Conheça o secretário de Turismo Ulysses Kreutzfeld

Conheça o secretário de Turismo Ulysses Kreutzfeld
Foto: Rick Latorre

Tuesday, 15 April 2025

Em um bate-papo descontraído, o secretário mostrou que tem uma visão muito mais madura e promissora que vai muito além de projetos populistas e midiáticos.

No começo de abril, estivemos no Parque Vila Germânica, onde tivemos uma agradável conversa com o secretário de Turismo, Ulysses Kreutzfeld, e com a adorável assessora de imprensa, Camila Sepka.
Berço da Oktoberfest – uma das mais famosas e importantes festas populares do Brasil –, Blumenau enfrenta novos desafios na área turística, como ir além dos eventos sazonais, aumentar ainda mais seu atrativo aos visitantes e capacitar aqueles que os atenderão.
Para tal desafio, o prefeito Egídio Ferrari (PL) escolheu um conhecido empresário do setor.

Com vasta experiência em atender ao turista – como é o caso da Cerveja Blumenau e do Bier Vila –, além da montagem do próprio Museu da Cerveja, Kreutzfeld sempre participou do trade turístico que conversa com os candidatos à prefeitura, expondo as necessidades e expectativas dos empresários do ramo.
Então, na última campanha, Ferrari pediu que eles sugerissem um nome – e Kreutzfeld foi o escolhido.

Ele entende Blumenau como uma cidade com forte potencial turístico, mas que ainda não é uma cidade turística. Para mudar isso, ele acredita que parcerias público-privadas sejam capazes de fazer a iniciativa privada compreender as deficiências do Poder Público, enquanto expõe suas demandas e capacidade de resolução rápida ao Executivo.

Para ele, o fundamental é construir um turismo qualificado e que consiga manter o fluxo de visitantes de janeiro a dezembro, encontrando novos caminhos e fazendo com que os investidores percebam as oportunidades que a cidade oferece. Mas, para isso, Blumenau precisa de um plano: um olhar que seja capaz de se estender no longo prazo.

Ele crê que a Oktoberfest – que avalia como nosso cartão de visitas – deva ser preservada e prestigiada, mas que o turismo blumenauense deve ir muito além da nossa maior festa.
“Nós temos o turismo de negócios, que vem voltando com força no pós-pandemia, diversos eventos que estão retornando, novos eventos que estão surgindo, mas a gente tem algumas outras frentes que a gente não se atentou ainda... E o Vale Europeu, as nossas cidades vizinhas, elas encontraram valor e têm se apropriado muito bem disso”, aponta.

Como exemplo, ele cita o cicloturismo e o turismo de caminhada, que trazem visitantes com um tíquete médio-alto, pois são pessoas que vêm com tempo, fazem seu próprio roteiro, com seus interesses individuais e disposição para fazer a economia local girar. Ele destaca a Nova Rússia e a Vila Itoupava como importantes players nesse cenário e finaliza:
“A gente tem o Parque Nacional da Serra do Itajaí... Lá tem um roteiro que é chamado de Volta ao Parque Nacional, que está sendo capitaneado pelo CIMVI e que a gente está assinando esse convênio pra que a gente faça parte... O Parque está entre nove municípios, e a volta vai ser por esses nove municípios: ela começa em Blumenau (o primeiro dia) e o segundo dia termina em Blumenau também. Ou seja, só numa volta dessas, a pessoa provavelmente chega um dia antes, dorme, no outro dia sai pedalando, pedala o dia inteiro em Blumenau, passa pra próxima cidade e, no final, ela vai chegar em Blumenau novamente... e muito possivelmente vai passar mais uma noite... ou quem sabe até duas aqui, pra terminar de conhecer a cidade ou visitar algum outro ponto de interesse que ela tenha visto nesse seu momento... Então só aí a gente já está conseguindo aumentar o nosso tempo médio aqui na cidade”.

Outra possibilidade que Kreutzfeld aponta é o birdwatching: o turismo de observação de pássaros.
São projetos seguros, conservadores e promissores, que visam usar atrações das quais o município já dispõe, com gasto mínimo (como sinalizações, por exemplo), para atrair um turista estrangeiro com um tíquete altíssimo. O que significa: visitante que gasta e é bem educado.

Kreutzfeld acredita na integração com as cidades vizinhas, afirmando que há poucas regiões no Brasil com tantas opções num raio de 70 km — indo do turismo religioso de Nova Trento, com a Madre Paulina, até a praia de Balneário Camboriú, o colossal Beto Carrero World em Penha, as cachaças de Luiz Alves, os parques aquáticos de Gaspar ou as corredeiras de Ibirama.
“Uma cidade não concorre com a outra... Quanto mais tempo a gente conseguir deixar o turista aqui, mais tempo ele vai ter para visitar a nossa região... é um consórcio turístico”, ressalta.

Ao ser indagado sobre a necessidade que Blumenau tem de atrações e aparelhos turísticos volumosos – como o projeto do teleférico do Frohsinn –, ele concorda, mas avalia que é necessário primeiro sinalizar para o investidor, mostrando a seriedade com que a administração municipal tem encarado o turismo e, então, começar a receber e avaliar os projetos.
“Precisamos dar segurança para os investidores”, reforça.

