Qual a diferença entre hotel, pousada e hostel?

Qual a diferença entre hotel, pousada e hostel?
Foto: Divulgação

Friday, 31 March 2023

Especialistas e viajantes abordam as diferenças entre as estadias e as experiências que cada uma promove.

Um dos pontos altos na hora de montar o roteiro de viagem é escolher qual hospedagem será a “casa” do viajante durante o período de descanso. E o tipo de hospedagem está diretamente ligado ao formato da viagem, uma vez que existem inúmeras opções de estadia que contemplam diferentes objetivos.

As mais comuns são o hotel, a pousada e o hostel, mas, como escolher entre os três tipos de hospedagem da melhor maneira possível? Conversamos com especialistas que explicaram as especificidades de cada estadia e com viajantes que relataram suas experiências nos três tipos de acomodações.

Hotéis

A ocupação dos hotéis urbanos atingiu a marca de 59,2% no acumulado de janeiro a outubro de 2022, porcentagem que se igualou ao patamar registrado nos mesmos meses de 2019 - período anterior ao início da pandemia da Covid-19. Os dados são do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (FOHB).

O professor adjunto do Departamento de Turismo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Lucas Gamonal, explica que das três opções, o hotel é a mais tradicional.
“Se formos observar, em uma realidade que não é só no Brasil, mas de todo o mundo, nós temos uma maior sensação de segurança em hotéis”, diz o especialista. “Não só porque comumente são edificações mais verticalizadas, mas também porque têm tamanho maior, e costumam oferecer mais serviços e facilidades.”

Lucas ainda explica que essa sensação de segurança maior está atrelada, especialmente, às grandes redes de hotelaria, chamadas de “bandeiras”. “As redes hoteleiras, inclusive internacionais, que têm renome, dão uma chancela que oferece uma maior sensação de segurança.”

Para a turismóloga e coordenadora da Escola de Hotelaria do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de São Paulo e Região (Sinthoresp), Janaína Cavallin, explica que a diferença na oferta de serviços, decoração e infraestrutura do quarto de um hotel, assim como a qualidade e diversidade das opções de alimentação e lazer, será determinada a partir do nível da empresa.

“Entendendo por nível se é um hotel mais luxuoso ou mais popular”, afirma. A especialista ainda explica que uma forma de avaliar a qualidade do hotel é verificar sua qualificação de estrelas.

“Em um hotel mais simples, com menos estrelas, uma gama menor de serviços são ofertados [mas em contrapartida, ele] é mais econômico. Já em um hotel mais luxuoso, com mais estrelas, os serviços podem ser mais sofisticados e exclusivos, e assim, maior valor agregado na diária”, diz a turismóloga

Na classificação de estrelas, a coordenadora afirma que uma estrela categoriza um hotel como “econômico”; de duas a três estrelas, a categoria é “hotel turístico”; de três a quatro estrelas, a estadia é categorizada como “turística superior”; “hotéis de negócios” também recebem quatro estrelas; por fim, aqueles que têm cinco estrelas são considerados "de luxo".

“Independentemente da classificação, os hotéis devem oferecer um ambiente limpo, seguro, que seja agradável ao hóspede, e propicie uma estadia tranquila, seguindo as normas que regem a categoria e os serviços turísticos”, acrescenta a especialista.

A experiência de se hospedar em um hotel

O analista de sistemas, Carlos Amaral, de 57 anos, é um tipo de hóspede que dá preferência a hotéis em suas viagens. Ele justifica a decisão porque, ao conhecer um novo destino, preza pelo conforto e pelo café da manhã incluído.

“Não gosto de sair procurando onde tomar café da manhã, o que me faria perder tempo”, afirma ele.

Carlos conta ainda que sua melhor experiência com o tipo de estadia foi quando conheceu Santiago, no Chile , em 2005. Na ocasião, ele escolheu uma cadeia espanhola de hotéis chamada NH.

"Em 2016 estive também em Montevidéu (Uruguai) , no Hotel Dazler, que também foi uma ótima experiência em termos de conforto”, afirma o analista. Na contrapartida, a pior experiência foi em Londres , em 2004, em um hotel que, na avaliação de Carlos, “de tão ruim nem deve mais existir.”

Ele diz que já realizou inúmeras viagens pela Europa, “quase que anuais, mas sempre ficando em hotéis.”

“Em Portugal , onde tenho família, existe uma modalidade conhecida por lá como 'residencial', que corresponde aqui no Brasil a um hotel de duas estrelas com excelente custo benefício, limpo e razoavelmente confortável”, diz.

Pousadas

Sobre as pousadas, a turismóloga Janaína Cavallin explica que este tipo de acomodação é mais intimista, mais simples na estrutura e diversidade de serviços, e geralmente menor em quantidade de unidades habitacionais, mas, a especialista aponta fatores positivos nessa organização.

