Como Hollywood distorce países pouco conhecidos

Como Hollywood distorce países pouco conhecidos
Foto: Divulgação

Wednesday, 02 May 2018

Nem sempre a indústria do cinema atrai turismo às suas locações;;; às vezes contribui para a perpetuação de esteriótipos e falsas informações.

O que passa pela sua cabeça quando você pensa em Bratislava? Muita gente vai lembrar que essa é a capital da Eslováquia. Mas muitas pessoas vão ter na memória uma cena da comédia Eurotrip, que mostra uma cidade completamente destruída e horrorosa, onde poucas moedas de dólar são capazes de comprar os maiores luxos para um viajante. E onde a noite é tão louca que o absinto servido permite, de fato, ver fadas verdes. Tenho amigos, inclusive, que acreditam que o leste europeu seja tão barato a esse ponto. 

Mas esse nem é o pior retrato de Bratislava já visto no cinema. Existe um filme de terror de 2006, chamado Hostel, que mostra um monte de coisas horrorosas acontecendo a alguns caras que ficam hospedados num hostel na cidade. O tal filme nem foi gravado em Bratislava, aliás. Todas as cenas foram feitas na vizinha República Tcheca e os supostos personagens locais do filme falam tcheco, não eslovaco.

Mas esse nem é o pior retrato de Bratislava já visto no cinema. Existe um filme de terror de 2006, chamado Hostel, que mostra um monte de coisas horrorosas acontecendo a alguns caras que ficam hospedados num hostel na cidade. O tal filme nem foi gravado em Bratislava, aliás. Todas as cenas foram feitas na vizinha República Tcheca e os supostos personagens locais do filme falam tcheco, não eslovaco.

Bratislava em Europtrip

onde ficar em bratislava eslovaquia centro velho

Bratislava na realidade

Para piorar a situação, o diretor do filme, Eli Roth (que já gravou um monte de filmes com o Tarantino) fez o maior papelão de dizer que não queria ofender a cidade, mas sim zoar da ignorância dos norte-americanos, que nem sabem onde Bratislava fica no mapa.

É claro que a população de lá não ficou feliz com a repercussão negativa do filme na imagem da cidade. A premissa “falem mal, mas falem de mim” não funcionou nesse caso. Diz a prefeitura que o turismo em Bratislava caiu depois do ano do lançamento do filme.

A Tailândia é outro país que vem a cabeça quando pensamos nessa relação complexa entre turismo e Hollywood. Tudo bem, muita gente procura Phi Phi e a Maya Bay em busca do lugar paradisíaco retratado em A Praia. Mas esse fluxo exagerado de turistas em busca de festa, loucuras e paraíso não é necessariamente benéfico para o país. Assim como a visão de Bangkok retratada em Se Beber Não Case 2 é completamente estereotipada. 

ilhas-phi-phi-tailandia.jpg

Phi Phi Islands, na Tailândia

Não há como negar que existiu um aumento das receitas do turismo por lá depois das produções cinematográficas, pelo menos é o que mostra matéria do Bangkok Post. Mas quando pensamos na quantidade de gente que vai para esse país religioso e tradicional somente em busca de festa e muitas vezes não tem o menor respeito pela cultura local (como o pessoal que fica pelado nos templos), e também como a Tailândia é um país em que a má exploração do turismo tem gerado sérios problemas sócio-ambientais, o retrato criado por Hollywood geraria, talvez, mais problemas que benefícios.

Um empresário indiano afirmou, certa vez, que com a maior certeza do mundo que Rio de Janeiro era igual McLeod Ganj, uma pequena vila no Himalaia onde vive o Dalai Lama. De onde ele tirou esse conceito? Velozes e Furiosos 5. Dizem que as ruas onde ocorre a perseguição de carros eram iguais as dessa pequena cidade indiana.

E o que dizer da revolta das pessoas quando os Simpsons lançaram aquele episódio sobre o Brasil? Aliás, são poucos os filmes que retratam o nosso país para além dos estereótipos, né não?

A questão é que normalmente os impactos negativos não são nem discutidos, a não ser num caso extremo como o de Bratislava. Muitos países têm departamentos de turismo inteiramente dedicados a atrair a indústria cinematográfica para fazer um filme ou série de TV, oferecendo benefícios fiscais e outras regalias para estúdios e produtoras.

Sem dúvida, dá resultado. O maior exemplo é a Nova Zelândia, que usou o lançamento da trilogia do Senhor dos Anéis para se vender como a Terra-Média de fato. Uma campanha de marketing que rendeu bilhões de dólares e milhares de visitantes anuais, segundo essa pesquisa aqui.

O senhor dos anéis na Nova Zelândia

Terra Média ou Nova Zelândia?

E atire a primeira pedra quem nunca viajou por aí e correu para ver algum lugar que apareceu num filme ou série. Mas  o problema não é usar um local diferente ou até mesmo “exótico” como pano de fundo da história, mesmo quando a história é negativa ou o filme é violento. O grande problema é só usar clichês absurdos e mentir sobre a realidade local.

Por mais que produções de ficção sejam, como o nome diz, fictícias. O local retratado é real. Já existe muita informação equivocada e preconceito sobre tantos países no mundo. Se a gente for pensar, normalmente, quanto menos “rico” é o país ou quanto mais distante da cultura ocidental, pior ele é mostrado por Hollywood.

Clichês atrás de clichês vão reforçando uma visão ignorante sobre o mundo. Assim, a África costuma ser retratada como se fosse um único país, e não um continente cheio de contrastes; o Leste Europeu é sempre uma terra de bandidos e prostitutas; a America Latina só tem floresta, favela e tráfico de drogas.

A indústria do turismo é importante para a maioria dos países e, sem dúvida, a cultura pop ajuda a colocar vários locais no roteiro de muita gente. Mas, antes de cortar (ou até mesmo acrescentar) um lugar da sua lista porque você viu num filme, uma boa ideia é pesquisar antes qual é a verdadeira cultura local. Afinal, informação é a melhor ferramenta de um viajante consciente.


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Redação

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