Nativos da Ilha de Páscoa votam contra retorno do turismo

Nativos da Ilha de Páscoa votam contra retorno do turismo
Foto: Divulgação

Friday, 29 October 2021

Território chileno está fechado para visitantes desde março de 2020 e registrou apenas oito casos de Covid-19.

Isolados do restante do mundo desde março do ano passado, os moradores da Ilha de Páscoa pretendem continuar assim. Neste domingo (24), o povo polinésio rapa nui, que representa 60% dos cerca de 10 mil habitantes da ilha chilena, foi às urnas para votar em uma consulta sobre o retorno do turismo. Apesar da baixa adesão (menos de mil votantes), 67% dos nativos optaram por não reabrir o território para entrada de turistas estrangeiros. A decisão, no entanto, ainda cabe às autoridades sanitárias chilenas.

Desde o início da pandemia, a ilha no Oceano Pacífico contabilizou apenas 8 casos de Covid-19, sem nenhuma morte ou hospitalização. Dependente da região de Valparaíso, a Ilha de Páscoa viveu os últimos meses em um isolamento quebrado apenas pelos aviões de abastecimento. Com 73% da população vacinada, a preocupação dos rapa nui ainda se justifica por conta da pequena capacidade do sistema de saúde, já que o centro médico da capital Hanga Roa não possui UTI.

Se, por um lado, a decisão dos nativos também demonstra a insatisfação com o excesso de turistas que visitavam o local antes da pandemia, por outro, afeta a principal atividade econômica da ilha. Conhecido por suas gigantes esculturas feitas em rochas vulcânicas, os misteriosos moais, o destino atrai visitantes de todo o mundo. A overdose de turistas chegou a fazer o Chile restringir as regras de visitação da ilha em 2018 para proteger o patrimônio cultural e ecológico do lugar.

Ilha de Mistério

É difícil imaginar um local mais propício para quem quer se isolar do que a Ilha de Páscoa. A 3.700 km da costa do Chile e 2.075 km das Ilhas Pitcairn, este é o solo mais longe de qualquer lugar povoado do planeta. Partindo de Santiago, são aproximadamente cinco horas de avião. Apesar de distante e com um acesso não muito simples, o destino está frequentemente na lista de "lugares para conhecer" dos turistas, encantados pelos mistérios da ilha.

O mais curioso sobre os moais, cartão-postal da Ilha de Páscoa, é que até hoje não há um consenso sobre como foram feitos os blocos enormes, com um peso de 25 toneladas em média, e como foram parar onde estão agora.

Moai vem da expressão moai aringa ora, que no idioma rapanui signfica “rosto vivo dos ancestrais”. As estátuas não só representavam membros importantes da comunidade falecidos, como herdavam seu mana, a “energia vital”. Há cerca de 900 dessas estátuas megalíticas por toda a ilha, sejam em pé, caídas ou inacabadas.

No auge da cultura dos moais, a Ilha de Páscoa chegou a ter 40 mil habitantes, espalhados por todo o território. Já em meados do século XIX, quando traficantes de escravizados peruanos atacaram a ilha em busca de mão de obra cativa, a população se reduziu a poucas centenas. As músicas e danças tradicionais dos rapa nui, como Kari Kari, Matato’a e Te Ra’ai, dão pistas de sua profunda conexão com os outros arquipélagos do Pacífico e são mais uma preciosidade local.

No entanto, não espere encontrar na Ilha de Páscoa a beleza fácil dos paraísos polinésios, a exemplo de Taiti e Havaí. Os bangalôs sobre água cristalina e peixinhos coloridos dão lugar a descampados e cavalos soltos no pedaço de terra de 166 quilômetros quadrados. Ainda assim, a paisagem é deslumbrante. A topografia é dominada por vulcões, que se erguem como montanhas ou como colinas suaves, alguns com lagos dentro das crateras. No recortado litoral, o encontro do mar rebelde com as rochas escuras, de origem vulcânica, é cinematográfico.


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Redação

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