Novo parque de Hollywood em Pequim dribla tensão China-EUA
Foto: DivulgaçãoTuesday, 21 September 2021
Os cerca de cem mil ingressos disponibilizados para o primeiro dia se esgotaram em apenas meia hora.
Depois de vários adiamentos causados pela pandemia, o parque temático do estúdio hollywoodiano Universal em Pequim será inaugurado no próximo dia 20, e a julgar pelo furor inicial visto nas redes sociais e nas bilheterias, o sucesso é garantido e pode ser capaz de revelar áreas de derretimento na nova guerra fria entre China e EUA. Os cerca de cem mil ingressos disponibilizados para o primeiro dia se esgotaram em apenas meia hora, e a enorme procura causou um colapso nos sites e aplicativos de venda.
Num momento de crescente rivalidade entre Pequim e Washington, chama a atenção que um parque que promove ícones do cinema americano faça tanto sucesso entre os chineses, mas não chega a ser uma surpresa. Apesar de chamuscado pelos anos de Donald Trump na Casa Branca, o status dos EUA na China como superpotência da cultura pop resiste às turbulências geopolíticas, como mostra o enorme sucesso de bilheteria de filmes como Minions e Transformers, que estão entre as atrações do novo parque. Entre elas, claro, está o Kung Fu Panda.
A ideia do parque nasceu em 2001, quando as relações entre os EUA e a China navegavam em águas bem mais calmas que hoje. Naquele ano, foi assinado um acordo inicial de cooperação, meses antes da entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) com o apoio dos governo americano, que acreditava que a integração do país à economia mundial conduziria naturalmente a uma abertura política em Pequim. Vinte anos depois, a China tem a segunda maior economia do mundo e o papel do Estado só aumentou.
Mas o parque foi em frente, e se a inauguração da próxima segunda-feira mantém-se imune às tensões políticas, é também por interesse das autoridades chinesas, que veem no turismo um dos grandes motores para impulsionar o consumo doméstico. Há alguns meses Nike, H&M e outras marcas de roupas estrangeiras foram alvo de um boicote incentivado pela imprensa estatal por manifestarem preocupação com relatos sobre o uso de trabalho forçado na colheita de algodão da província de Xinjiang.
Já no caso do parque da Universal, para a China um boicote seria dar um tiro no pé. Construído a um custo estimado de US$ 7,7 bilhões, a nova atração é uma parceria entre a americana Comcast NBCUniversal e uma estatal chinesa de Pequim, que é dona de 70% do negócio. Para facilitar o acesso, o governo local estendeu uma das linhas do metrô até o parque, que fica a cerca de 20 km do centro.
Para o jornal oficial Global Times, um dos mais nacionalistas da imprensa e críticos aos EUA, a popularidade do novo parque é uma prova de que a imagem de uma sociedade chinesa "consumida por sentimentos anti-americanos" é uma fabricação da imprensa ocidental. Para reiterar o momento paz e amor, o jornal cita outros exemplos de sucesso de empresas dos EUA na China, como o parque da Disney em Xangai e a rede Starbucks, que teve aumento de 45% em seu faturamento no terceiro trimestre e continua se expandindo, com 5.135 lojas espalhadas pelo país.
Antes de embarcar rumo a Washington, o novo embaixador da China nos EUA, Qin Gang, esteve entre os convidados que visitaram o parque antes da inauguração oficial. Depois de dar uma volta na montanha-russa, ele comparou o brinquedo às oscilações da relação bilateral, mas num tom de otimismo: "Depois de todos os tombos e trancos, chegamos a um pouso suave", tuitou.