“Isso pode contribuir para que o local tenha seus encantos peculiares. Algumas pousadas podem ser, inclusive, temáticas ou acompanhar características típicas do local onde estão instaladas”, explica Janaína. “Outro atrativo das pousadas é que, por conta do menor número de unidades habitacionais, o atendimento acaba sendo mais personalizado, e o ambiente pode se tornar mais aconchegante, além de geralmente elas estarem localizadas mais próximas a regiões turísticas”.

O professor de turismo Lucas Gamonal faz uma análise semelhante e destaca a característica familiar que essas hospedagens têm.

“Quando olhamos para as pousadas, vemos um perfil de hóspede muito familiar, tanto em relação à administração, quanto em relação às pessoas que procuram pela hospedagem - e não necessariamente famílias completas com pais e filhos, casais também procuram”, explica o especialista.

“As pousadas também costumam oferecer serviços mais artesanais e caseiros, como cafés-da-manhã típicos da região e algumas, inclusive, oferecem até café da tarde. Como a estrutura é menor, também é comum que haja menos hóspedes e isso para algumas pessoas dá uma sensação maior de segurança”, diz Lucas.

A experiência de se hospedar em uma pousada

Para a escritora Luciana Lopes, de 48 anos, a hospedagem em pousadas é “sempre a melhor opção”. Ela justifica sua afirmação apontando que avalia que este tipo de estadia oferece “um ambiente acolhedor, com alimentos artesanais, e foco na produção local”.

“Me sinto bem cuidada. Uma das melhores experiências que tive foi na Casas do Pátio, uma pousada linda localizada no Centro Histórico de Paraty. Além de ficar perto das melhores atrações da cidade, os sócios e todo o staff, são afetuosos. Me receberam com espumante, abraços e mimos”, elogia a viajante.

A escritora relata que tem bastante experiência com hospedagens, pois adora viajar, e os pontos que a mais chamam a atenção na hora de escolher a estadia são “o afeto, o cuidado com os detalhes e a limpeza”.

“Além disso, adoro contar com as dicas preciosas que algumas pousadas compartilham”, acrescenta Luciana. “Em outubro do ano passado estive em Porto (Portugal) , e fiquei em um Airbnb da rede OPC Pool & Fitness, na Avenida Catarina, onde tive indicações maravilhosas, inclusive de um restaurante centenário muito pequeno e poético. Sozinha eu jamais teria o encontrado”.

Outra admiradora das pousadas é a assistente executiva Cláudia Stussi, de 59 anos. Para ela, a experiência é “mais aconchegante, nos aproxima mais da administração do estabelecimento e, com isso, possibilita o atendimento de solicitações especiais”.

A assistente, que também se hospedou na pousada de Paraty, afirma que o local oferece um bar independente, que promove um maior entrosamento entre os hóspedes, o que ela considerou um ponto positivo: “Fiz amigos lá e certamente voltarei outras vezes”.

A viajante, que já se hospedou em um resort em Puglia, na Itália , visitou ainda outras duas pousadas em Natal, no Rio Grande do Norte .

“Lugar maravilhoso e visual perfeito”, exalta Cláudia. “Ficamos no melhor quarto da pousada, com uma decoração maravilhosa. A princípio seriam quatro dias, mas aumentamos para cinco, porque amamos. A pousada é linda, os funcionários superatenciosos e reforçou mais a minha ideia de que uma pousada é sempre muito mais aconchegante do que um hotel”, afirma a assistente executiva.

Hostel

Os hostels são estadias direcionadas a perfis de hóspedes mais jovens, especialmente por sua principal característica, os ambientes compartilhados, como explica o professor da UERJ, Lucas Gamonal.

"Os hóspedes costumam dividir o mesmo quarto, geralmente com seis a 12 pessoas, e até o mesmo banheiro. É um tipo de hospedagem voltada para pessoas que estejam dispostas a interagir com outros hóspedes e, em consequência disso, também com outras culturas”, ressalta o especialista, que também salienta que este tipo de hospedagem costuma ser mais barata, em relação ao preço da diária.

“Muitas vezes não incluem o café da manhã, mas podem oferecer cozinha compartilhada para que os hóspedes preparem suas próprias refeições, o que se torna até mais uma oportunidade de troca entre as pessoas”, afirma Lucas.

Para a coordenadora da Escola de Hotelaria do Sinthoresp, Janaína Cavallin, os quartos dos hostels oferecem uma estrutura bem mais simples do que as duas opções anteriores. “Basicamente são camas ou beliches, e armários para uso com cadeados, para guardar pertences pessoais”.

A especialista enfatiza que as grandes vantagens são “o preço, a possibilidade de troca cultural e as novas amizades”, mas a maior desvantagem pode ser a falta de privacidade, por conta do compartilhamento dos espaços.

“Neste tipo de hospedagem também é comum que aconteçam festas e programações especiais e isso nem sempre agrada todo mundo, em especial o perfil de hóspede corporativo [que está na cidade a trabalho], por exemplo, e que está procurando descansar”, acrescenta o professor Lucas Gamonal.

A experiência de se hospedar em um hostel

O coordenador de viabilidade, Lucas Costa, de 25 anos, é um grande aventureiro e sua predileção pelos hostels se dá por uma “série de fatores”, mas ele enfatiza, ao menos, dois.

