Turistas querem mar, cultura e atravessar as fronteiras

Turistas querem mar, cultura e atravessar as fronteiras
Foto: Divulgação

Friday, 10 September 2021

Operadoras e aéreas voltam a receber demanda para roteiros deste mês a novembro. Cruzeiros marítimos negociam protocolos para oferecer passeios em outubro.

Após 17 meses praticamente paralisado, o setor de turismo, um dos mais afetados pela pandemia de COVID-19, começa a se reorganizar para a retomada gradual de atividades. A Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav) diz que há grande demanda reprimida a ser atendida nos próximos meses. Por sua vez, a entidade que representa os cruzeiros marítimos, Clia Brasil, quer o retorno dos passeios em outubro, com a oferta de 130 roteiros para 14 destinos. Representantes do setor se reuniram com os ministérios do Turismo e da Saúde para discutir as medidas de prevenção necessárias.

Se as projeções das empresas aéreas estiverem certas, agosto terminou com a realização de 70% da malha na qual elas operaram em 2019. O número de passageiros transportados foi de 24,1 milhões no primeiro semestre, frente aos 23,7 milhões de janeiro a junho de 2020, de acordo com o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.

De acordo com dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) compilados pela Abear, a demanda por voos domésticos medida em passageiros/quilômetro transportados (RPK) cresceu 42,5% em julho, na comparação com o mês anterior. Em idêntica base de comparação, a oferta, estimada em assentos/quilômetro oferecidos (ASK) aumentou 39,3%.

Os números representam alento, tendo em vista que durante os primeiros meses da crise sanitária, a malha aérea sofreu queda de 92%. Diferentemente de vários países, o Brasil manteve voos para 44 cidades, 27 capitais e 17 municípios. “A aviação é indutora e topo da cadeia do turismo para um país das dimensões do Brasil. Claramente, o avanço da campanha de vacinação dá segurança às pessoas para retomarem seu desejo de viajar. Majoritariamente, é turismo, férias, praia; secundariamente, são pessoas retomando projetos pessoais e profissionais”, destaca o presidente da Abear.

A expectativa é de que 85% das viagens aéreas realizadas antes da pandemia estejam em operação no primeiro trimestre do ano que vem. “Já as internacionais, creio que somente em 2023 ou 24”, prevê Sanovicz. As agências de turismo e viagens têm identificado, entre as principais mudanças no comportamento do consumidor, maior procura por locais que seguem com mais rigor os protocolos de segurança, como os resorts, que além de oferecer café da manhã, almoço e jantar, incluem no pacote petiscos, lanches ao longo do dia e bebida à vontade.

Evitar o deslocamento em busca de alimentos justifica essa tendência. Pelo mesmo motivo, nota-se um aumento na contratação de transfers/traslados. Esse comportamento foi observado pela Abav em consulta a 2,1 mil agências filiadas. Maior demanda por viagens pelo público já vacinado também foi observada.

Experiências completas de viagem aparecem como serviços mais buscados em julho, seguidas pelo terrestre e pela locação de automóvel, em que as locadoras apontam crescimento de 128% na locação de SUVs. Com famílias de adultos e famílias com crianças liderando o perfil do viajante, as modalidades de resorts, sol e praia, luxo e turismo rural figuraram entre as mais buscadas do mês e apontam para a preferência do público por lugares com protocolos de segurança estabelecidos. A duração da viagem predominante é de cinco a nove dias, de acordo com a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa).

Favoritos Segundo a Abav, o Nordeste é a região mais demandada, conforme apurado, em especial Natal, Maceió, Porto Seguro, Salvador, Fortaleza, Recife, João Pessoa, Porto de Galinhas, Lençóis Maranhenses e Aracaju. Fora desses roteiros, os maiores destaques são Rio de Janeiro, Campos do Jordão (SP), Gramado (RS) e cidades históricas de Minas Gerais.

Na área de viagens internacionais, sobressaem os destinos com menos restrições e abertos para brasileiros, casos de Dubai, México e Maldivas – mas a expectativa é positiva quanto à busca por roteiros nos EUA e na Europa, locais com maior número de consultas. Quanto ao período de embarque, bastante diluído durante o ano, foi registrado aumento na procura deste mês a novembro. Quem tem carta de crédito com empresas marítimas também já busca as agências para garantir lugar na temporada, quando liberada.

