.

Curiosamente, neste protesto em especial, não houve registro da utilização de munição não-letal como balas de borracha e spray de pimenta. Seria porque são familiares de policiais? A regra para eles é diferente às regras aos demais ou isso é prevaricação do Estado?

O caos tem sido tamanho que as ruas da capital, Vitória, tem ficado totalmente desertas: as pessoas evitam sair de casa até para trabalhar, o comércio não está abrindo e escolas dispensaram os alunos.

O Governo Federal enviou um contingente de mil homens das Forças Armadas e mais 200 da Guarda Nacional o que, apesar de aliviar o problema, cria outro: soldados não são treinados para fazer prisioneiros, mas sim para executar seus inimigos. Se um desses criminosos oportunistas e covardes for morto em ação o que vai acontecer? Os Direitos Humanos vão se posicionar em defesa da população desprotegida? Dos policiais militares que trabalham com pouco reconhecimento? Ou do marginal? A pergunta praticamente responde a si mesma.

Evidentemente entendemos que o trabalho de policiais – sejam militares, civis ou federais – bem como o de bombeiros, deve ser remunerado substancialmente e que as condições de trabalho dêem ao agente o máximo de condições para sobreviver.

Contudo é inadmissível permitir que centenas de milhares de pessoas fiquem reféns de uma causa corporativista, até porque no final é o povo vitimado quem vai pagar os salários aumentados. É indiscutível que a vida dos policiais é valiosa e deve ser preservada, mas jamais poderia se colocar a vida da população em risco. Uma vida por outra vida não vale nesse caso.

E soa cínico – ou até mesmo ofensivo – quando esses policiais gravam vídeos mostrando que ‘não podem sair do batalhão porque tem gente na porta’ até porque se fossem outros manifestantes a polícia passaria por cima com seu arsenal que não mata (mas machuca).

Infelizmente há um lado bom nesse caos: o discurso esquerdista de desmilitarização da polícia desmorona quando se percebe que a sociedade praticamente implode sem esses homens e mulheres de valor inquestionável, transformando cidades do tamanho de Vitória e Guaraparí em ‘terra de ninguém’ (que era o nome dado ao espaço entre as trincheiras inimigas na Primeira Guerra Mundial)

Por outro lado, um dos efeitos colaterais mais preocupantes do caos no Espírito Santo é imaginar que a corporação possa seguir o exemplo em outros estados e, dessa forma, o egoísmo inconsequente e corporativista alastre o caos como rastilho de pólvora.

Nos resta apenas aguardar para que a situação seja resolvida o quanto antes e torcer para que a crise capixaba seja apenas um ponto fora da curva e não se repita em lugar nenhum.


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Ricardo Latorre

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