“Por ser mais barato que hospedagens convencionais e pelo clima do lugar geralmente com muitas pessoas dispostas a se conhecerem, o que facilita nas viagens que eu faço sozinho”, explica o coordenador, que ainda aponta que as hospedagens que escolhe geralmente são bem localizadas. “Inclusive vou para Santiago, no Chile, em maio e já reservei meu hostel".

Lucas lembra que a melhor experiência que teve neste tipo de hospedagem foi em 2017, quando visitou Florianópolis (SC) na sua primeira vez em um quarto compartilhado.

“Era um hostel com uma vista linda, piscina, muita gente jovem, os atendentes supersolícitos e ainda davam uma caipirinha grátis por dia para os hóspedes no bar próprio do local”, conta o viajante. Em contrapartida, a pior experiência foi no Rio de Janeiro , no ano passado.

“Houveram alguns problemas como falta de água, além da infraestrutura não ser a mesma da anunciada”, explica o jovem aventureiro, que já conheceu outros destinos como Natal (RN), Porto Alegre (RS), João Pessoa (PB), Recife (PE), Olinda (PE), Aiuruoca (MG), Ilhabela (SP), São Sebastião (SP), Ribeirão Preto (SP), Morro de São Paulo (BA) e Salvador (BA) - no Brasil -, e Havana e Varadero (Cuba) - no exterior.

A estudante de engenharia, Paula Moya, de 21 anos, é outra aventureira que já se arriscou no mundo e conheceu muita gente se hospedando em hostel. No momento ela acabou de finalizar um intercâmbio e está nos Estados Unidos.

Antes de visitar o país norte-americano, ela trabalhava em uma siderúrgica como assistente administrativa de planejamento e controle de manutenção, mas largou o ofício para viver a experiência do intercâmbio e por três meses foi bartender.

“Antes de iniciar meu intercâmbio em Utah, fiz um voluntariado em Miami em que eu trabalhava cinco horas por dia em um hostel em troca da estadia. Foi uma das melhores experiências que já tive”, conta Paula. “A vibe de estar hospedada em um hostel é maravilhosa, é um ambiente superdescontraído e que você tem a oportunidade de conhecer e criar relações com pessoas de diversos lugares do mundo, a troca de cultura é gigante”.

A jovem lembra ainda que conheceu pessoas de países como Ucrânia , Itália e Alemanha, o que ela considera ter sido “uma experiência muito única”. Contudo, ela enfatiza que a estrutura compartilhada que os hostels oferecem pode ser um fator negativo em determinadas situações.

“Se alguém quiser, pode mexer nas suas coisas, ao menos que você tranque”, salienta a estudante.

Mecanismos de segurança

Para além das características que diferenciam os tipos de hospedagem, também é importante estar atento a critérios que garantem que a estadia escolhida é minimamente segura.

O professor Lucas Gamonal explica que existe uma plataforma do Ministério do Turismo chamada Cadastro de Prestadores de Serviços Turísticos (Cadastur) que envolve “todos os tipos de serviços turísticos, além de guias, agências de viagem e organizadores de eventos”.

“No portal do Cadastur, há uma opção de consultar prestadores de serviços turísticos cadastrados, o que já é uma chancela de segurança para que hóspedes chequem”, afirma o especialista. “Além disso, toda empresa tem um CNPJ ativo e isso também é um quesito de segurança que pode respaldar a decisão do hóspede na hora de escolher a hospedagem”.

Lucas ainda afirma que as redes hoteleiras internacionais, as "bandeiras", também são um fator adicional de segurança, a depender da estabilidade da rede.

“O nome de uma marca consolidada atrelada à hospedagem confere credibilidade para muitos clientes. É a garantia que há uma administração que está respaldada por um critério global”, diz o especialista.

O acadêmico também ressalta a importância das online travel agencies (agências de viagens on-line), como a Tripadvisor e a Booking.com.

“Nelas as pessoas fazem as avaliações das experiências. Essas avaliações contemplam não só um relato, como também fotos e pontuação para determinados quesitos, o que vai ranqueando os meios de hospedagem. Isso acaba sendo bastante importante para que os clientes façam uma consulta prévia e entendam se a hospedagem irá atender às suas expectativas ou não”, afirma.

A turismóloga Janaína Cavallin também reforça a importância de dispositivos de segurança nas hospedagens.

"Informe-se sobre questões como se há monitoramento de câmeras de segurança no local, se há equipe de segurança permanente, como é o acesso às áreas do hotel e às acomodações privativas, se tem extintor de incêndio, portas de emergência, se há protocolos de higiene, iluminação, brigada de incêndio, rede de proteção nos andares mais altos, e sinalização/comunicação visual dos locais, em caso de uma emergência”, diz a especialista.

“No hostel, verifique também se há armário com chave ou que possa ser trancado com cadeado, para pertences pessoais. Isso é muito importante em quartos compartilhados”, finaliza.


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