Em sua visão, o investidor tem receio de aportar capital na cidade e, algum tempo depois, ver que os planos de expansão econômica municipais mudaram de foco – como para a indústria –, desvalorizando a aposta (alta) que ele fez. E, para tanto, é necessário que a cidade também demonstre que aposta de forma sólida no turismo.
“A partir do momento que a gente consegue sinalizar isso [...] E como é que a gente sinaliza isso? Mostrando também quais são os movimentos que a gente vai fazer como, por exemplo, o que há na Região Central, o que a gente vai ativar na Prainha? E essa margem esquerda? Uma bela margem... como é que nós vamos interligá-la à margem direita? Vai ter uma passarela?”, exemplifica.

E continua:
“São esse tipo de movimentos... Ali, onde era o Porto Antigo, vai ter uma revitalização de verdade? Que revitalização é essa? Ali na área do Thapyoka, o que vai acontecer? É mais um restaurante ou é outro instrumento? Aquela praça ali, que está um pouco deteriorada, vai ser reformada? E a Rua das Palmeiras, o que vai acontecer com ela?
Então, assim, são essas as respostas que a gente tem que entregar para o investidor, para que ele olhe assim: ‘pô, eu vou fazer um teleférico, beleza’. O cara não vai fazer um teleférico só por fazer. Se não tiver um entorno atrativo, onde o turista possa passar, vamos lá, um dia inteiro caminhando, consumindo, se divertindo, sem pressa pra ir embora... o cara não vai fazer esse investimento.
Porque, convenhamos, não é um teleférico sozinho, isolado, que vai resolver o problema do turismo da cidade.”

“E o cara que está fazendo esse investimento (ou que poderia fazer esse investimento) também sabe disso... Que se ele não tiver esse apoio, esse pensamento, esse planejamento da cidade, até mesmo nos outros espaços... como o espaço do Frohsinn, o espaço da Thapyoka... isso vai ser o quê? É só um restaurante? Ou é um restaurante, uma choperia, um museu, um parque? É cuidar para que uma concessão não acabe se tornando um problema”, finaliza.

Neste momento, Kreutzfeld está desenhando um novo plano de desenvolvimento turístico na cidade, que engloba os municípios próximos, o turismo de negócios e a viabilidade do Centro de Convenções que há tanto se pede.

Ele prioriza o turista de qualidade: aquele cidadão civilizado, disposto a gastar no comércio local e que deseje ficar bastante tempo na cidade – o exato oposto do baderneiro vulgar (às vezes, delinquente) que a Oktoberfest atraía nos anos 90... Gente que vinha e voltava em ônibus no mesmo dia, evacuando e urinando nas ruas e, não raras vezes, cometendo crimes.

Durante a conversa – de forma muito simpática e modesta – o secretário se mostrou surpreso ao saber que seu trabalho já era visto com bons olhos. A verdade é que, nos bastidores, sabe-se do esforço duro que ele tem feito para solidificar o setor turístico na cidade.

Assim como a Educação em um país só cresce quando o investimento maior é feito nas crianças, e o desporto só rende frutos estáveis quando se priorizam as categorias de base, ele tem investido seu tempo e esforço intelectual em garantir que Blumenau tenha um alicerce turístico sólido e firme o bastante para que, aí sim, a iniciativa privada invista em aparelhos suntuosos e (por vezes) exóticos, que tanto encantam visitantes no mundo inteiro.


Conclusão

Ulysses Kreutzfeld é um empresário experiente no setor de turismo. Sua nomeação foi fruto de uma articulação do próprio trade turístico local, mostrando que ele já tinha o respeito do setor antes mesmo de assumir o cargo. Para ele, o caminho é um turismo planejado, qualificado e contínuo — não apenas sazonal.

Sua visão é bastante confortante, porque ele olha estrategicamente, mirando no longo prazo e em trazer turistas qualificados, que queiram estar na cidade em todos os meses do ano.

Além disso, ele mira no subestimado (e incrivelmente promissor) ecoturismo, além de entender o potencial lucrativo de criar um consórcio com as cidades ao redor que, ao invés de competir, se complementam, preenchendo cada lacuna turística que existe quando não estão juntas.

Ele sabe que movimentos faraônicos não podem ser assumidos pelo Poder Público e entende que a iniciativa privada não pode agir sem mínimas garantias de retorno financeiro.
Sua vida pessoal sempre foi discreta e, em seu ramo de negócios, sempre foi um empresário respeitado, com formas inteligentes de potencializar as capacidades do setor onde opera. É um homem técnico, comprometido e modesto, bem-quisto por aqueles com quem trabalha.

Depois dos últimos anos – em que a prefeitura de Blumenau parece ter tido um tumor no lugar da administração turística – sua nomeação foi acertada, e seus planos são excelentes.
Que Blumenau volte a ser o polo atrativo de turistas que já foi um dia. E será.


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Rick

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