Para faturar O aumento da procura por viagens vem sendo observado desde março. Em maio, houve crescimento de 28% em comparação a abril. Quando comparados os orçamentos da primeira quinzena de maio aos da primeira quinzena de junho, o índice cresceu 20% para viagens em setembro, e 14% para dezembro. A expectativa é de fechar 2021 com algo em torno de 70% do faturamento de 2019. Segundo dados da Associação, o ano de 2020 seguiu praticamente sem vendas, com movimento focado em remarcações ou reitinerações.

“Foram meses de muito trabalho e pouca ou nenhuma rentabilidade, que atravessamos graças também à flexibilidade e poder de reação das nossas agências de viagens associadas, que se mostraram mais preparadas diante de uma crise sem precedentes”, afirma Magda Nassar, presidente da Abav nacional.

Magda Nassar vê com otimismo a retomada, que foi “melhor que o esperado”, depois do avanço das imunizações pelo país. O setor, de acordo com a presidente da Abav, prepara eventos abertos para todo o Brasil. “Em outubro haverá a Expo Abav, no Ceará, de onde sairão novos produtos para o fim do ano. São várias campanhas, inclusive de valorização do agente.”

Negócios em baixa

Dados publicados pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (InFOHB) mostram que as cidades e regiões que detêm mix mais equilibrado de viagens a lazer e a negócios e eventos tiveram melhor performance do que os destinos que dependem somente do chamado turista corporativo. O Sudeste ficou com a menor taxa de ocupação anual, de 29,46%. A cidade de São Paulo foi a que amargou maior redução de demanda turística, de 63,9%, seguida por Belo Horizonte, com 57,7% de queda; Curitiba, 55,8%; Florianópolis, 53,7%; e Brasília, 51,2% de retração. O cenário sinalizou novas tendências no setor hoteleiro e de viagens, incorporando os modelos de hospedagem por assinatura e locação de apartamentos para home office, entre outros.

Roteiros internacionais miram Europa e África

Em seu último boletim mensal, publicado em julho, a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), em parceria com a UP Soluções, indicou que no mês, 17% das operadoras chegaram ou ultrapassaram o patamar de vendas pré-pandemia (2019), e 58% ainda não haviam atingido metade do faturamento histórico. Na avaliação feita dos embarques, 82% resultaram de novas vendas realizadas (4% a mais que no mês anterior), e 88% delas tiveram como destino o mercado nacional.

Segundo a entidade, até o fim de agosto, em torno de 42 países mantinham restrições leves para receber brasileiros e, somado ao avanço da vacinação e à agilidade no resultado de testes para COVID-19, formavam um conjunto de fatores que podem ter contribuído para o retorno das viagens internacionais. No dia 1º deste mês, o governo de Portugal abriu suas fronteiras para os turistas brasileiros, depois de 18 meses de restrições. Para entrar no país, é preciso apresentar teste negativo (PCR ou antígeno) para COVID-19. A reação das vendas ficou evidente não apenas pelo faturamento, mas também devido aos embarques realizados. Embora esteja abaixo da média histórica, este último indicador é um dos mais altos dos últimos 15 meses.

As viagens nos períodos de férias, antes priorizadas pela maior parte das pessoas, começam a dar espaço para embarques programados para outros momentos. “Identificamos aumento de 12 pontos percentuais nas vendas fora do período de férias e feriados, em comparação à média histórica (salto de 34% para 46%). A sazonalidade é um dos maiores desafios do turismo. É necessário potencializar as ações que geraram essa modificação do mercado”, explica Rayane Ruas, executiva da área de estratégias da UP Soluções.

A busca por regiões internacionais está muito relacionada aos destinos com restrições leves para brasileiros. O levantamento identificou aumento na busca pela Ásia, Oceania, África, América do Sul e Europa, e redução para América Central, Caribe e América do Norte. Entretanto, mesmo com a redução, a América Central e o Caribe seguem na frente. Os destinos mais vendidos foram Cancun, Maldivas, Punta Cana e Dubai, e aqueles que se destacaram nas buscas mais recentes foram França, Itália e Suíça.

Estar vacinado é relevante para 75% dos viajantes e a flexibilização em relação aos pagamentos e remarcações das viagens estão no topo das prioridades de 74% e 75% dos turistas, respectivamente. “Nosso objetivo é gerar inteligência de mercado a partir de informações das nossas associadas, além de reforçar o papel fundamental das operadoras e dos consultores de viagem neste momento de reconstrução do setor”, disse Roberto Haro Nedelciu, presidente da Braztoa.


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Redação

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