O que a prisão do dono do Guaraná Dolly pode nos ensinar?

O que a prisão do dono do Guaraná Dolly pode nos ensinar?
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Thursday, 17 May 2018

Em um papel improvisado - e incapaz de assumir com hombridade a própria culpa - ele fez o que todos fazem hoje em dia: terceirizou-a, dizendo que foi preso pela Coca Cola (que nem devia saber que ele existia).

A notícia parecia pegadinha, mas não era. O empresário Laerte Codonho, do da marca de guaraná Dolly – aquela das propagandas medonhas – foi preso em sua casa na Granja Viana,  cidade de Cotia (SP) na quinta-feira da semana passada. De acordo com a Polícia Militar, que o encaminhou ao 77º Distrito Policial, Laerte é acusado de organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraude fiscal estruturada que chegaria à cifra de R$ 4 bilhões.

De acordo com as investigações sua empresa teria demitido funcionários e os recontratado em outra companhia para fraudar o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Laerte já cumpre mandato de prisão temporária e a Justiça lhe apreendeu helicópteros e um carro de luxo.

O homem que agora pena por algo pior que as propagandas de péssimo gosto que sua marca fazia, mas que pelo menos – por ora – não está envolvido com crimes políticos ou com a Operação Lava-Jato, foi preso em uma operação que envolveu o Grupo Especial do Ministério Público Paulista para Combate à Formação de Cartel e Lavagem de Dinheiro (GEDEC), a Procuradoria-Geral do Estado e a Polícia Militar.

Ao chegar à delegacia ele exibia consigo um pedaço de papel escrito ‘preso pela Coca Cola’. Obviamente a gigante do ramo dos refrigerantes não comentou a acusação.

Ele foi condenado a 6 anos e 7 meses de prisão e ao pagamento de multa por sonegação de benefícios previdenciários e, assim como ele, Julio Cesar Requena Mazzi (consultor da empresa) e seu ex-contador Rogério Raucci também foram presos.

Nesta terça (15/08) a Justiça prorrogou a prisão de Laerte por mais cinco dias por ser necessária às investigações, já que suspeita-se que os crimes vinham acontecendo desde 1998.

Mas o que a prisão de Laerte – além de ter sido a piada da internet na semana – nos ensina?

A primeira lição é: a Coca Cola é a Coca Cola. Nos anos 90, quando o saudoso chorão da banda Charlie Brown Jr. Dedicava momentos pré-show para xingar a empresa, criaram uma campanha e transformaram Chorão no garoto propaganda. Ou seja, a Coca faz o que quiser.

Ao ir preso – desesperado e consciente dos próprios crimes – Laerte faz uma coisa completamente inconsciente: propaganda de graça para a Coca Cola. E todos sabemos que não existe propaganda mais efetiva do que aquela pela qual não se precisa pagar. Milhões de pessoas viram a foto risível de sua denúncia e, com isso, a Coca Cola foi a única a ganhar.

Mas neste processo de dizer que uma empresa o incriminou, ele nos ensina algo muito triste: há uma tendência crescente em terceirizar a culpa para que não assumamos nossos próprios atos.

Se o Lula foi condenado por uma instância a mais do que se sabia existir no país, a culpa é do Moro, que foi ‘treinado pelo FBI’ para qualquer argumento imbecilóide usado por alguém incapaz de aceitar a culpa lógica de um ex-presidente. Se o deputado Jair Bolsonaro mantém um clã sustentado por cargos eletivos, tem péssimo preparo e geralmente diz coisas que não deveria dizer não é sua incapacidade diplomática, é a mídia golpista e de esquerda. Seu youtuber favorito fez besteira? Ele está sendo vítima de perseguição. Duas pessoas brigam no trânsito e, por acaso uma delas é homossexual? Homofobia.

Pelo amor de Deus, senhores, vamos parar de distorcer os fatos para fugir da realidade. Verde sempre vai ser verde mesmo que você chame de lilás. Assumamos nossas responsabilidades e deixemos que esse vitimismo patético siga sendo apenas uma ‘tendência’ passageira.

Todos erram. Você erra. Eu erro. O BLUMENEWS erra (e, inclusive, publicamos um pedido de desculpa no único artigo equivocado publicado por um colunista já desvinculado a nós em 2014). Errar é humano. Aprender com o erro é inteligente. Moro não é da CIA, a posição política da Globo tem mais a ver com as orientações de seus dirigentes do que com dinheiro e a Coca Cola não mandou prender Laerte Codonho. Apenas aceitemos isso e sigamos.

Quanto antes assumirmos nossos próprios erros, antes podemos corrigi-los e nos tornarmos pessoas melhores. E, como todos sabem, pessoas melhores fazem um mundo melhor.

Então vamos olhar mais para nossos próprios atos e menos para os atos do vizinho. Quem tem o dever de fazer isso são Justiça, Polícia e Imprensa. A nós – enquanto indivíduos – resta apenas o auto-aprimoramentos. O nosce te ipsum (conhece-te a ti mesmo, em grego).

Porém, se você é blumenauense roxo, dane-se Coca, Pepsi, Tubaína ou Dolly: beba Thom Cola.


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Ricardo Latorre

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