Eventos que sexualizam jovens serão multados

Thursday, 24 April 2025
Proposta é do vereador Flavinho e foi sancionada pelo prefeito Egídio Ferrari. Abaixo, vamos detalhar a necessidade de tal ação.
Essa semana, o prefeito Egídio Ferrari (PL) sancionou uma lei de autoria do vereador Flavinho Linhares (PL) que multará eventos que promovam a sexualização de crianças e adolescentes em Blumenau.
Na prática, a regra estabelece multas de até R$ 20 mil para quem organizar tais eventos com verba governamental, suspendendo por até cinco anos seu direito de receber recursos públicos e destinando a arrecadação integralmente a entidades cadastradas no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA).
Contexto
No início da experiência humana, os limites entre a infância e a vida adulta eram tênues. O valor de uma pessoa estava exclusivamente atrelado ao seu potencial de trabalho. Algumas sociedades até tinham ritos de passagem, mas, geralmente, a vida na lavoura começava cedo.
Conforme a urbanização – e posterior industrialização – avançaram, a burguesia ganhou força e conquistou diversos direitos, sendo um deles a percepção da juventude como uma fase distinta na vida das pessoas, bem como a valorização do prolongamento dos estudos dos filhos, predominantemente de classes mais abastadas.
Com a consolidação da Psicologia no século XX – e os dedicados esforços de nomes como o educador americano G. Stanley Hall – o conceito de adolescência ganhou força, em parte devido às mudanças socioeconômicas que adiaram o ingresso dos jovens no mercado de trabalho.
Ainda assim, essa fase era vista como problemática e, em resposta, proliferaram-se as escolas, capazes de aplacar tal demanda, educar, disciplinar e impedir que delinquíssem.
Contemporaneamente, tal fase é entendida como um período de experiências, no qual o jovem deve ser protegido em suas vulnerabilidades, incentivado em seus potenciais, desafiado intelectualmente e receber oportunidades. Estudiosos como o psicólogo bielorrusso Lev Vygotsky creem que é justamente nesse período de grande dinamismo e intensas interações sociais que surge o pensamento abstrato e internalizam-se as ferramentas culturais.
Se a Antiguidade aceitava a iniciação sexual dos jovens ainda na puberdade, e a Idade Média manteve o costume no momento em que a Igreja Católica permitiu o casamento a partir dos 12 anos, a Era Vitoriana – com o surgimento do conceito de adolescência – passou a impor regras mais rígidas, que foram se deteriorando com a revolução sexual do século XX e a hiperexposição às redes sociais no século XXI.
No Brasil
Com o fim do Regime Militar – que culminou em uma ditadura – criou-se uma necessidade de liberdade de expressão que compensasse todos os anos de censura, o que resultou, entre outras coisas, na sexualização do entretenimento, desde novelas até programas de humor e auditório. Ou já esquecemos a Banheira do Gugu, o programa Cocktail com Luís Carlos Miele, ou o perturbador concurso infantil para escolher a “mini loira do Tchan”?
À medida que o o Xuxa Hits abria espaço para um som carioca conhecido como funk melody, Claudinho & Buchecha, DJ Marlboro e Furacão 2000 ganhavam enorme destaque na televisão, chegando ao status de “atração da noite” no Superpop de Luciana Gimenez já no século XXI.
E eis que chegamos ao cerne da questão.
Enquanto na Classe Média havia maior preocupação em proteger os jovens da exposição sexual e controlar seu acesso midiático (geralmente televisivo), nas favelas, a falta de privacidade dos lares expunha crianças à realidade sexual adulta, a carência econômica as tornava vulneráveis à exploração íntima, a baixa educação comprometia seu bom senso e a cultura do funk influenciava (e era influenciada) por tal realidade – personificada nas letras explícitas, danças vulgares e costumes insalubres. E isso, ainda nos anos 90.
Quando a cultura do morro desceu às cidades – tal qual visigodos contra Roma – seus maus costumes e sua incivilidade também vieram. Ao invés da civilização subir e ajudá-los, permitimos que eles descessem e nos barbarizassem. Hoje, por conta dessa “invasão”, nossos garotos mal conseguem falar corretamente nossa própria língua e nossas garotas viraram as “novinhas” de algum vagabundo criminoso que, não raramente, torna-se um pai acidental foragido.
A sexualização exagerada – vinda principalmente através do surto coletivo que se convencionou hoje chamar de “cultura” – se dissemina majoritariamente pela música e por eventos onde a vulgaridade sequestra as mentes em formação de jovens outrora promissores.
Isso, claro, sem mencionar os atos de apologia ao crime organizado, como é o caso de Mauro Davi dos Santos Nepomuceno (Oruam), que gerou a necessidade da criação de uma lei contra si.
Opinião
Funk é música de gente burra. Ponto final. Diga o que quiser: meia dúzia de rimas pobres com palavras básicas, cantadas por um desafinado fanho com voz robotizada (para facilitar o trabalho do Auto-Tune) à frente de beats primários que poderiam ter sido compostos por um babuíno entediado, só agrada a pessoas com um processo cognitivo inferior ao de uma batata.
Seus ideólogos são pessoas primitivas que só entendem prazeres básicos como comer e procriar, sendo incapazes de abstrações maiores e grandes contemplações. É sexo, droga, dinheiro de procedência duvidosa e inconsequência, regados à uma glamorização imbecil.
São pessoas incapazes de fazer cálculos simples de risco. É assim que surgem as gravidezes não planejadas e as famílias disfuncionais. É assim que o acidente de moto cria um tetraplégico. Com irresponsabilidade.
Ontem mesmo — no artigo “Audiência sobre ciclomotores vai além do problema do trânsito” — debatemos sobre a necessidade de proteger adolescentes (e, naquele caso, a sociedade) dos riscos que o não-desenvolvimento do córtex pré-frontal pode representar na juventude.
Adolescentes são propensos a acreditar em um influenciador hipócrita que romantiza a vida no esgoto a céu aberto de uma favela enquanto vive numa mansão em Alphaville (bairro de alto padrão em São Paulo). Não entendem a incoerência de uma cantora que critica a monogamia, mas chora quando traída. Defendem um funkeiro que apregoa uma vida de crimes sem perceber que incentivam aqueles que assaltarão sua própria família.
E nem estamos considerando a total acefalia de mulheres que dizem não tolerar serem sexualizadas e, na primeira oportunidade possível, portam-se da forma mais objetificada que conseguem.
Então, sim: nossos jovens devem ser protegidos desse lixo. O prefeito Egídio e o vereador Flavinho não poderiam estar mais corretos. Se você discorda, exponha os SEUS filhos, não os dos outros.
A única dúvida que fica é: por que ainda não temos nossa própria Lei Anti-Oruam?