Projeto de empresa dentro de unidade prisional completa 10 anos
Foto: DivulgaçãoWednesday, 18 July 2018
Aproximadamente 80% dos apenados que passaram pela Unidade Prisional de Indaial participaram do projeto “O trabalho que reacende”.
O Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), que apresenta os últimos dados oficiais divulgados, mostra que a população carcerária brasileira quase dobrou em 10 anos. Passou de 401,2 mil para 726,7 mil, de 2006 a 2016. Em todo o país, há 368 mil vagas, o que significa uma taxa de ocupação média de 197,4%. Em uma realidade carcerária preocupante, iniciativas dentro das unidades prisionais para melhorar o cotidiano dos apenados podem fazer a diferença.
Santa Catarina tem um projeto que completa 10 anos em 2018. Em Indaial, a Taschibra, uma das maiores indústrias de iluminação da América Latina, possui convênio e uma unidade da fábrica dentro da Unidade Prisional Avançada (UPA). A iniciativa, chamada de “O trabalho que reacende”, está com 75 apenados trabalhando.
Bruno Ricardo Alves Paes é um desse apenados. Há oito meses detido, ainda tem mais um ano de pena para cumprir. “Sem o projeto seria complicado porque não teria como ocupar a mente de maneira positiva. Aprendendo e trabalhando vou sair daqui um cidadão melhor”, fala. Darbi de Mattos Siqueira ainda tem cinco anos de pena pela frente. Desde que começou a trabalhar se sente diferente. “Aprendi a ser mais calmo, mais paciente, a conviver com o próximo”, relata.
A mudança no comportamento dos presos mudou a realidade dentro da Unidade Prisional de Indaial. “O trabalho deixa a rotina dentro da unidade mais tranquila. Além disso, o projeto inverteu uma situação: antes as famílias ajudavam quem estava aqui dentro. Agora, quem está aqui se sente útil e ainda consegue ajudar a família com o salário que recebe, um salário mínimo por mês”, diz o diretor da Unidade, Ricardo da Silva Morlo.
Como funciona o projeto
O projeto “O trabalho que reacende” funciona como uma extensão da fábrica. Sempre que um produto é lançado, um funcionário da empresa vai até a UPA de Indaial para treinar os apenados na linha de produção. São produzidos diversos tipos de luminárias, somando aproximadamente 1,5 milhão de peças por mês.
Os detentos são responsáveis por todo o processo, desde a montagem dos circuitos até a colocação nas embalagens. O produto sai pronto para ser vendido. O material necessário para produzir as peças é levado diariamente para a unidade e caminhões buscam os produtos prontos até quatro vezes por dia. O que é produzido na Unidade Prisional de Indaial passa pelo setor de qualidade, assim como tudo o que é feito na linha de produção da empresa.
Os detentos dedicam 42 horas da semana para “O trabalho que reacende” e recebem um salário mínimo por mês. A cada três dias de trabalho, um é descontado da pena. “Desde o ano passado, o projeto funciona em um novo espaço dentro da unidade, com uma estrutura com 400 metros quadrados que melhora ainda mais as condições de trabalho de quem participa do projeto”, conta o gerente de patrimônio da empresa, Renato Grahl.
Desde 2008, aproximadamente 85% das pessoas que passaram pela unidade trabalharam. O Senhor Benvindo Bonacolsi, de 65 anos, acompanhou e trabalhou no projeto desde o início. “Eu participei da implantação, fazia de tudo e adorava trabalhar. Cumpri minha pena e saí há três meses. Agora trabalho como jardineiro e tenho certeza que tudo o que aprendi no projeto faz muita diferença na vida que levo hoje”, ressalta.